Ruralistas
pressionam e governo aceita flexibilizar Código Florestal
“É ignorância nossa imaginar que margem
de rio é um santuário”, diz Kátia
Abreu
15/11/2011
– Depois de sofrer pressão de última
hora da bancada ruralista, o governo retraiu em mais um
dos pontos do Código Florestal. O ponto em questão
está relacionado com a recuperação
de Áreas de Preservação Permanente
(APPs) em margens de rios.
Durante
a reunião, que aconteceu no Ministério do
Meio Ambiente, estabeleceu-se que o senador Luiz Henrique
do PMDB-SC, relator do código nas comissões
de Agricultura e Ciência e Tecnologia, deverá
escrever uma emenda que desobrigue a recuperação
de matas ciliares em propriedades que medem entre 4 e 15
módulos fiscais. Com isso propriedades de até
1.500 ha em rios de até 10 metros de largura na Amazônia
poderão ser beneficiadas e em todo país cerca
de 300 mil fazendeiros poderão ficar isentos.
Agência Senado/Reprodução
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O
acordo derrubou a emenda do senador Acir Gurgacz (PDT-RO)
e a do senador Cassildo Maldaner (PMDB-SC), que dispensavam
a reposição de florestas nas margens dos rios
para todos os produtores rurais que desmataram até
22 de julho de 2008. Além dessas emendas, também
caiu a do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) que dizia
que todos os proprietários deveriam reconstituir
as matas ciliares.
Representantes
do agronegócio, entre eles Kátia Abreu (PSD-TO),
se comprometeram com a ministra do Meio Ambiente, Izabella
Teixeira, a aceitar a proposta de Luiz Henrique em relação
às APPs. Mesmo assim as emendas da bancada ruralista
foram expostas.
O
texto proposto pelo PMDB juntamente com o governo previa
a concretização das áreas rurais desmatadas
até 2008, obrigando os proprietários situados
em margens de rios pequenos, com até 10 metros de
largura, restaurar no mínimo 15 metros de matas ciliares.
Para
os ambientalistas o texto não ficou bom, pois ele
vem com uma anistia, já que a versão do código
em vigor hoje data 2001 e sendo assim quem desmatou entre
2001 e 2008 estava ciente do que estava fazendo e agora
terá que repor apenas metade das APPS, a regra atual
diz que são 30 metros de reposição.
A
bancada ruralista também não gostou da redação.
Durante a votação nas duas comissões
do texto-base feito por Luiz Henrique, a senadora Kátia
Abreu destacou a vontade de se dar continuidade à
ocupação das APPs. Tal continuidade está
prevista na polêmica versão do Código
Florestal que foi aprovada na Câmara e, de acordo
com a presidente Dilma Rousselff, seria vetado por ela.
"Os
deputados venceram essa batalha da continuidade da produção
nas APPs por 410 votos. Eles não aceitarão
[o novo texto]. Vamos ver o projeto ser derrubado na Câmara
e a possibilidade de veto da presidente" ameaçou.
"É ignorância nossa imaginar que margem
de rio é um santuário."
De
acordo com fontes do governo, imaginou-se que a proposta
era uma ameaça de estabelecer um recuo e uma demonstração
de poder forçando o veto das emendas ambientalistas,
como as do Rollemberg.
Mas
não foi uma ameaça, como esclareceu o senador
Waldemir Moka (PMDB-MS) em sua fala "Teríamos
hoje voto suficiente para aprovar a emenda do senador Acir
[Gurgacz]. Mas, em favor do entendimento, estamos abrindo
mão de um dos pontos mais importantes".
Agora
o Código seguirá para a comissão de
Meio Ambiente, onde o senador Jorge Viana (PT-AC) afirmou
que acolherá o texto de “consenso” proposto
por Luiz Henrique e de lá seguirá para o Plenário
e voltará para Câmara, podendo ser aceito ou
não.
Das
Agências de notícias
Foto: Lia de Paula/Agência Senado/Reprodução