Futuro
negro para o Brasil?
Mal começou e já registramos um vazamento
de petróleo.
O Pré-sal vem ai.
23/11/2011 - O dano ambiental causado pelo vazamento na
Bacia de Campos pode afetar a migração de
animais marinhos. Além disso, é quase que
impossível mensurar o tamanho desse dano. Especialistas
estão preocupados com aves e mamíferos, que
poderão ser afetados com o acidente no Rio de Janeiro.
Animais
que usam a Bacia de Campos como rota migratória,
tais como as baleias jubarte, minke-antártica, baleia-de-bryde
e entre 20 e 25 espécies de golfinhos e pequenos
cetáceos, encontraram um obstáculo difícil
de ser vencido durante a passagem por lá: o óleo
que havia vazado por pelo menos seis dias. O acidente aconteceu
no poço no Campo Frade, de responsabilidade da Chevron
Brasil e se alastrou por uma superfície de 163 quilômetros
quadrados, tamanho equivalente a 16,3 mil campos de futebol.
O
dano ambiental causado é difícil de ser medido.
O acidente no Golfo do México, provocado por uma
explosão na plataforma de perfuração
British Petroleum, em abril de 2011, derramou 800 milhões
de litros de óleo durante 87 dias.
Salvatore
Siciliano, biólogo e coordenador do Grupo de Estudos
de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos
(GEMM-Lagos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
afirmou que depois do acidente no México, apenas
2% das carcaças dos animais afetados apareceram no
litoral.
“A
nossa informação sobre o impacto do acidente
sempre vai ser muito limitada. A maior parte das carcaças
vai afundar. O que vai chegar à praia é o
piche, que suja o pé. Mas o que está por trás
disso é de uma escala enorme. As empresas têm
de estar preparadas para esse risco. O ônus não
pode caber a todo mundo. Elas têm de monitorar e sanar
o problema”, disse.
Carlos
Minc, secretário de Estado do Ambiente, avistou três
baleias nadando próximo à mancha, uma estava
a menos de 300 metros de distância. As baleias jubarte,
que nadaram em direção à linha do Equador
buscando águas mais quentes para reprodução,
agora precisam retornar ao Pólo Sul acompanhadas
pelos seus filhotes.
“Elas
ainda não voltaram a se alimentar. Estão frágeis
e mais suscetíveis à contaminação.
Esses animais precisam vir à tona para respirar e
podem ingerir esse óleo. O contato com a pele também
pode interferir no isolamento térmico, afetar os
filhotes, que têm ainda menos proteção”,
explicou David Zee, oceanógrafo e professor da Universidade
do Estado do Rio (UERJ).
O
dano gerado pelo vazamento afeta também as aves,
pois acredita-se que elas mergulham na mancha de petróleo
achando ser um cardume.
“Para
as aves, esse encontro com a mancha é fatal. A pena
absorve o óleo. Elas agonizam porque tentam limpar
as penas com o bico e acabam ingerindo o petróleo.
O quadro piora por causa do dano no aparelho digestivo”,
afirmou Siciliano.
Algumas
espécies são migratórias, assim como
os cetáceos. Porém, outras são residentes
do local, como é o caso dos atobás, fragatas
e algumas gaivotas.
Pequenos
O
óleo que permanece na superfície impede as
trocas gasosas do mar com a atmosfera e passagem de luz
solar, afetando o fitoplâncton (organismos microscópicos),
que são a base da cadeia alimentar marinha.
“Há
o impacto agudo, mas o que nos preocupa é essa exposição
crônica aos compostos de petróleo, que são
carcinogênicos. Parte desse óleo evapora e
é inalado. Outra parte afunda, vai ficar no sedimento,
na coluna d’água, vai ser assimilado pelo peixe.
O golfinho ingere esse peixe. É o que a gente chama
de bioacumulação”, elucidou Siciliano.
Siciliano
fez críticas pela falta de planos de contingência
e salvamento das espécies após um acidente
como este. “Estamos às vésperas do Rio
+20 e o Brasil está seguindo na contramão
ambiental muito séria. Voltamos ao tempo do desenvolvimento
a qualquer custo. Estamos pensando no pré-sal, mas
ainda não conseguimos lidar com vazamentos”,
disse o coordenador do Grupo de Estudos de Mamíferos
Marinhos da Região dos Lagos.
+
Mais
A
responsável pelo trabalho no Campo do Frade, a Chevron,
assumiu erro de cálculo na produção.
George Buck, presidente da Chevron Brasil, disse que no
dia sete de novembro, eles foram informados por técnicos
da Petrobrás sobre a mancha de óleo.
Buck,
admitiu que o vazamento aconteceu em uma parte do poço
injetor que está sem revestimento, logo abaixo da
sapata, local onde termina a camada de revestimento e está
a 567 metros de profundidade no subsolo marinho. A extensão
total do poço a partir do subsolo é de 2.279
metros de profundidade e o espelho d’água tem
3.229 metros no total.
Durante
a primeira entrevista desde o ocorrido, Buck, negou que
a empresa estivesse perfurando na profundidade acima da
permitida na concessão para exploração
do petróleo no Campo do Frade.
De
acordo com ele, ocorreu um erro de cálculo na hora
de injetar lama pesada no reservatório para elevar
a produtividade do óleo. "Nós subestimamos
a pressão no reservatório. O peso da lama
foi programado para outra pressão".
O
executivo ainda disse que técnicos da Petrobrás,
enquanto sobrevoavam o local avistaram a mancha de óleo
e avisaram a Chevron. A plataforma que a estatal brasileira
opera está localizada próxima ao local, como
a do campo gigante de Roncador.
Buck
classificou o dia 14 de novembro como o “pior dia”,
já que nesse dia a mancha de óleo na superfície
do mar correspondia a 844 barris de óleo. A mancha
foi avistada um dia após a introdução
de lama para interromper o fluxo de óleo e início
da cimentação do poço. A lama introduzida
no local é um material especial utilizado pela Chevron
no processo de produção. Esse método
visa facilitar a retirada do petróleo.
O
presidente afirmou que com o peso do material, a pressão
do óleo ficou muito grande e o produto ascendeu para
a parte sem revestimento do poço injetor, e foi por
aí que o óleo vazou. Segundo ele, a empresa
está averiguando dois pontos centrais, por que foi
subestimada a pressão e por que houve o vazamento
no poço.
Caso
de polícia
A
Polícia Federal investiga a tentativa da Chevron
de atingir o pré-sal, ocasionando a ruptura de alguma
estrutura originando o vazamento que já dura 11 dias.
A
Agência Nacional do Petróleo (ANP) está
discutindo internamente a possibilidade de a Chevron ter
tentado alcançar a camada pré-sal no Campo
do Frade sem nenhum consentimento. A tentativa teria gerado
a quebra de alguma estrutura do poço perfurador gerando
o acidente na Bacia de Campos.
Ficou
confirmada pela Polícia Federal a investigação
sobre as informações de que a Chevron estava
tentando perfurar acima dos limites estipulados. Fábio
Scliar, titular da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio
Histórico, é o responsável pelo inquérito
e afirmou que “uma das hipóteses com as quais
trabalhamos é a de que o acidente pode ter ocorrido
pelo fato da empresa ter perfurado além dos limites
permitidos”,
Especialistas da ANP acreditam que empresa utilizou uma
sonda com capacidade para perfurar até 7.600 metros.
Sendo que no local, o petróleo aparece a menos da
metade da profundidade. Esse fato gerou indícios
de que a companhia estaria burlando o seu plano de prospecção
do campo.
Outro
fator que a ANP quer apurar é se houve falhas na
construção do poço, o emprego de materiais
de baixa qualidade e/ou inadequados e a falta realização
de testes de segurança antes de começar a
perfuração.
A
companhia possui quatro poços autorizados no Campo
do Frade, e de acordo com o site da ANP um está concluído
e os outros três (6CHEV4ARJS, 9FR47DRJS e 9FR49DPRJS)
estão em fase de perfuração em lâminas
d’água que variam entre 1.184 metros e 1.276
metros de profundidade.
Nilo
Azambuja, ex-presidente da Associação Brasileira
dos Geólogos de Petróleo, disse que as hipóteses
sugeridas sobre as causas do acidente na Bacia de Campos
não podem ser consideradas definitivas, nem mesmo
as que estão sendo investigadas pela ANP.
Azambuja
disse que a Chevron poderia tentar alcançar o pré-sal
sem ter irregularidades. “A área é dela,
se quiser pode ir ao Japão”. Ele ainda acrescentou
que a empresa deve avisar a ANP com 20 dias de antecedência
sobre seus planos de perfuração, detalhando
a profundidade que se deseja chegar.
Para
ele, a teoria mais plausível é que durante
a injeção de água no poço tenha
ocorrido a movimentação do terreno e o petróleo
represado acabou vazando. “Esse é um fenômeno
que pode acontecer. Em reservatórios, o óleo
pode ficar preso numa trapa. Quando a trapa rompe, há
vazamento”, finalizou.
A
PF quer investigar também a suspeita da Chevron empregar
estrangeiros em situação irregular no País.
De acordo com Scliar, há fortes sinais de que pessoas
que não deram entrada oficialmente no Brasil estejam
empregadas na empresa e trabalhando no litoral do país.
“Trata-se
de um ilícito administrativo. Mas é algo sério.
Se isso for comprovado e esses estrangeiros em situação
irregular estiverem recebendo salários no exterior,
por exemplo, já se configura crime de sonegação
fiscal e de sonegação previdenciária”,
explicou.
Sérgio
Cabral (PMDB), governador do Rio, utilizou o vazamento como
argumento para reforçar sua opinião de que
os estados que produzem petróleo devem receber a
maior parte dos royalties, já que são afetados
pela operação.
“Sem
dúvida é um momento de tensão para
o nosso Estado, para a nossa costa, para a fauna. Esse acidente
é a demonstração clara do que significa
um dano ambiental em um Estado produtor de petróleo.
É uma prova de que os Estados produtores devem receber
uma parte maior dos royalties”, afirmou o governador.
Da
Redação
Com informações das agências de notícia
Fotos: Rogério Santana/Divulgação
Ibama/Divulgação