Ministério
Público Federal denuncia Chevron à Justiça
Entenda o caso do vazamento de óleo e a denúncia
do Ministério Público
26/03/2012
– O Ministério Público Federal denunciou
à Justiça a petroleira Chevron, concessionária
do Campo de Frade, a Transocean, operadora da sonda que
perfurava o poço onde houve o vazamento de novembro
de 2011, e mais onze funcionários da Chevron, cinco
da Transocean e uma da Contecom, empresa contratada para
armazenar o óleo retirado do mar.
O
MPF enumerou as causas do acidente e as justificativas para
a denúncia. O documento destaca a rapidez do vazamento
de petróleo que causou danos ambientais e econômicos,
e ainda o risco de câncer em animais e humanos que
poderiam consumir seres marinhos que se alimentam de plânctons,
eventualmente contaminados; quando a empresa decidiu por
não comunicar imediatamente o acidente, permitiu
que o vazamento aumentasse; a Chevron estaria explorando
o poço além de sua capacidade de resistência
das rochas; Chevron e Transocean tentavam explorar a camada
do pré-sal sem ter condições técnicas
e de segurança para esta atividade; apesar da autorização
em contrato, firmado com a ANP, para a exploração
do pré-sal, a empresa deveria ter comunicado o órgão
antes da perfuração; segundo o MPF o plano
de abandono do poço apresentado à ANP continha
informações inverídicas, como a utilização
de equipamento, que sequer havia chegado ao país;
por fim os resíduos retirados do mar foram levados
para uma empresa que não possuía condições
técnicas para destinar o material de forma adequada.
Segundo
a denúncia do MPF, a relação de crimes
cometidos e as penas previstas foram baseadas nos seguintes
critérios:
-
Causar poluição de qualquer natureza em níveis
tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde
humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição
significativa da flora. Se o crime ocorrer por lançamento
de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos,
ou detritos, óleos ou substâncias oleosas,
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis
ou regulamentos, pena de reclusão de um a cinco anos.
- Executar pesquisa, lavra ou extração de
recursos minerais sem a competente autorização,
permissão, concessão ou licença, ou
em desacordo com a obtida, pena de detenção
de seis meses a um ano, mais pagamento de multa, aumentada
de um sexto a um terço se resulta dano irreversível
à flora ou ao meio ambiente em geral.
- Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar,
em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos,
obras ou serviços potencialmente poluidores, sem
licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, ou contrariando as normas legais
e regulamentares pertinentes, pena de detenção,
de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
- Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de
fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante
interesse ambiental, pena de detenção de um
a três anos, e multa.
- Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora
do Poder Público no trato de questões ambientais,
pena de detenção, de um a três anos,
e multa.
- Elaborar ou apresentar, no licenciamento, estudo, laudo
ou relatório ambiental total ou parcialmente falso
ou enganoso, inclusive por omissão, pena de reclusão
de três a seis anos e multa, com pena aumentada de
um terço a dois terços se há dano significativo
ao meio ambiente por causa da informação falsa,
incorreta ou incompleta.
-
Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Se o crime
é cometido contra o patrimônio da União,
pena de detenção, de seis meses a três
anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
Ainda segundo a denúncia do Ministério Público
Federal um conjunto de seis causas foi determinante para
o desastre:
-
Para explorar um poço é preciso injetar substância
com pressão superior a do reservatório, mas
inferior à resistência da estrutura do local.
A pressão injetada faz o petróleo subir;
- Se a pressão não é suficiente, há
o chamado "kick" (quando fluídos da formação
invadem o poço, "contaminando" o petróleo);
- No caso do poço da Chevron, foi injetada lama.
Mas de acordo com a denúncia, ela foi injetada em
pressão inferior a do reservatório, causando
o "kick";
- Foi iniciada então a operação chamada
"bullheading", para fechar (ou "matar",
no jargão petroleiro) o poço;
- Nesse momento, injetou-se lama em pressão superior
à que as paredes do poço suportariam;
- A pressão elevada causou uma explosão subterrânea
no reservatório. O líquido então aflorou
pelas estruturas do poço, por fendas já existentes,
ou por novas fraturas causadas pela explosão;
O MPF descreve ainda cada passo e ação durante
o vazamento no mar:
-
Em 7 de novembro de 2011, a equipe da plataforma identificou
a ocorrência de um "kick" (quando fluídos
do reservatório invadem o poço);
- O equipamento de segurança foi acionado para fechar
o poço, mas não conseguiu conter o vazamento;
- Em 8 de novembro, a Petrobras comunicou aos órgãos
competentes a existência de uma mancha de óleo
"órfã" (sem que se soubesse onde
era o vazamento);
- A Petrobras usou um robô operado por controle remoto
para localizar o vazamento. Encontrou sete fissuras no leito
do oceano, a maior delas com 300 metros de extensão;
- Em 9 de novembro a Chevron comunicou oficialmente a existência
do vazamento;
-
Em 14 de novembro, a empresa estimou a área da mancha
em 163 quilômetros quadrados e o volume entre 570
e 970 barris;
Segundo a Chevron
Em
nota, a empresa afirmou que as acusações são
"ultrajantes e sem mérito" e que a Chevron
e seus funcionários "responderam de forma apropriada
e responsável ao incidente". A nota diz ainda
que não há "nenhuma evidência técnica
ou factual que demonstre qualquer conduta intencional ou
negligente", pela empresa e que não houve "nenhum
impacto ambiental para a vida marinha. Nenhum óleo
chegou à costa do Brasil. Nenhuma pessoa foi prejudicada
em consequência do incidente e não há
base técnica para supor que houve algum risco para
a saúde humana".
Segundo
a Transocean
Através
de uma nota, o porta-voz da empresa Guy Cantwell diz que
a denúncia é "desprovida de mérito"
e que a empresa "agiu com absoluta responsabilidade,
de forma adequada e rápida, colocando a segurança
em primeiro lugar".
Segundo Cantwell, a Transocean e seus funcionários
"fizeram exatamente o que foram treinados a fazer,
sempre mantiveram o controle do poço e o equipamento
da plataforma funcionou perfeitamente".
Segundo a Contecom
A
empresa diz que só irá se pronunciar oficialmente
após receber a denúncia criminal do Ministério
Público Federal (MPF). Por telefone, o advogado da
empresa, Bruno Rodrigues, criticou o fato de a imprensa
ter sido informada da denúncia antes dos denunciados,
na visão dele ação mais grave que o
próprio acidente ou a denúncia a qual a empresa
representa está sendo acusada. "Somente no Brasil
a imprensa fica sabendo antes das partes envolvidas no processo",
afirmou.
Da
Redação
Com informações das agências de notícias
e da Folha de S. Paulo