MP
investiga concessão de licença a condomínio
de vice-governador
A Cetesb havia indeferido licenciamento ambiental para a
construção de um condomínio de 50 casas
na Praia da Baleia, litoral norte de SP
22/10/2012
– O Ministério Público de São
Paulo instaurou um inquérito civil para apurar eventual
ato de improbidade administrativa do vice-governador Guilherme
Afif Domingos (PSD) na obtenção de licença
para construir um empreendimento numa praia do litoral paulista.
O
inquérito foi aberto em portaria de 31 de julho do
promotor Sílvio Marques, com base em representação
da advogada Maria Fernanda Carbonelli à Procuradoria-Geral
de Justiça. A investigação tem ainda
como alvo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(Cetesb) e o Instituto de Botânica, ligados ao governo
estadual, a Sundays Participações, empresa
de Afif, e a KPB Empreendimento, responsável pela
incorporação.
A
Promotoria vai investigar se houve irregularidade na revisão
de ato administrativo da Cetesb, que havia indeferido o
licenciamento ambiental para a construção
do empreendimento de Afif, um condomínio de 50 casas
na Praia da Baleia, região nobre do litoral norte
paulista, numa área de 15 mil metros quadrados.
Na
portaria, Marques determina abertura de inquérito
"considerando que a revisão do ato administrativo,
segundo a representação, está ‘recheada’
de estranhezas e possíveis favorecimentos, tendo
em vista que a revisão da decisão de indeferimento
do pedido teria se dado em virtude de indevida consulta
ao Instituto de Botânica".
Responsável
pelo empreendimento do vice-governador, Edison Kara José
nega irregularidades e diz que a investigação
é fruto de "lobby de vizinhos influentes".
Histórico.
Em dezembro de 2009, quando Afif era secretário de
Emprego e Relações do Trabalho, técnicos
da Agência Ambiental de São Sebastião,
ligada à Cetesb, negaram licença para o condomínio
"em virtude da existência de espécimes
da flora e fauna nativas, ameaçadas de extinção".
A alegação era que o terreno tinha vegetação
paludosa (de brejo), cuja supressão é proibida.
Naquele ano, Afif foi procurado em seu gabinete pelo então
secretário de Meio Ambiente, Xico Graziano, para
discutir a "repercussão política"
do projeto.
Em
janeiro de 2010, a incorporadora recorreu do indeferimento.
Em abril do mesmo ano, Afif, que era pré-candidato
a vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB), foi a uma reunião
na Secretaria de Meio Ambiente com Kara José para
discutir a questão. Na reunião foi decidido
que seria feito novo laudo, desta vez pelo Instituto de
Botânica.
Depois
de nova vistoria, técnicos do instituto concluíram
que a região não tinha vegetação
paludosa, mas floresta alta de restinga. Com base nessa
avaliação, em janeiro de 2011, quando Afif
já era vice-governador, foi emitida a autorização
pela secretaria para construir o condomínio.
Na
denúncia, Maria Fernanda alega que a consulta ao
instituto fugiu dos trâmites normais. Ela anexou aos
autos outros processos nos quais a Cetesb negou licenças
e não solicitou ao Instituto de Botânica novo
parecer.
O
Ministério Público de São Sebastião
já havia entrado com ação contra o
empreendimento, que acabou embargado em 2011. A construção
do Condomínio Praia da Baleia continua parada.
Responsável
por projeto nega favorecimento
O
responsável pelo projeto do qual o vice-governador
é sócio, Edison Kara José, negou que
Afif Domingos tenha usado sua influência para conseguir
a licença para o empreendimento. Ele disse ter havido
"lobby na direção contrária",
de "vizinhos influentes" da Praia da Baleia que,
segundo ele, pressionaram o então secretário
de Meio Ambiente, Xico Graziano, contra o projeto.
"Devido
à sua posição de secretário
de Estado, (o vice-governador) deixou o projeto a cargo
da KPB, que seguiu rigorosamente o determinado pela Cetesb,
como qualquer outro projeto no órgão, sem
qualquer interferência", declarou Kara José
em nota enviada ao Estado pela assessoria de Afif. Nela,
o vice relata ter pedido ao responsável pelo projeto
que respondesse aos questionamentos feitos pela reportagem.
Ele mesmo não se manifestou.
Kara
sustentou que a licença foi indeferida inicialmente
por técnicos da Agência Ambiental de São
Sebastião que, segundo ele, não tinham experiência
técnica em licenciamentos ambientais. Esses técnicos,
de acordo com Kara, substituíam os da Cetesb que
saíram do processo depois de mudanças estruturais
na companhia. Sem expertise, recorreram a um técnico
autônomo que, segundo o responsável pelo projeto,
indeferiu o projeto após uma visita de apenas 15
minutos em uma área de 128 mil m².
Kara
disse que embora a legislação ambiental exija
a manutenção de no mínimo 60% de área
verde no terreno, o projeto preservou 80%, ocupando 20%
do total. Ele disse ainda que Afif atendeu, no início
do processo, a um pedido do secretário de Meio Ambiente
para que reduzisse de 70 para 50 o número de casas
a serem construídas, mas a decisão não
tinha relação com aspectos técnicos.
Cetesb
afirma ter errado análise sobre empreendimento de
Afif
A
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)
afirma ter cometido um "equívoco" ao negar
inicialmente licença ambiental para que uma empresa
do vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) construísse
um empreendimento imobiliário na Praia da Baleia,
litoral norte paulista. A licença acabou concedida
após segunda análise.
O
jornal O Estado de S.Paulo revelou no domingo que o Ministério
Público Estadual abriu um inquérito civil
para apurar se Afif usou sua influência para obter
a licença - ela foi inicialmente negada em 2010 e
depois concedida em 2011.
A
obra em questão é um condomínio de
50 casas litorâneas numa área de 15 mil metros
quadrados. Ela está embargada por decisão
judicial. Responsável pelo empreendimento, Edison
Kara José nega que ela esteja irregular.
"A
revisão do ato administrativo se deu em função
de divergência na classificação da vegetação
da propriedade, que fora inicialmente definida como floresta
paludosa pelos técnicos da Cetesb e não floresta
de restinga", diz a companhia, em nota. "A revisão
do parecer inicial deu-se pelo fato de que a área
considerada equivocadamente paludosa era um alagamento formado
pelo rompimento de um tanque de peixes existente nas proximidades
do terreno, o que resultou no encharcamento da área,
alterando as características da mata."
Especialistas
Segundo
a Cetesb, o Instituto de Botânica foi consultado sobre
o caso - a revisão ocorreu após seu parecer
- porque "possui especialistas com realização
de inúmeros trabalhos com restinga na região
do litoral norte do Estado".
Do Estado de São
Paulo/Fernando Gallo e Julia Duailibi