Biodiversidade
não está tão ameaçada, dizem
biólogos
Cientistas questionam previsões pessimistas. Sob
críticas, biólogos renomados dizem que a biodiversidade
não está tão ameaçada
03/02/2013
– Segundo artigo publicado na revista Science, o número
de espécies no planeta Terra não seria tão
espetacular como vem sendo propagado nos últimos
anos. Da mesma forma que as espécies consideradas
extintas ou ameaçadas de extinção,
pela ação do homem, também não
seria tão grande. O artigo afirma ainda, que com
um pouco de esforço e investimento, seria possível
proteger todas as espécies do planeta ainda neste
século.
Assinado
por três pesquisadores de renome na área, entre
eles o ecólogo Robert May, da Universidade de Oxford,
o artigo questiona, de maneira incisiva e muito otimista,
algumas previsões sobre o futuro da biodiversidade,
na maioria das vezes, consideradas pessimistas demais.
Os
autores baseiam-se essencialmente na revisão da literatura
científica sobre o tema para contestar a crise global
difundida sobre a conservação da biodiversidade
no planeta. Segundo os pesquisadores o número de
espécies terrestres e marinhas, desconsiderando as
bactérias, deverá estar em torno de 5 milhões,
muito abaixo de outras estimativas que avaliam até
100 milhões de espécies.
No
caso das espécies já conhecidas, segundo os
pesquisadores, o número é de 1,5 milhão,
aproximadamente. Já o percentual de extinção
deve ser de 5% por década, contudo, não deve
ultrapassar 1%, na análise dos cientistas.
"Estimativas
superestimadas de taxas de extinção e do número
de espécies são autodestrutivas porque deixam
a impressão de que esforços para descobrir
e conservar a biodiversidade são inúteis".
"Acreditamos que, com um aumento modesto nos esforços
de conservação e taxonomia (ciência
que descreve e classifica organismos), a maioria das espécies
poderia ser descoberta e protegida da extinção.",
disse May a Science, que assina o artigo com os seus colegas
Mark Costello, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia),
e Nigel Stork, da Universidade Griffith (Austrália).
As
polêmicas já começaram. "Acho que
eles estão com uma visão europeia do problema,
excessivamente otimista para a nossa realidade", disse
ao Estado o ecólogo Thomas Lewinsohn, pesquisador
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente
da Associação Brasileira de Ciência
Ecológica e Conservação (Abeco). "Há
muitos buracos negros subestimados no trabalho."
Lewinsohn,
disse ao Estado que ainda não há base científica
sólida o suficiente para cravar essa estimativa de
5 milhões de espécies. "Áreas
muito extensas de países com alta diversidade, entre
eles o Brasil, nunca foram exploradas nem mesmo superficialmente.
E, além disso, os grupos com mais espécies
por descobrir e descrever são especialmente mal estudados
nos países onde a sua diversidade é maior",
afirma Lewinsohn.
Alguns
estudos citados no próprio artigo, segundo ele, estimam
que só o número de espécies de insetos
(artrópodes) em florestas tropicais pode passar de
6 milhões. "Eles misturam coisas que fazem muito
sentido com outras bastante ingênuas", avalia
o brasileiro.
Lewinsohn
acha que Costello, May e Stork exageram no otimismo e ignoram
muitas das dificuldades de trabalho e financiamento que
a taxonomia enfrenta nos países em desenvolvimento.
"O artigo é útil para reenfatizar a importância
do conhecimento completo da biodiversidade da Terra e é
bom ter uma injeção de ânimo, mas ele
deixa a impressão de que, para chegarmos lá,
basta querer. Seria ótimo se fosse verdade, mas minha
avaliação é mais cética.",
disse em entrevista ao Estado.
Da
Redação
Com informações do Estado de S. Paulo
Foto: Pick-upau/Divulgação