Mar
de plásticos atrapalha vida marinha (e terrestre)
Quantidade
absurda de plásticos nos oceanos vira desafio para
o mundo
04/06/2018 – Depois
dos vidros, os plásticos são os materiais
mais duradouros que existem. Utilizados em todo o mundo
e tão comuns para nós, que nem reparamos no
consumo extensivo que fazemos. Já no café
da manhã, podemos nos deparar com ele, pães
industrializados, embalagens cartonadas de leite, com sua
película de plástico e tampa e nos potes de
requeijão ou manteiga.
No trabalho, ele está
presente em copos descartáveis para água e
café. O fim de semana chega e tem aquela festa de
aniversário para ir, quando chegamos, verificamos
grandes quantidades de plásticos, pratos, talheres,
copos descartáveis e refrigerantes. Agora, se o programa
do fim de semana for um passeio ao parque, por exemplo,
há grandes chances de que uma garrafa de água,
um salgadinho ou até mesmo um sorvete sejam consumidos
nessas embalagens. E quanto ao verão e a época
de férias, a programação de muitas
pessoas é viajar para a praia, e daí são
mais copos descartáveis, garrafas de água
e os “indispensáveis” canudinhos. Mas,
afinal qual o problema em se utilizar tantos plásticos
descartáveis e quais os impactos disso?
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Gaivotão (Larus dominicanus),
jovem.
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A bióloga-chefe da
Agência Ambiental Pick-upau, Viviane Rodrigues Reis,
fala sobre os impactos do plástico na natureza. “Por
estar presente em quase tudo, o seu consumo é muito
elevado. Ao contrário da celulose, que é um
polímero natural, os plásticos são
difíceis de serem degradados, e quando vão
para lixões, aterros, e oceanos demoram muitos anos
para que a decomposição ocorra, em torno de
400 anos. Segundo estimativas, cerca de 80% dos detritos
encontrados no ambiente marinho têm origem em atividades
realizadas em terra. Estes detritos atingem os oceanos através
de esgotos, riachos e rios ou ainda diretamente pela costa,
além do transporte marítimo e das instalações
offshore”, diz Reis.
Reis relata que existe uma
ampla gama de plásticos, diferentes em suas propriedades
e características. “O polietileno, polipropileno
e poliestireno são constituídos de carbono
e hidrogênio, e podem apresentar também cloro,
como no PVC, nitrogênio, como no nylon, flúor
como no teflon, e oxigênio como no poliéster.
Além disso, em muitos são adicionados aditivos
durante o processamento, como corantes, estabilizadores,
plastificantes e outros produtos”, completa.
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Fragata-comum (Fregata magnificens).
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A poluição
causada pelos plásticos ultrapassa fronteiras. A
ilha deserta de Henderson Island, por exemplo, território
do Reino Unido e considerada Patrimônio da Humanidade
pela UNESCO, tem estimativa de que 37,7 milhões de
detritos estão acumulados atualmente na ilha, o que
corresponde a um total de 17,6 toneladas. Embora, distante
a mais de 5.000 quilômetros de um centro populacional,
a Henderson está situada perto do centro da corrente
da “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”.
Este local foi descoberto e batizado pelo americano Charles
Moore, em 1997 e recebe plásticos de diversos lugares,
por ação de correntes marinhas. Além
do Giro Subtropical do Pacífico Norte, há
outros que causam o mesmo efeito nos oceanos.
De acordo com uma pesquisa
da Ellen MacArthur Foundation, a estimativa é de
que os oceanos contenham 150 milhões de toneladas
de material plástico. Todos os anos, eles recebem
em média 8 milhões de toneladas de lixo, o
que equivale a um caminhão de lixo por minuto. Em
2025, os oceanos poderão conter uma tonelada de plásticos
para cada três de peixes, e até 2050, terá
mais plásticos que peixes, em peso. Mesmo depois
de 40 anos da criação do símbolo da
reciclagem, apenas 14% das embalagens plásticas são
coletadas para este fim.
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Lixo nas praias de todo o planeta.
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A taxa global de reciclagem
de plásticos é menor que a taxa para papel
(58%) e ferro e aço (70-90%). Entre os plásticos,
as garrafas PETS são as que possuem as maiores taxas
de reciclagem, mas mesmo assim, quase metade não
é coletada para tal fim. Estados Unidos e Europa
produzem 40% do total de plásticos, 45% são
produzidos pela Ásia e 15% pelo restante do mundo.
Embora EUA e Europa produzam muito, o vazamento para os
oceanos correspondem a 2%, enquanto o continente asiático
é responsável pelo vazamento de 82%, e o restante
do mundo, 16%.
Entre os países do
continente asiático, a China com sua população
imensa, ocupa o topo da lista, produzindo mais de um milhão
de toneladas, por ano. Os Estados Unidos consomem altos
níveis de plástico per capita, porém
como adotam melhores práticas de descarte de lixo,
ficaram em 20° lugar. A União Europeia é
analisada em bloco e ocupa o 18º lugar na lista.
A questão dos plásticos
nos oceanos é tanto ambiental e social, quanto econômica.
Social, pois afeta muitas comunidades, colocando em risco
a saúde de muitas pessoas. Economicamente, porque
são realizados grandes investimentos com matérias
primas para a produção de itens que terão
um período curto de utilidade. São também
gastos muitos recursos para abertura e manutenção
de aterros sanitários. Além de prejudicar
a manutenção dos estoques pesqueiros, e o
desenvolvimento de atividades turísticas.
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Lixo nas praias de todo o planeta.
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Ambientalmente, já
que coloca em risco a vida de muitas espécies marinhas,
ao causar ferimentos e morte. A ingestão de plásticos
causa obstrução do aparelho digestivo e promove
uma falsa sensação de saciedade, causando
a morte do animal. Mais de 40 % das espécies de baleias,
golfinhos e toninhas e todas as espécies de tartarugas
marinhas já ingeriram lixo marinho. A ingestão
também afeta cardumes de peixes e bandos de aves
marinhas. Mais de 90 % das aves do gênero Fulmarus
que apareceram mortos em praias do mar do Norte tinham plástico
no estômago. No estômago de mamíferos
e aves já foram encontrados seringas, isqueiros e
escovas.
Segundo estudo publicado
no periódico Proceedings of the National Academy
of Sciences, 90% das aves marinhas ingerem ou terão
ingerido plástico no estômago, até 2050.
De acordo com cientistas do estudo, menos de 5% das aves
possuíam plásticos no estômago em 1960,
em 1980 este número passou para 80%. Populações
de aves do sul da Austrália, África do Sul
e América do Sul são as que possuem as maiores
concentrações de plásticos. Albatrozes
são mais propensos, pois pescam sobre a superfície
e desavisadamente ingerem plásticos que flutuam na
superfície, e por isso acabam consumindo grandes
quantidades. Petréis e pardelas, que vivem em ilhas
e se alimentam em grandes áreas marinhas, também
são prejudicados pelo alto consumo de plásticos,
que varia de sacolas, tampas de garrafa, fibras sintéticas
e fragmentos menores, quebrados por ação do
sol ou de ondas.
Como podemos contribuir
para reduzir o consumo de plásticos e proteger a
biodiversidade marinha?
O pesquisador Roland Geyer,
da Universidade da Califórnia, informou a Revista
BBC, que não é possível limpar o plástico
dos oceanos. "Fechar a torneira é a única
solução". "Como você recolheria
o plástico do fundo dos oceanos considerando que
a sua profundidade média é de 4,2 mil metros?
Temos antes que evitar que o plástico chegue aos
oceanos”, completou.
"A falta de sistemas de tratamento de lixo alimenta
a entrada de plástico no oceano", diz o cientista.
"Ajudar todos os países a desenvolver estruturas
de tratamento é a mais alta prioridade", disse
Geyer a Revista BBC.
Na União Europeia possui políticas e legislação
destinadas a reduzir os resíduos de embalagens e
aumentar as taxas de reciclagem, principalmente de plásticos.
Também existem diretivas para reduzir a poluição
proveniente dos navios e dos portos.
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Lixo nas praias de todo o planeta.
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Diversos países criaram
políticas para abolir ou diminuir o consumo de sacolas
plásticas, boa parte da população alemã
e muitos argentinos utilizam suas próprias sacolas
para fazer as compras. Depois que resíduos provenientes
de sacolas plásticas ajudaram a inundar até
dois terços do país em enchentes que ocorreram
em 1988 e 1998, Bangladesh resolveu banir completamente
a utilização e a comercialização
de sacolas plásticas, em 2002. Em 2008, foi a China
que baniu a utilização de sacolas plásticas,
deixando de consumir 800 mil toneladas de plástico.
Espanha, França, Estados Unidos, Irlanda e Reino
Unido também criaram medidas para reduzir o consumo
destes itens.
A ONU lançou em fevereiro
de 2017, a campanha CleanSeas (MaresLimpos), solicitando
que governos desenvolvam políticas para reduzir a
produção e o consumo de plástico no
mundo e que consumidores mudem os hábitos de descarte.
No lançamento, que ocorreu em Bali, Erik Solheim,
diretor-executivo da ONU Meio Ambiente falou sobre os plásticos
nos mares. “A poluição plástica
está surfando em direção às
praias indonésias, assentando no fundo do mar no
Polo Norte e subindo na cadeia alimentar até nossas
mesas de jantar. Isso tem de acabar”. A meta da campanha
é fazer com que plásticos descartáveis
sumam de circulação em 5 anos, 39 países
já aderiram à campanha.
O Brasil aderiu à
campanha MaresLimpos, em junho de 2017, durante a Conferência
dos Oceanos, realizada em Nova Iorque. E em novembro do
mesmo ano, ocorreu no Rio de Janeiro, o I Seminário
Nacional sobre Combate ao Lixo no Mar. Representantes do
governo, da academia, setor privado e sociedade civil discutiram
alternativas para reduzir o lixo nos oceanos. O evento foi
organizado pelo Ministério do Meio Ambiente, ONU
Meio Ambiente, USP e parceiros.
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Lixo nas praias de todo o planeta.
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Para reduzir o consumo de
plásticos, podemos adquirir hábitos simples,
como substituir garrafas de água, carregando conosco
um squeeze. Canudos são quase sempre desnecessários,
então basta evitá-los. Em supermercados, podemos
evitar o consumo de sacolas plásticas através
da utilização de sacolas ecobags, por exemplo.
Refrigerantes ou sucos podem
ser consumidos em embalagens retornáveis ou de vidro,
no entanto, não são tão acessíveis
financeiramente. Para estes e muitos outros produtos, é
preciso atuação das indústrias, que
precisam fabricar em grande escala, e de governos, para
incentivar a utilização pela população.
O Projeto Aves realiza pesquisas
científicas voltadas à conservação
de comunidades de avifauna e realiza ações
de sensibilização socioambiental e atividades
relacionadas à conservação da biodiversidade,
com ênfase em habitats. O Projeto Aves é patrocinado
pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental,
desde 2015.
Da Redação,
colaborou Viviane Rodrigues Reis
Fotos: Reprodução/Pick-upau/Petrobras