Aves
de Rapina: Características morfológicas e
anatômicas que favorecem a vida dos rapinantes
A visão,
audição, os diferentes formatos de bicos,
pés e asas relacionam-se aos modos de vida e a forma
como estas aves predadores adquirem alimentos.
13/11/2018 – O termo
rapina tem origem latina e está relacionado à
forma como algumas aves predadoras obtêm alimento.
As espécies possuem algumas características
em comum, mas a morfologia varia entre as ordens.
A
diversidade morfológica e de massa corporal é
grande. Enquanto o gaviãozinho (Gampsonyx
swainsonii)
tem entre 20 e 28 centímetros, o condor-dos-andes
(Vultur gryphus) e o condor-da-califórnia
(Gymnogyps californianus) chegam a ter 1,3 metros
de comprimento e 3 metros de envergadura de asa.
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A
visão, audição, os diferentes
formatos de bicos, pés e asas relacionam-se
aos modos de vida e a forma como estas aves predadores
adquirem alimentos.
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Características relacionadas
à visão e audição, os diferentes
formatos de bicos, pés e asas estão relacionados
aos habitats distintos e ao modo com que os rapinantes obtêm
alimento.
Visão apurada
A visão das aves de rapina é excelente, falcões
e águias conseguem definir imagens a grandes distâncias,
pois a resolução visual é duas vezes
maior que a dos humanos.
A posição
frontal dos olhos formando uma visão binocular para
a localização de presas é uma adaptação
à caça.
Os olhos são muito
grandes (grande quantidade de células da retina,
cones e bastonetes), em torno de 15% do peso da cabeça,
limitando a movimentação dos olhos para a
esquerda e direita, para cima ou para baixo, portanto quando
olham para os lados, precisam virar a cabeça.
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Visão apurada. A visão
das aves de rapina é excelente.
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A presença de duas
fóveas (porção de cada um dos olhos
que permite perceber detalhes dos objetos observados, localizada
no centro da retina) em alguns grupos, como nos Falconiformes
também é importante para a obtenção
de alimento.
A ordem Strigiformes (corujas
e suindaras) é composta principalmente por espécies
noturnas. Estas espécies possuem adaptações
morfológicas semelhantes à dos Falconiformes,
porém apresentam algumas características para
a obtenção de alimento em ambientes sem luz.
As corujas apresentam uma
camada de células denominada tapetum atrás
da retina, estas células refletem a luz sobre os
bastonetes, imprimindo a mesma imagem pela segunda vez,
aumentando a eficiência na captação
da luz.
As corujas apresentam visão
binocular, devido à posição dos olhos
que é frontal, esse direcionamento acaba reduzindo
o campo de visão periférica, porém
esta redução é compensada pela capacidade
que possuem de girar a cabeça em até 270°,
por causa da flexibilidade que possuem no pescoço
(possuem mais vértebras cervicais do que outros vertebrados
como os humanos).
Audição
amplificada
Em geral as aves de rapina possuem excelente audição,
escutam e distinguem sons das presas e de outros rapinantes.
Corujas que caçam
durante a noite ou espécies que vivem em florestas
densas, como o gavião-real (Harpia harpyja)
e os falcões-florestais (Micrastur spp),
usam a audição para localizar suas presas.
Essas aves apresentam penas ao redor dos ouvidos em forma
de disco, atuando como uma parabólica, pois direcionam
o som até a abertura dos ouvidos.
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Audição amplificada.
Em geral as aves de rapina possuem excelente audição
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A evolução
de um "disco facial", como do gavião-real
(Harpia harpyja) e do gavião-do-banhado
(Circus buffoni) provavelmente facilita a localização
das presas, através da orientação que
fornece aos ruídos baixos, semelhante às corujas.
Ao contrário de outras
aves de rapina, as corujas, possuem grandes aberturas de
ouvido que são posicionadas de maneira assimétrica
(ouvido direito dirigido para cima e esquerdo para baixo)
e em conjunto com os discos faciais são capazes de
distinguir com precisão, a localização
de uma fonte sonora, permitindo a captura de presas no solo
sem precisar da visão.
Olfato, deixa a
desejar
Diferentemente da visão e audição que
são muito aguçadas, o alfato das aves de rapina
é muito limitado, com exceção do urubu-de-cabeça-vermelha
(Cathartes aura), urubu-de-cabeça-amarela
(Cathartes burrovianus) e urubu-da-mata (Cathartes
melambrotus) que possuem olfato bastante apurado, sendo
capazes de detectar o cheiro de um cadáver escondido
na vegetação a grandes distâncias. O
olfato dos demais urubus não é apurado, portanto
utilizam a visão para localizar as presas.
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Olfato, deixa a desejar. Diferentemente
da visão e audição que são
muito aguçadas, o alfato das aves de rapina
é muito limitado.
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Bicos fortes e adaptados
Os bicos dos rapinantes são fortes, curvos e afiados,
próprios para rasgar a pele de mamíferos e
outros vertebrados ou no caso dos falconídeos para
matar suas presas. O formato do bico apresenta diferenças
entre as espécies, que varia conforme o tipo de presa
que consomem.
Espécies pequenas como o quiriquiri (Falco sparverius)
possuem bico curto, pois se alimentam de insetos e
roedores.
O gavião-real (Harpia
harpyja) se alimenta de grandes pedaços de carne
como de macacos e preguiças e, portanto possuem bico
pesado e muito forte. O gavião-caramujeiro (Rostrhamus
sociabilis) consome caramujos que retira do interior
das conchas, por isso possuem bico longo e curvo.
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Bicos fortes e adaptados. Os
bicos dos rapinantes são fortes, curvos e
afiados, próprios para rasgar a pele de mamíferos
e outros vertebrados.
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Espécies do gênero
Falco e Harpagus apresentam estruturas
semelhantes a dentes utilizadas para quebrar a coluna vertebral
e facilitar a dilaceração das presas.
Dentre os urubus brasileiros, o urubu-rei (Sarcoramphus
papa) é o que possui o bico mais apto para rasgar
a pele de grandes animais, que foram mortos recentemente,
em seguida espécies do gênero Coragyps
e Cathartes.
Pés e Garras
Para capturar e matar suas presas, os rapinantes utilizam
principalmente as garras, que são fortes e afiadas
e que varia em formato e tamanho de acordo com a presa.
Espécies que capturam mamíferos como o gavião-real
(Harpia harpyja) e a águia-cinzenta (Urubitinga
coronata) geralmente possuem tarsos grossos, dedos
curtos e unhas fortes.
Quando as presas são principalmente as aves, os dedos
são longos e as garras são finas e afiadas,
facilitando a captura em voo.
A águia-pescadora
(Pandion haliaetus) possui calos ásperos
nos dedos para segurar os peixes dos quais se alimenta.
As águias pescadoras, assim como as corujas conseguem
mover de forma voluntária o quarto dedo para trás,
junto ao dedo hálux, ficando com dois dedos para
frente e dois voltados para trás, aumentando a superfície
de contato e a imobilização da presa.
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Pés e Garras. Para capturar
e matar suas presas, os rapinantes utilizam principalmente
as garras.
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Os urubus (Cathartiformes) não matam e nem transportam
presas a longas distâncias, pois não possuem
pés e garras tão fortes quanto às outras
aves de rapina. A primeira falange é mais longa,
semelhante a dos Ciconiiformes, dificultando a ação
de “cravar” as unhas nas presas.
Asas e cauda
O formato das asas e da cauda também varia conforme
o habitat em que vivem e o tipo de voo.
Gaviões planadores que vivem em ambientes abertos
possuem asas longas, largas e cauda de tamanho médio,
desta forma conseguem aproveitar as correntes térmicas
e gastar menos energia.
As asas grandes e caudas
curtas de urubus e espécies do gênero Buteo
também favorecem a utilização das correntes
de ar ascendentes. Espécies do gênero Spizaetus,
Harpia, Accipiter e Micrastur que vivem no
interior das matas apresentam asas curtas, arredondadas
e cauda relativamente longa, para que tenham voo ágil
e rápidas reações diante dos obstáculos.
O falcão-peregrino (Falco peregrinus) e
outras aves de rapina que caçam em alta velocidade
em áreas abertas possuem asas longas, estreitas,
pontiagudas e cauda curta.
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Asas e cauda. O formato das asas
e da cauda também varia conforme o habitat
em que vivem e o tipo de voo.
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Nas corujas, a estrutura
das rêmiges (penas das asas) permite um voo silencioso
e não interfere na orientação acústica
durante a caça, fazendo com que a presa não
detecte sua presença.
Dimorfismo sexual
As diferenças entre macho e fêmea estão
relacionadas ao tamanho, geralmente as fêmeas são
maiores, bastante visível em espécies do gênero
Accipiter e em Harpia harpyja. Também
existe dimorfismo sexual de tamanho em Strigiformes, porém
menos pronunciado. Em Spizaetus, Accipiter
e Falco as diferenças podem ser notadas
por meio do peso. A coloração é diferente
apenas em algumas espécies como em Circus buffoni
e Falco sparverius.
Em comemoração
ao centenário da aprovação da Lei do
Tratado das Aves Migratórias (MBTA, na sigla em inglês),
importantes instituições estrangeiras como
National Audubon Society, National Geographic, BirdLife
International e The Cornell Lab of Ornithology, oficializaram
2018 como o Ano da Ave. Aqui no Brasil, a Agência
Ambiental Pick-upau também realizará uma série
de ações para a promoção do
Projeto Aves, patrocinado pela Petrobras, incluindo matérias
especiais sobre as aves nas mais diversas áreas,
como na ciência.
Criado em 2015, dentro do setor de pesquisa da Agência
Ambiental Pick-upau, a Plataforma Darwin, o Projeto Aves
realiza atividades voltadas ao estudo e conservação
desses animais. Pesquisas científicas como levantamentos
quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria
e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine;
produção e plantio de espécies vegetais,
além de atividades socioambientais com crianças,
jovens e adultos, sobre a importância em atuar na
conservação das aves. Parcerias estratégicas
como patrocínios da Petrobras e da Mitsubishi Motors
incentivam essa iniciativa.
Da Redação
(Viviane Rodrigues Reis)
Fotos: Reprodução/Pixabay
Com informações
de Aves de Rapina Brasil, 2018; Helmut Sick, 1997; PAN Aves
de Rapina/ICMBIO, 2008.