Aves
de Rapina: O fenômeno da migração na
vida dos rapinantes
Alguns
rapinantes chegam ao Brasil durante o inverno do hemisfério
sul ou do hemisfério norte e algumas espécies
aparecem como vagantes.
27/11/2018 – Algumas
das mais longas migrações do mundo são
realizadas por algumas espécies de gaviões
como o gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus)
e o gavião-papa-gafanhoto (Buteo swainsoni),
espécies da América do Norte.
Ocorrem migrações
entre diversas famílias de rapinantes como Falconidae,
Accipitridae, Pandionidae e Cathartidae. Entre os Strigiformes,
que abrange as corujas e suindaras não há
relatos no Brasil de espécies migratórias.
Rapinantes migratórios:
Espécies, cujas populações migram de
seus locais reprodutivos de maneira regular e sazonal, retornando
depois em cada estação reprodutiva.
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O peneireiro-de-dorso-malhado
(Falco tinnunculus) ocorre na Europa, África
e Ásia. Apenas um indivíduo foi registrado
no arquipélago de São Pedro e São
Paulo no Brasil, sendo o primeiro registro para
o país e América do Sul e o terceiro
para o Novo Mundo.
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Acccipitridae
O sovi-do-norte (Ictinia
mississippiensis) ocorre do Kansas, Arizona e Novo
México ao sul da Flórida, nos Estados Unidos.
A reprodução
ocorre na América do Norte entre maio e julho. No
início de agosto se reúnem em bandos de 200
a 300 indivíduos e no início de setembro iniciam
a migração para o sul através dos Andes
e Amazônia, se estendendo até outubro.
Migra para a América
do Sul, principalmente para o Paraguai, sudeste da Bolívia,
sudoeste do Brasil e nordeste da Argentina. Retornam para
o norte no fim de fevereiro até abril, partindo do
centro e norte da Argentina, através dos Andes colombianos.
Os poucos registros da espécie
na América do Sul durante o inverno são de
indivíduos jovens que possivelmente se perderam durante
a migração.
O gavião-de-asa-larga
(Buteo platypterus) se reproduz em locais que abrangem
do centro do Canadá até o sul dos Estados
Unidos.
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O falcão-peregrino (Falco
peregrinus) ocorre no mundo todo e é
migratório apenas em parte de sua distribuição.
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Durante o inverno do hemisfério
norte, as populações, exceto indivíduos
do sul da Flórida, migram para a América do
Sul em grandes bandos atingindo o noroeste do Brasil.
No Brasil ocorre, sobretudo,
na Bacia Amazônica, porém há registros
no Cerrado e na Mata Atlântica, aparentemente sem
formar bandos.
Pode ser observado na região
amazônica, de outubro a março, no Mato Grosso
foi registrado apenas uma vez no mês de junho. Podem
ser vistos de novembro a janeiro na Mata Atlântica
do sudeste e do sul, nos estados do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O gavião-papa-gafanhoto
(Buteo swainsoni) se reproduz na região
central e oeste da América do Norte, migra durante
o inverno boreal para a América do Sul, sobretudo
para o norte da Argentina, sul do Brasil e Paraguai.
Aparentemente se move pelo
interior do continente em direção aos Pampas
na Argentina, Uruguai e Brasil, permanecendo na costa atlântica
do sul do Brasil.
Uma grande concentração
de indivíduos jovens permanece na Argentina e no
Brasil durante o inverno no hemisfério norte.
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O milhafre-preto (Milvus
migrans) ocorre em quase todo o Velho Mundo
e região da Australásia. A reprodução
ocorre na Europa continental, noroeste da África
e oeste da Ásia. Durante o inverno permanece
principalmente ao sul do Saara na África.
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Estudos mostraram que se
reúnem na costa leste do México e voam principalmente
ao longo da costa do Pacífico e leste dos Andes até
a Argentina central. Existem alguns registros localizados
em Roraima.
Estudos mostraram também
que as rotas de migração para o norte e para
o sul são similares e que os indivíduos utilizam
principalmente trechos continentais, exceto na América
Central onde alguns trechos costeiros são utilizados.
Um indivíduo anilhado
em Oklahoma nos Estados Unidos foi registrado no Acre, em
fevereiro e um filhote anilhado, em agosto, em Alberta,
no Canadá foi registrado em novembro do mesmo ano
no Rio Grande do Sul.
De março a agosto
pode ser observado em Tocantins, novembro e janeiro no Rio
de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. Um bando de mais de 100 indivíduos
já foi observado, em novembro no Amazonas.
O gavião-bombachinha
(Harpagus diodon) se reproduz na Mata Atlântica
e em fragmentos florestais no Cerrado de agosto a abril.
Durante o inverno permanece principalmente nas florestas
equatoriais da Bacia Amazônica, alguns indivíduos
ficam mais ao norte no escudo das Guianas.
São necessários
mais estudos para verificar se os indivíduos registrados
na Mata Atlântica do nordeste são de populações
residentes, vagantes ou se são indivíduos
do sul. No Rio Grande do Sul há registros em outubro,
novembro e maio, mas é considerado raro.
Falconidae
O falcão-peregrino
(Falco peregrinus) ocorre no mundo todo e é
migratório apenas em parte de sua distribuição.
Os indivíduos que ocorrem no Brasil se reproduzem
no hemisfério norte. Indivíduos marcados nos
Estados Unidos, Canadá e Ilhas de Saint Pierre e
Miquelon, na costa canadense principalmente, entre abril
e outubro, foram capturados em 16 estados brasileiros, entre
novembro e março, sobretudo em São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul.
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A águia-pescadora (Pandion
haliaetus) ocorre em todos os continentes,
exceto na Antártica e é migratória
na maior parte de sua distribuição.
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Durante o inverno boreal,
pode ser visto ao longo do Rio Amazonas e seus principais
afluentes entre outubro e maio e no Pará em outubro,
novembro e março. Foi observado no norte do Parque
Estadual do Cantão, em Tocantins, em abril, quando
retornava provavelmente para a região Neártica
para o próximo período reprodutivo, utilizando
o canal do Rio Araguaia como rota migratória.
Também já
foi registrado na região do Banco dos Cajuais no
ceará e no Rio Grande do Norte em novembro; no Ceará
de outubro a maio; entre novembro e março no Rio
Grande do Norte e sudeste; na Bahia de dezembro a janeiro;
de outubro a abril no Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Pandionidae
A águia-pescadora
(Pandion haliaetus) ocorre em todos os continentes,
exceto na Antártica e é migratória
na maior parte de sua distribuição. Entre
agosto e abril, migra do hemisfério norte para a
Bacia Amazônica e costa norte da América do
Sul e da Flórida para a América do Sul ao
longo do Caribe.
A subespécie
Pandion h. carolinensis que migra do hemisfério
norte, pode ser observada no Brasil durante o ano todo,
mas principalmente entre o final e o começo do ano.
Os indivíduos imaturos podem permanecer no Brasil
pelo menos durante os seus primeiros três anos de
vida.
Não há relatos
de reprodução no Brasil, mas indivíduos
já foram vistos carregando galhos secos, o que poder
ser uma forma de treinamento e aprendizado como já
foi observado no hemisfério norte.
Aproximadamente 28 indivíduos
anilhados nos Estados Unidos foram registrados no Amazonas;
um indivíduo que nasceu próximo à Nova
Iorque foi registrado em agosto em Ilhéus na Bahia;
dois filhotes anilhados, em Maryland nos Estados Unidos,
em julho foram vistos no Mato grosso em setembro e no Rio
Madeira no Amazonas em outubro.
Há registros ao longo
de todo o ano próximo a Manaus, porém com
mais intensidade entre setembro e março. Indivíduos
anilhados na América Central e do Norte em junho
e julho foram registrados em 17 estados brasileiros, Amapá,
Roraima, Acre, Rondônia, Amazonas, Pará, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais,
Maranhão, ceará, Paraíba, Bahia, Rio
de Janeiro, São Paulo e Paraná, principalmente
entre outubro e janeiro.
Rapinantes parcialmente
migratórios: Espécies, cujas populações
são parte migratória e parte residentes.
Acccipitridae
O gavião-tesoura
(Elanoides forficatus) é relativamente comum
em sua área de distribuição e migração.
Ocorre na região costeira sudeste dos Estados Unidos,
leste da Bolívia, Paraguai e norte da Argentina.
Há registros de atividade
reprodutiva entre novembro e fevereiro nos estados do Mato
grosso, Tocantins, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Na Amazônia, na região
do Alto Rio Negro foi registrado apenas um ninho. Filhotes
anilhados em junho na Flórida foram observados no
Paraná em dezembro e no Mato Grosso em outubro e
novembro. Há registros no Rio Grande do Sul entre
setembro e março.
O sovi (Ictinia plumbea)
tem no Brasil uma população residente, que
não efetua migrações e uma população
migratória. Ocorre do nordeste do México até
o oeste do Equador, Paraguai, norte da Argentina e Brasil.
É migratório no norte e sul de sua distribuição
global.
Em toda a Amazônia
aparecem grupos de forma esporádica. Em Alter do
Chão, no Pará são vistos durante o
período chuvoso de fevereiro a julho.
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O condor-dos-andes (Vultur
gryphus) ocorre nos Andes, da Venezuela a Terra
do Fogo e ao nível do mar no Peru e no Chile.
No Brasil existem registros ocasionais no Rio Jauru
em Mato Grosso e foi observado uma vez no oeste
do Paraná.
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Ocorre eventualmente no
nordeste, se reproduz na Amazônia, em regiões
do centro-oeste, sudeste e sul. No Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul os registros concentram-se
entre agosto e abril.
O gavião-caramujeiro
(Rostrhamus sociabilis) ocorre do sudeste dos Estados
Unidos até o nordeste da Argentina. Populações
do sul de sua distribuição global são
migratórias.
Realiza movimentos migratórios
devido à seca ou drenagem de suas áreas de
alimentação. Migra em abril do sul do Brasil
e retorna em setembro. Alguns indivíduos vão
para o Pantanal onde formam grupos de até 600 indivíduos
nas áreas de alimentação, porém
não há registros de reprodução
neste bioma.
No Rio Paraguai é
mais comum em outubro quando voam em bandos para o sul.
Em outubro de 1976, foram vistos bandos de aproximadamente
1000 indivíduos voando do norte para o sul através
de Sapucaia do Sul no Rio Grande do Sul. Em outubro de 2010,
bandos entre 2.500 e 3.000 indivíduos foram vistos
voando do norte para o sul na Chapada dos Guimarães,
em Mato grosso.
Há registros de atividades
reprodutivas em Alagoas no Ceará, Piauí, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, onde são
registrados durante todos os meses do ano, assim como em
Minas Gerais e São Paulo.
Rapinantes vagantes: São
espécies com ocorrências irregulares no Brasil.
Podem ser espécies migratórias regulares em
países vizinhos, que migram do hemisfério
sul, do hemisfério norte ou do oeste.
Cathartidae
O condor-dos-andes (Vultur
gryphus) ocorre nos Andes, da Venezuela a Terra do
Fogo e ao nível do mar no Peru e no Chile. No Brasil
existem registros ocasionais no Rio Jauru em Mato Grosso
e foi observado uma vez no oeste do Paraná.
Está quase ameaçado,
pois sua população é moderadamente
pequena e vem reduzindo devido à perseguição
humana que alegam ataques a bovinos. O envenenamento de
felinos e raposas por meio de produtos ilegais também
é uma ameaça, pois ao comer as carcaças
ficam contaminados. A competição em alguns
locais por carcaças com o urubu-de-cabeça-preta
(Coragyps atratus) também impacta o condor-dos-andes.
Accipitridae
O milhafre-preto (Milvus
migrans) ocorre em quase todo o Velho Mundo e região
da Australásia. A reprodução ocorre
na Europa continental, noroeste da África e oeste
da Ásia. Durante o inverno permanece principalmente
ao sul do Saara na África.
Indivíduos vagantes
têm sido registrados na Nova Zelândia e nas
ilhas havaianas no Pacífico. Entre abril e maio de
2014 um indivíduo adulto foi visto no arquipélago
de São Pedro e São Paulo, a 1.100 quilômetros
da costa brasileira, possivelmente seguindo ventos do noroeste
da África, que são tangentes à rota
principal utilizada quando realiza movimentos entre as áreas
de inverno e áreas reprodutivas na Europa Ocidental.
Falconidae
O peneireiro-de-dorso-malhado
(Falco tinnunculus) ocorre na Europa, África
e Ásia. Apenas um indivíduo foi registrado
no arquipélago de São Pedro e São Paulo
no Brasil, sendo o primeiro registro para o país
e América do Sul e o terceiro para o Novo Mundo.
O esmerilhão
(Falco columbarius) se reproduz no Ártico e
durante o inverno no hemisfério norte migra para
latitudes mais baixas. Há poucos registros no Brasil
e todos são da região norte, Parque Nacional
de Jaú no Amazonas, Roraima, Pará, Tocantins
e Acre.
O esmerilhão-europeu
(Falco aesalon) ocorre no norte da Eurásia,
do leste das Ilhas Faroe ao centro da Sibéria. Durante
a migração, realiza movimentos em direção
ao sul para o Mediterrâneo, norte da África,
Golfo Pérsico, Iraque, Irã, China, Japão
e Coreia. Há também um registro recente no
Bangladesh. O único registro na América do
Sul foi de uma fêmea capturada em um navio na costa
da Bahia em 1963.
O gavião-de-costas-vermelhas
(Geranoaetus polyosoma) ocorre do centro dos Andes,
na Colômbia até a Patagônia, Terra do
Fogo, Ilhas Malvinas e nas Ilhas Juan Fernández na
costa do Chile.
Durante o inverno no hemisfério
sul, indivíduos dos Andes Chilenos e da Patagônia
voam em direção ao norte para planícies
subtropicais no norte e leste da Argentina, Paraguai e talvez
Uruguai. Há poucos registros no Brasil, somente um
em Arraial do Cabo no Rio de Janeiro.
Estas espécies enfrentam
ameaças diversas, pois percorrem diversos países
com diferentes legislações ambientais, muitas
vezes sem a devida proteção, sendo necessário
um esforço em nível global.
Em comemoração
ao centenário da aprovação da Lei do
Tratado das Aves Migratórias (MBTA, na sigla em inglês),
importantes instituições estrangeiras como
National Audubon Society, National Geographic, BirdLife
International e The Cornell Lab of Ornithology, oficializaram
2018 como o Ano da Ave. Aqui no Brasil, a Agência
Ambiental Pick-upau também realizará uma série
de ações para a promoção do
Projeto Aves, patrocinado pela Petrobras, incluindo matérias
especiais sobre as aves nas mais diversas áreas,
como na ciência.
Criado em 2015, dentro do setor de pesquisa da Agência
Ambiental Pick-upau, a Plataforma Darwin, o Projeto Aves
realiza atividades voltadas ao estudo e conservação
desses animais. Pesquisas científicas como levantamentos
quantitativos e qualitativos, pesquisas sobre frugivoria
e dispersão de sementes, polinização
de flores, são publicadas na Darwin Society Magazine;
produção e plantio de espécies vegetais,
além de atividades socioambientais com crianças,
jovens e adultos, sobre a importância em atuar na
conservação das aves. Parcerias estratégicas
como patrocínios da Petrobras e da Mitsubishi Motors
incentivam essa iniciativa.
Da Redação
(Viviane Rodrigues Reis)
Fotos: Pixabay/Reprodução
Com informações
de BirdLife International/The IUCN Red List of Threatened
Species 2017; Somenzari et al. Brazilian Migratory Birds.
Pap. Avulsos Zool., 2018.