Aves
planadoras têm habitat ameaçado por turbinas
eólicas
Parques
eólicos foram construídos em regiões
propicias para a vida das aves
20/03/2019 – Um novo
estudo publicado na revista científica Journal of
Animal Ecology, apresenta dados sobre os conflitos de parques
eólicos e habitats. Segundo a pesquisa, parques eólicos
estão localizados em regiões que propiciam
condições adequadas ao voo planado de aves,
entretanto, por conta das turbinas, essas aves perdem cerca
de 700 metros em volta de cada equipamento.
O estudo chefiado pela pesquisadora
Ana Teresa Marques, do Centro de Ecologia, Evolução
e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa, avalia que as aves têm
evitado essas áreas. Na pesquisa foi analisado o
voo de 130 milhafres-pretos (Milvus migrans), da
família Accipitridae, e concluiu que apesar de favoráveis
ao voo planado, essas regiões estão ficando
restritas a produção de energia, criando uma
consequência negativa para a migração
de várias espécies planadoras.
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Ovos de milhafres-pretos (Milvus
migrans).
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“No nosso estudo verificamos
que os milhafres-pretos evitam a proximidade com os aerogeradores,
algo que se verifica até aos 650 a 700 metros de
raio dos mesmos. Isso significa que as aves deixam de poder
usar essas áreas, o que se traduz numa perda de habitat”,
Disse Marques ao Público, de Portugal.
Os pesquisadores utilizaram
aparelhos de GPS de alta precisão para acompanhar
o voo das aves a cada minuto. “Para fazerem o voo
planado, as aves precisam de correntes de ar ascendentes,
que se formam em regiões com condições
de terreno específicas e estão dependentes
de fatores climáticos como a temperatura e o vento”,
contextualiza a pesquisadora portuguesa, ao Público.
Segundo o estudo as áreas
dos parques eólicos reúnem as condições
ideais para o voo planado, o que explica em parte a escolha
de sua localização, pois há uma incidência
maior de ventos. “As turbinas eólicas estão
instaladas, frequentemente, ao longo de cadeias montanhosas
para maximizar a exposição aos ventos horizontais.
Ao mesmo tempo, estas áreas possuem correntes de
ar ascendentes essenciais para as aves [planadoras]”,
diz o artigo cientifico.
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Milhafres-pretos (Milvus
migrans).
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Outras aves planadoras como
grous, cegonhas e aves de rapina diurnas utilizam basicamente
o voo planado para deslocamentos, desta forma tornam o voo
mais eficaz e gastam menos energia nos trajetos. As correntes
térmicas proporcionam as condições
adequadas para este tipo de voo. Entretanto, essa condição
é reduzida no mar, obrigando as aves a percorrerem
extensões terrestres, evitando voos sobre as águas.
Analisando essa característica, o local escolhido
para a pesquisa foi Tarifa, na Espanha, no Estreito de Gibraltar.
Na região há 160 turbinas espalhadas por sete
parques eólicos.
O Estreito de Gibraltar
é a região com menor massa oceânica
que separa a Europa da África e todos os anos uma
grande concentração de aves planadoras é
registrada no local, incluindo milhafre-preto, que migra
para o continente africano. O istmo (porção
de terra estreita) de Suez, no Egito, e o istmo de Tehuantepec,
México, são outras rotas migratórias
que também devem receber parques eólicos.
Já existem outros
estudos a respeito dos impactos de parques eólicos
sobre a morte de aves e morcegos, entretanto a pesquisa
divulgada pelo Journal of Animal Ecology, que acompanhou
130 milhafres-pretos, sendo 72 adultos e 58 jovens, entre
2012 e 2013, foi o primeiro a relatar projeções
sobre a relação de habitat das aves planadoras
perdido em função da instalação
e a presença de parques eólicos. “Em
situações extremas as aves podem ter de alterar
as suas rotas de passagem preferenciais e eventualmente
recorrer a voo batido, o que representa um maior dispêndio
de energia para as aves”, alerta Marques. A pesquisadora
afirma que outras espécies como a águia-calçada
(Hieraaetus pennatus) e a águia-cobreira
(Circaetus gallicus), também correm perigo
nesse sentido.
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Águia-cobreira (Circaetus
gallicus).
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Ana Teresa Marques sugere
que se evite a instalação em alguns locais.
“Propomos que, em áreas muito relevantes para
as aves planadoras, os parques eólicos evitem construir
aerogeradores em locais onde tipicamente se formam correntes
de ar ascendentes”, conclui a pesquisadora.
>Saiba
mais sobre energia eólica
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves. Parcerias
estratégicas como patrocínios da Petrobras
e da Mitsubishi Motors incentivam essa iniciativa.
Da Redação,
com informações do Publico (Andrea Cunha Freitas)
Fotos: Reprodução