Espécies
de aves insetívoras na Amazônia estão
em declínio
Pesquisa
sugere que crise climática reduz oferta de insetos
e impacta na população de aves
11/11/2020 – Um novo
estudo publicado na revista Ecology Letters descreve que
espécies de aves estão entrando em declínio
mesmo em regiões remotas da Amazônia, sem a
interferência humana.
Os pesquisadores descobriram
um significativo empobrecimento em nove espécies
de aves conhecidas por serem consumidoras de insetos em
áreas baixas da selva central, num período
de algumas décadas. Contudo, não foram registradas
quedas acentuadas em aves que consomem frutas. Segundo os
cientistas, isso indica que as mudanças climáticas
podem ser a causa pela queda na polução de
insetos. O estudo publicado utiliza dados coletados há
mais de 30 anos pelo biólogo conservacionista Thomas
Lovejoy.
Reprodução/Hector
Bottai/Wikipedia
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Naquela época, o
governo brasileiro incentivava fazendeiros a transformar
a floresta em pastagem, por outro lado obrigava que parte
das áreas fossem mantidas preservadas. Lovejoy e
seus colegas ajudaram a convencer alguns desses fazendeiros
a manter fragmentos florestais de diversos tamanhos totalmente
isolados, com objetivo de descobrirem como um fragmento
florestal pudesse sustentar a flora e a fauna de forma saudável.
Para isso, eles usaram aves bem estudadas, conhecidas e
fáceis de capturar como representantes de reino animal.
Usando redes de neblina
feitas de poliéster bem finas, quase invisíveis,
cerca de 20 vezes maiores que a extensão de uma rede
de tênis, eles capturaram aves em voo sem machucá-las.
Depois de medidos e pesados os indivíduos retornaram
a vida livre.
Os cientistas também
analisaram parcelas de controle em grandes extensões
de florestas praticamente intocadas. Já em 2008,
Philip Stouffer, professor da Louisiana State University
e principal autor do estudo, foi questionado por um observador
de aves, que não haviam registrado nenhum formigueiro,
apesar de não ser uma espécie tão comum,
era vista de vez em quando. O mesmo ocorreu com outras espécies
comuns da região.
Reprodução/Hector
Bottai/Wikipedia
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O projeto sobre fragmentos
florestais, a princípio, não foi pensado para
estimar mudanças na abundância das aves nesses
locais de controle, porém, em um estudo não
relacionado, Stouffer e seus colegas já estavam coletando
dados nesses locais desde 1980. E perceberam que essas informações
poderiam ser usadas para saber se aves estavam em declínio.
Nesse novo artigo os pesquisadores
compararam a abundância de 79 espécies capturadas
ente 2008 e 2016 com amostragens do início da década
de 80. Nove espécies se tornaram menos comuns, incluindo
oito que eram pelo menos 50% menos abundantes. Todas as
aves em declínio, exceto uma, eram de dois grupos
insetívoros próximos ao solo e terrestres.
Segundo Stouffer, de forma significativa nenhuma ave do
grupo das frugívoras estava sendo reduzida.
“Algo diferente está
acontecendo com as aves que se alimentam de artrópodes
no solo da floresta ou próximo a ela”, disse
Stouffer. Os pesquisadores, a princípio, descartam
causas como caça, predadores invasores ou patógenos.
Para Lovejoy, as mudanças climáticas parece
ser a causa mais provável.
Reprodução/Hector
Bottai/Wikipedia
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Para os pesquisadores, as
condições mais secas e quentes na Amazônia
central podem causar “estresse fisiológico
direto para as aves” ou “mudança estrutural
na floresta” que reduz a quantidade de alimentos e
torna o ambiente mais restritivo à vida.
Mas para Stuart Pimm, biólogo
conservacionista da Duke University, que não participou
desta pesquisa, mas foi colaborar dos coautores do estudo,
questiona as conclusões. Segundo ele, os locais de
amostragem não são exatamente os mesmos. “Eles
não podem ter certeza de que não existem algumas
diferenças na história natural desses dois
conjuntos de locais que possam explicar os resultados”,
diz.
Por outro lado, Stouffer
acredita que é valido comparar os dois conjuntos
de dados. “Seria muito difícil encontrar os
lotes [originais]”. Ele afirma que alguns locais originais
da pesquisa foram tomados pela selva e essas áreas
tiveram suas coordenadas de GPS perdidas. E acrescenta que
em qualquer caso, a evolução natural da floresta,
como quedas naturais de árvores e outras novas surgindo,
altera constantemente a paisagem da área. “Estamos
nos enganando se pensarmos que a 'floresta' é a mesma
35 anos depois”, conclui ao The Guardian.
“Este é o melhor
que temos para mostrar o que aconteceu com a comunidade
de aves da floresta”, disse Vitek Jirinec, segundo
autor do artigo. Desde 2017, ele acumula registros para
monitorar as aves, durante as horas mais quentes do dia,
o que lançou novas teorias sobre o assunto. Segundo
Jirinec, isso indica a reação das aves sobre
o clima mais quente. “A mudança climática
está tornando a floresta menos adequada para essas
espécies”, conclui.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações The Guardian
Fotos: Reprodução/Hector Bottai/Wikipedia/Pixabay