Redes
sociais estão tornando aves celebridades e rivalizando
observadores
Uma
conta no Twitter espalhou a localização de
aves raras em Nova York e isso pode ser um problema
01/03/2021 – Há
algumas semanas foi o anúncio da coruja-das-neves
(Bubo scandiacus), em outubro do ano passado, a
coruja-barrada (Strix varia), em 2018, foi a vez
do pato-mandarim (Aix galericulata). Todas essas
espécies foram elevadas ao status de celebridade,
depois de chegarem ao Central Park, em Nova York, virando
notícia dos Estados Unidos à Índia,
atraindo diversos grupos de observadores. Esse foi o relato
do jornalista Daniel E. Slotnik, do The New York Times para
alertar sobre os perigos que essa exposição
pode causar a fauna silvestre.
Esses eventos estão
dividindo opiniões entre os diversos observadores
de aves, pesquisadores e conservacionistas. De um lado estão
os observadores que correm para fazer seus registros fotográficos
e vídeos para publicação nas redes
sociais e segundo eles, proporcionar a outras pessoas a
possibilidade de avistarem espécies novas e que raramente
visitam esses locais.
Por outro lado, estão
aqueles que entendem que a divulgação indiscriminada
da localização dessas aves pode atrair muitas
pessoas e criar perturbações para esses animais
e atrapalhar a própria observação de
aves.
Segundo reportagem do NYT,
o perfil Manhattan Bird Alert, no Twitter, que possui cerca
de 42 mil seguidores, é uma dessas ferramentas de
impulsionamento para observação maciça
de animais selvagens no local.
“A principal atração
do relato é o alto nível de fotografia e videografia
de aves, mas observadores sérios de aves ainda recebem
alertas de espécies raras”, disse Barrett,
acrescentando que seu relato ajudou a “tornar a observação
de aves de todos mais eficaz”, argumenta David Barrett,
responsável pelo perfil na rede social ao NYT.
Contudo para Ken Chaya,
presidente da Linnaean Society de Nova York, uma das mais
antigas organizações de observação
de aves da cidade, a justificativa de Barrett parece estar
mais focado na autopromoção do que na proteção
das aves. “Há uma linha tênue entre compartilhar
informações sobre uma ave sensível
e criar um flash mob”, disse Chaya, acrescentando
que quando você tem dezenas de milhares de “seguidores,
você não pode saber de todos eles, ou como
eles se comportam”, disse em entrevista ao NYT.
No relato de Barrett surge
outro personagem, Robert DeCandido, que organiza passeios
de aves em Nova York. Para críticos de DeCandido,
ele cria uma situação de assédio às
aves, atraindo os indivíduos para mais perto utilizando
vocalizações gravadas, iluminando as corujas
em passeios noturnos e mobilizando grandes quantidades de
pessoas.
Para Debbie Becker, que
organiza passeios há 30 anos, afirma que o uso de
sons gravados de aves é muito prejudicial para os
animais. “Ele está fazendo uma chamada de socorro”,
disse Becker, acrescentando: “É como se alguém
gritasse 'Me ajude!'”, disse ao NYT.
Apesar das polêmicas,
a coruja-das-neves pousou em uma área cercada do
Central Park e guardas-florestais mantiveram os observadores
com certa distância. Barrett enviou mensagem aos seus
seguidores para darem espaço à coruja, que
fez a primeira visita ao local em 130 anos. No final das
contas, corvos e um falcão atormentaram a coruja
mais que os humanos. A coruja permaneceu no local por um
dia.
Para grupos de observação
de aves, divulgar e permitir que muitas pessoas saibam a
localização de aves sensíveis deve
considerar muito cuidado e não limitar-se a um tweet.
Segundo Jeffrey Gordon, presidente da American Birding Association,
essas informações devem ser compartilhadas
com muita responsabilidade. “Observar aves é
baseado em compartilhamento [mas] achamos que é muito
importante moderar esse impulso de compartilhar informações
livremente com a compreensão dos impactos reais de
fazê-lo”, disse ao NYT.
Para a diretora-executiva
da Audubon, em Nova York, Kathryn Heintz, que escreveu um
email dizendo que “como as corujas são facilmente
perturbadas, não toleramos a publicação
pública da localização dessas espécies”.
Por outro lado, Heintz entende que a presença de
uma ave como a coruja-das-neves em um parque tão
famoso como o Central Park acaba atraindo a atenção
de muita gente. “Uma coruja da neve 'celebridade'
certamente atrai uma multidão - e deveria”,
disse a diretora-executiva.
Grandes multidões
para observação de aves pode trazer danos
irreversíveis. Um episódio ocorrido há
cinco anos na zona rural de Washington teve um final trágico.
Incomodado com a presença de observadores de aves
que buscavam imagens de uma coruja-gavião, uma espécie
protegida por lei, e com raiva pelas aglomerações,
um homem acabou matando a coruja, identificado, foi multado
em 5 mil dólares, cerca de R$ 28 mil.
A Pick-upau privilegia sempre
o bem estar do animal, por isso evitamos ao máximo
utilizar vocalizações gravadas para atrair
os indivíduos, pois é um procedimento que
se não for feito com moderação pode
estressar os animais e a prática de observação
da fauna ou da pesquisa científica quase sempre não
justifica a utilização de tais métodos.
Atualmente existem muitos recursos tecnológicos que
podem ser utilizados como câmeras trap que rendem
ótimos registros para a ciência e para educação
ambiental, binóculos com excelente qualidade que
nos permite observar os detalhes sem estar muito próximo
dos animais e quando estes dispositivos não estão
ao nosso alcance, podemos simplesmente observar e contemplar
a natureza deixando de lado a necessidade vaidosa de registrar
uma espécie a qualquer custo.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações do The New York Times e agências
internacionais.
Fotos: Reprodução/Pixabay