Mercado
Livre é a única empresa a se recusar excluir
produto nocivo à biodiversidade
Empresa
de comércio eletrônico ignorou dezenas de pedidos
de exclusão
15/07/2021 – Quem
se identifica com a causa da preservação do
meio ambiente, tem prazer na observação de
aves e compreende a importância de morcegos e outros
animais silvestres para a vida no planeta, pode pensar mais
na hora de fazer compras online. Para quem acredita que
responsabilidade socioambiental, ética ambiental
e sustentabilidade são importantes podem escolher
alternativas.
Quem já precisou
entrar em contato com o Mercado Livre para fazer qualquer
tipo de reclamação já conhece as dificuldades.
Apesar do Código do Consumidor exigir uma série
de garantias e direitos ao cidadão e do atual nível
tecnológico em que vivemos a empresa não possui
um canal direto com o consumidor, não tem um ombudsman,
nem mesmo uma ouvidoria, enviar um e-mail é impossível,
não há nenhum canal no site ou nas redes sociais
para isso. Comentários nas redes sociais são
sistematicamente selecionados pela empresa e o espaço
de denúncias é totalmente inútil.
Mesmo com toda a argumentação
técnica, científica, econômica, os alertas
sobre riscos de conformidade, estratégico, de integridade
e de reputação. Da informação
de outras oito empresas que já haviam atendido a
solicitação da Pick-upau, como Extra, Ponto
Frio (Ponto), Casas Bahia, Carrefour, Magalu, Shoptime,
Americanas e Submarino, o Mercado Livre ignorou sumariamente
as dezenas de pedidos para a exclusão do equipamento
“Espanta Pássaro Guardian 2 Eco À Gás
Portátil Com Pedestal Fixo” e as solicitações
sequer foram analisadas.
Histórico
Há dois meses uma ativista da Agência Ambiental
Pick-upau, ao realizar pesquisas de mercado de insumos para
a organização se deparou com o equipamento
intitulado “Espanta Pássaro Guardian 2 Eco
À Gás Portátil Com Pedestal Fixo”.
Uma espécie de bazuca que deveria ser conectado em
um botijão de gás GLP, e que prometia, segundo
sua descrição, espantar aves, roedores, morcegos
e qualquer outro animal que pudesse ser considerado uma
ameaça para sua produção.
Tudo parecia um erro naquele
anúncio. Uma imagem agressiva, que nada combinava
com a plataforma; o uso de gás GLP, por certo um
risco imenso à vida, até o próprio
anunciante alerta para uso longe de crianças; a ausência
completa de estudos ou justificativas científicas
que aquele equipamento não causaria danos à
saúde humana ou a biodiversidade. Até o escárnio
de chamar o produto de ‘eco’, querendo atribuir
ao equipamento um teor ecológico que jamais teria.
Ruídos causam danos
à saúde e a biodiversidade
Distúrbios antropogênicos têm sido apontados
como a principal causa da crise mundial da biodiversidade
(Brumm 2010a). Alguns distúrbios têm menos
atenção de pesquisadores e conservacionistas
porque seus efeitos são mais difíceis de medir,
sobretudo quando afetam espécies em um nível
subletal, como é o caso da poluição
sonora (McGregor 2013). O ruído pode ser definido
como qualquer som indesejado e, no contexto das interações
sociais, ele interfere na detecção de um sinal
e na transmissão de sua informação
(Forrest 1994).
Nas últimas décadas
houve um aumento muito grande da poluição
sonora devido ao crescimento populacional, urbanização
e globalização das redes de transporte e a
estimativa é de que ela vai continuar em crescimento
(Shannon et al 2016). Em geral o ruído proveniente
de fontes humanas abarca um amplo espectro de frequência
entre 50Hz a 7000Hz (Simmons & Narins 2018). O ruído
desconhece fronteiras definidas, como as margens das rodovias,
neste caso os animais estão sujeitos a uma substancial
e descontrolada degradação da percepção
de sons importantes para sua reprodução e
sobrevivência (Barber et al. 2010).
A poluição
sonora advinda de atividades humanas é uma forma
muito preocupante de poluição que pode ter
impactos maciços na saúde humana e também
em outros animais (Brumm and Slabbekoorn 2005). O assunto
tem sido foco de pesquisa e regulação em humanos
(Murphy and King 2014), e os resultados são preocupantes
para a saúde, incluindo aumento do risco de doenças
cardiovasculares (Babisch et al. 2005; Hansell
et al. 2013), privação do sono (Fyhri
and Aasvang 2010) e comprometimento cognitivo (Szalma and
Hancock 2011).
Um relatório sobre
o tema foi publicado pela Organização Mundial
de Saúde, há alguns anos, estimando que só
na União Europeia mais de 200.000 pessoas morrem
todos os anos devido a doenças induzidas pelo ruído
(OMS, 2009). Já se sabe que muitos dos efeitos potenciais
do ruído audível antropogênico em humanos
(Miedema and Vos 2003; Basner et al. 2014) se aplicam
igualmente aos animais (Francis and Barber 2013; Shannon
et al. 2016).
A poluição
sonora pode ser um problema para as funções
auditivas (Barber et al. 2010; Simmons and Narins 2018).
As espécies geralmente ouvem um leque mais amplo
de sons do que são capazes de produzir e, além
disso, a audição continua a funcionar mesmo
quando os animais não produzem sons, isso inclui
atividade de sono ou hibernação, por exemplo.
Isso significa que elas estão expostas continuamente
aos efeitos do ruído ao seu redor (Barber et
al. 2010). Dessa forma, a poluição sonora
pode agir, por exemplo, como um estressor geral (Naguib
2013), influenciando vários processos vitais, desde
regulação gênica (Cui et al.
2009) a processos fisiológicos como pressão
arterial (Evans et al. 2001), resposta imune (Van Raaij
et al. 1996; Cheng et al. 2011), medo (Campo
et al. 2005) ou atenção e cognição
(Cui et al. 2009). (Informações extraídas
de Caorsi. V. Z., 2018).
A resposta a um estímulo
estressor é essencial para a homeostase de um ser
vivo e sua sobrevivência. O organismo reage sob condições
de estresse, ativando e desativando o mecanismo de controle
de várias funções, a fim de recuperar
e manter a homeostase. Contudo, essas respostas podem ser
insuficientes para restabelecer ou manter a homeostase,
ou podem ser exageradas, representando risco de doenças.
Portanto, o estresse pode ser definido como a soma de respostas
físicas e mentais, causadas por determinados estímulos
externos e que permitem ao indivíduo superar determinadas
exigências do meio-ambiente (FRANCI, 2005). Em uma
situação de estresse, o corpo se prepara para
reagir a situações de ameaça e este
processo aumenta o gasto de energia. Enquanto certa quantidade
de estresse é necessária para a sobrevivência,
o estresse prolongado pode afetar negativamente a saúde
(BERNARD & KRUPAT, 1994).
Em situações
de estresse, ocorre a ativação de duas principais
vias: o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA),
através do aumento da produção de cortisol
e o sistema nervoso simpático, através da
liberação de catecolaminas (Noradrenalina/
Adrenalina). A desregulação de qualquer um
desses sistemas de estresse pode levar a distúrbios
fisiológicos de vários outros sistemas, incluindo
os sistemas imunológicos, cardiovascular, função
metabólica e comportamento, levando a má adaptação
da resposta ao estresse (MARQUES et al., 2010).
Os estímulos que
causam o estresse podem ser classificados em quatro grupos:
estressores físicos e químicos (calor, frio,
barulho, radiação intensa e substâncias
tóxicas); psicológicos (medo e frustração);
sociais (um ambiente hostil e rompimento de relações)
e os que alteram a homeostase vegetativa, como em casos
de exercício intenso e hemorragias. Quanto à
duração, os estímulos causadores de
estresse podem ser ainda classificados como agudos ou crônicos
(PACÁK & PALKOVITS, 2001). (Informações
extraídas de Franzini de Sousa, C. C., 2015).
Empresa amarelou
O comportamento do Mercado Livre nem de longe é aquele
demonstrado em suas campanhas publicitárias. Nesse
episódio a empresa de comércio eletrônico
apresentou sistematicamente um comportamento em desacordo
com a responsabilidade socioambiental, direito dos consumidores
e qualquer respeito à biodiversidade. Ao menos na
Agência Ambiental Pick-upau a empresa foi banida de
processos de compras, conforme prevê nosso Programa
de Compliance. Não se trata de um cancelamento, sabemos
que a empresa não terá prejuízos financeiros
quanto a isso, mas ficará cada vez distante de ser
uma companhia responsável e atenta ao meio ambiente.
O anúncio do equipamento
“Espanta Pássaro Guardian 2 Eco À Gás
Portátil Com Pedestal Fixo”só foi excluído
depois de muita pressão sobre o marketplace Estrela
10, que mantinha os dois anúncios no Mercado Livre.
As duas empresas precisam melhorar muito no quesito comunicação
e responsabilidade socioambiental e cometem um erro estratégico
quando acreditam que não devem satisfação
à sociedade.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informação técnicas da bióloga-chefe
da Pick-upau, Viviane Rodrigues Reis
Fotos: Reprodução/Pixabay