Região
pobre de oxigênio no oceano é mais variável
do que se pensava
Estudo
traz descobertas sobre a maior zona de deficiência
de oxigênio do mundo
16/04/2025 – A análise
da razão de isótopos de nitrogênio em
esqueletos de corais revela variações significativas,
de caráter decadal, no tamanho da maior zona de deficiência
de oxigênio (ODZ) do mundo nos últimos 80 anos.
Esses resultados indicam que a ODZ é mais dinâmica
do que se imaginava anteriormente, sugerindo que ela pode
responder rapidamente às mudanças climáticas
nas próximas décadas, com impactos importantes
nos ecossistemas marinhos.
Diversas regiões
do Oceano Tropical abrigam pesqueiros altamente produtivos,
que alimentam milhões de pessoas e desempenham um
papel crucial na estabilidade socioeconômica de muitos
países ao redor do mundo. No entanto, essa abundância
natural também pode gerar condições
adversas para a vida marinha. Isso ocorre porque a biomassa
gerada nessas áreas afunda para as profundezas e
é degradada por bactérias.
Esse processo de decomposição
consome oxigênio devido à respiração
bacteriana, resultando na formação de vastas
áreas com deficiência de oxigênio dissolvido,
a centenas de metros abaixo da superfície. Essas
regiões com pouca ou nenhuma presença de oxigênio
são denominadas Zonas Deficientes de Oxigênio,
ou ODZs. A maior ODZ do planeta encontra-se no Pacífico
Tropical Oriental, estendendo-se da costa da América
Central em direção ao Pacífico Central.
Devido à proximidade
entre a grande massa de água com baixo teor de oxigênio
e os ecossistemas marinhos altamente produtivos acima dela,
entender os ritmos naturais e as variações
no tamanho e posição da zona de deficiência
de oxigênio (ODZ) tem sido uma prioridade de pesquisa.
Muitos estudos de modelagem demonstraram preocupação
com a possibilidade de o aquecimento global expandir o volume
dessas águas pobres em oxigênio devido a mudanças
nas correntes oceânicas e na solubilidade do oxigênio.
No entanto, como as séries temporais de concentrações
de oxigênio dissolvido são limitadas nessa
região remota, ainda não é possível
afirmar com certeza se esse processo já está
em andamento.
Para investigar essa questão,
uma equipe internacional de pesquisa liderada pelo Instituto
Max Planck de Química, com a colaboração
de cientistas da Universidad Autónoma de Baja California
(México), da Scripps Institution for Oceanography
(EUA), do Museu de História Natural Senckenberg (Alemanha)
e da Universidade de Princeton (EUA), reconstruiu a evolução
dos níveis de oxigênio no Pacífico Tropical
Oriental nos últimos 80 anos.
Os pesquisadores documentaram
os aumentos e diminuições naturais da ODZ
no Pacífico Norte Tropical Oriental por meio de um
conjunto de observações, cujos resultados,
publicados na revista Science, mostraram que a variabilidade
climática decadal do Pacífico controla o tamanho
dessa ODZ por meio de mudanças na intensidade dos
ventos de leste. A estreita relação entre
a força desses ventos e a extensão das águas
com baixo teor de oxigênio indica que as ZDOs são
mais dinâmicas do que se imaginava e podem responder
rapidamente às mudanças climáticas
nas próximas décadas, com impactos significativos
nos ecossistemas marinhos.
A equipe fez essa descoberta
utilizando registros geoquímicos de corais duros,
medindo a razão de isótopos de nitrogênio
na pequena quantidade de matéria orgânica retida
no esqueleto do coral, o que se revelou um novo traçador
da concentração de oxigênio no oceano.
Em águas pobres em oxigênio, processos bacterianos
complexos alteram a composição isotópica
do nitrato, deixando uma "impressão digital"
geoquímica nesse nutriente essencial para os ecossistemas
dos recifes de corais acima. O nitrato proveniente da ODZ
é transportado para a superfície por mistura
e difusão, onde auxilia os corais em seu crescimento.
Ao fazer isso, a impressão digital isotópica
da ODZ é transferida para o esqueleto do coral, sendo
registrada e preservada na matéria esquelética
da colônia, permitindo a inferência sobre as
variações da Zona de Deficiência de
Oxigênio (ZDO) no passado.
Os corais analisados neste
estudo foram coletados durante uma expedição
às ilhas remotas do Arquipélago Revillagigedo,
localizado no Oceano Pacífico, próximo à
maior zona de deficiência de oxigênio (ODZ)
do planeta. Sob a liderança de Alan Foreman e com
a colaboração do Sailing Yacht Acadia (Fundação
Mark e Rachel Rohr), a expedição recuperou
vários núcleos de corais do tipo Porites,
que crescem no fundo rochoso das Ilhas San Benedicto e Socorro.
A superfície desses corais é formada por milhares
de pólipos, pequenos organismos que secretam carbonato
de cálcio, contribuindo para a formação
do esqueleto do coral.
Os depósitos no esqueleto
de coral variam em densidade ao longo do ano, criando marcadores
cronológicos claros, com faixas de alta e baixa densidade
que se assemelham aos anéis anuais de uma árvore.
Usando essas bandas alternadas, os cientistas conseguiram
reconstruir séries temporais detalhadas da variabilidade
da ODZ. Para complementar os dados, os núcleos coletados
durante a expedição foram integrados com amostras
adicionais recolhidas anteriormente por José Carriquiry
(Universidad Autónoma de Baja California), Sara Sanchez
(University of Boulder, Colorado) e Christopher Charles
(Scripps Institution for Oceanography).
Da Redação,
com informações de agências internacionais
Fotos: Reprodução/Pixabay
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