DEFENSOR DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
É ASSASSINADO NO PARÁ
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) Brasil
Agosto de 2001
|
 |
Ademir Alfeu Federicci
foi baleado em sua casa na madrugada de 25/08. Acredita-se
que o crime tenha motivação política,
já que Dema, como era chamado, era a principal
liderança em Altamira (PA) na luta contra latifundiários,
madeireiros e barragens. Uma manifestação
acontecerá na sexta-feira em protesto contra a
violência na região.
Na madrugada de 25/08,
por volta de 02:30 horas, Ademir Alfeu Federicci, um dos
coordenadores do Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica
e do Xingu (MDTX)) foi assassinado. Segundo relato da
polícia civil local, sua casa foi invadida por
um homem armado, com quem Dema travou luta corporal e
de quem recebeu um tiro que o atingiu na cabeça.
A versão oficial dá conta de que se tratou
de um assalto. Mas, de acordo com Ayrton Faleiro, diretor
de Política Agrária da Contag (Confederação
Nacional dos Trabalhadores Agrícolas), não
foi realizada perícia no local, nem exame de balística
e o corpo só chegou à funerária duas
horas depois de ter sido retirado da casa.
Ayrton Faleiro contou à reportagem do ISA, por
telefone, que Dema era o principal interlocutor público
para o projeto de desenvolvimento sustentável da
região. Além disso, ele apoiava a recente
investigação da polícia federal em
Medicelândia sobre desvio de recursos destinados
a projetos financiados pela Sudam e defendia a criação
de três grandes Unidades de Conservação,
indo contra interesses de madeireiros.
Enquanto integrante do MDTX, Dema, atuava no movimento
de resistência contra a construção
das barragens no Xingu, buscando esclarecer e mobilizar
as comunidades, sindicatos, cooperativas e associações
da Transamazônica para a elaboração
de um projeto de desenvolvimento sustentável para
região.
Em manifesto divulgado pela Federação de
Órgãos para Assistência Social e Educacional
(Fase), o coordenador Jean-Pierre Leroy denuncia que organizações
ligadas à Reforma Agrária e à agricultura
familiar no Pará, em particular no sul do estado
(Conceição do Araguaia e Marabá)
e na Transamazônica, são "vítimas
de uma violência que lembra os tempos da ditadura".
Leroy afirma que esse é o contexto em que se insere
o movimento no qual estava engajado Ademir Federicci:
"O MDTX luta por um outro modelo de desenvolvimento
na Amazônia e contra a barragem de Belo Monte, opondo-se
à entrega da Amazônia Brasileira a supostos
baluartes e promotores de um desenvolvimento que visa
tão somente o enriquecimento de poucos às
custas da destruição da floresta e da marginalização
da maioria da sua população."
A previsão da construção da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no município
de Vitória do Xingu (PA), tem sido motivo de controvérsias.
De um lado estão ambientalistas e movimentos sociais,
trabalhadores rurais e habitantes da região contra
a construção. De outro, a Eletrobrás
e a Eletronorte, órgãos do governo federal,
que lutam pela aprovação rápida do
Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), e por conta disso,
estão "atropelando" o processo de consulta
pública.
Contra a violência na região e em repúdio
ao assassinato de Ademir Federicci, será realizada
na sexta-feira uma grande manifestação em
Altamira, que contará com a presença de
lideranças locais, trabalhadores de toda a região
e atores políticos de diversas partes do Brasil.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Ricardo Barreto)