Após um ano de preparativos
com intensa participação dos Wajãpi,
foi inaugurada no dia 22/03, no Museu do Índio
no Rio de Janeiro, a mostra que apresenta objetos, sons,
imagens e conhecimentos da cultura desse povo indígena,
além de uma jurá, casa tradicional construída
pelos índios nos jardins do museu. Todo o trabalho
foi concebido por Dominique Gallois, antropóloga
que trabalha com os Wajãpi há 25 anos.
Viajar até as aldeias dos índios Wajãpi
no Estado do Amapá para entender e respeitar
sua cultura e seu modo de vida. Para isso, a antropóloga
Dominique Gallois dividiu em duas partes a exposição
montada no Museu do Índio, da Fundação
Nacional do Índio (Funai).
Na primeira, o visitante se aproxima da visão
de mundo dos Wajãpi, conhecendo suas festas e
mitos e o olhar dos pajés. Objetos da cultura
indígena, como máscaras, flautas e cantos;
instalações com histórias em quadrinhos,
figuras míticas e uma montagem simbolizando como
os pajés vêem os animais de forma semelhante
aos seres humanos; e vídeos com cenas de festas,
danças, momentos do cotidiano e os vários
tipos de flautas tradicionais estão entre os
elementos dessa parte. Um destaque é uma animação
descrevendo a cosmografia Wajãpi, ou seja, como
conhecem e representam a estrutura do universo, que
está ligada a noções de passado,
presente e futuro.
A segunda metade da exposição está
centrada no conhecimento e usos da floresta pelos Wajãpi.
Adornos de plumária, elementos da vestimenta
e desenhos com a arte gráfica empregada na pintura
corporal e na decoração de artefatos são
alguns exemplos. Textos e ilustrações
nas paredes e a instalação de um "livro
dos conhecimentos" mostram as formas de manejo
florestal durante as estações do ano e
os ciclos tradicionais de ocupação de
roças, pátios, aldeias e capoeiras. Registrados
em fotografias estão a divisão do trabalho
entre homens e mulheres e os desafios dos Wajãpi
na sua convivência com a sociedade não-indígena.
Além disso, é possível conhecer
uma jurá, casa tradicional feita a partir de
troncos de palmeiras e reservada ao convívio
íntimo da família. A "réplica"
foi construída por alguns Wajãpi no jardim
do museu e contém objetos e artefatos utilizados
pelas famílias no dia-a-dia.
Para as crianças, existe um programa especial,
com brincadeiras ambientadas nas aldeias e na floresta
dos índios da Amazônia.
Desafio e repercussão
Essa foi a primeira vez que o Museu
do Índio se propôs a montar uma exposição
sobre um grupo indígena específico. "Foi
um desafio. Esperamos que dê aos visitantes uma
idéia mais ampla do que seja um patrimônio
cultural e permita entender algumas concepções
de tempo e espaço na Amazônia, a partir
de particularidades dos Wajãpi", explica
Dominique Gallois. A antropóloga ressalta que
a participação tão intensa de um
grupo indígena da Amazônia na preparação
de uma exposição também é
inédita. Para reunir um acervo de caráter
atual, os Wajãpi das 40 aldeias do Amapá
produziram e selecionaram 333 objetos, como adornos,
peças de vestimenta e cestarias, todos identificados
com os nomes dos autores.
Segundo Dominique, a reação dos índios
ao evento foi positiva, ainda que não estejam
acostumados a fazer de sua música e dança
um objeto de exposição, como aconteceu
na abertura, com a apresentação da orquestra
de flautas. A repercussão entre os visitantes
tem sido muito boa. No fim de semana de abertura, 1.200
pessoas estiveram no museu, sendo que 300 se reuniram
para um bate-papo com os Wajãpi no domingo.