Entrevista com Gersen Baniwa,
coordenador do Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas
- PDPI, convidado especial da última reunião
do Conselho Indigenista da Funai, realizada no dia 22
de fevereiro, na sala de reunião da presidência
da Funai. Gersen é formado em filosofia pela
Universidade Federal do Amazonas, atuou durante 10 anos
na Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira-Coiab
e também no Fórum das Organizações
Indígenas do Alto Rio Negro.
Como nasceu a idéia de criar
o PDPI?
O PDPI nasceu da parceria da Funai com o Programa Integrado
de Proteção às Populações
e Terras Indígenas da Amazônia Legal -
PPTAL. O atual diretor de Assuntos Fundiários
da Funai, Artur Nobre, na época coordenador do
PPTAL, apoiou e trabalhou junto com os índios
na concepção do PDPI. Com a concordância
da Funai, decidiu-se ligá-lo ao Ministério
do Meio Ambiente-MMA, onde já se formalizaram
inúmeras parcerias com organismos internacionais
e, portanto, há o domínio com eficácia
sobre a parte administrativa dos acordos de financiamento
e suas negociações. A idéia era
criar uma forma de incentivar os índios a se
organizarem legalmente e buscarem recursos e meios de
sustentabilidade para suas comunidades, garantindo a
preservação das florestas.
Qual o objetivo do PDPI?
O PDPI é componente do PPG7. Tem como objetivo
analisar projetos elaborados exclusivamente por organizações
indígenas e destinar recursos para os mesmos,
sempre visando a proteção das florestas
tropicais.
Você está no Projeto
desde o seu início. Como começou a sua
participação?
Eu coordenei a elaboração do PDPI, indicado
pela Coiab. No MMA fiz um treinamento específico
para poder me inteirar e saber negociar com os cooperadores
internacionais, pois os acordos são formalizados
diretamente com as organizações indígenas.
Depois de aprovados os projetos, os recursos vão
direto para as nossas organizações. Não
passam pelo governo brasileiro. Temos que estar muito
bem preparados para sermos os gestores dos projetos.
Diminui a burocracia, mas aumenta a responsabilidade
para as organizações indígenas.
No meu caso, pude aproveitar minha experiência
no Plano Demonstrativo da Amazônia- PDA.
O que você destaca como mais
importante na concepção do PDPI?
O fato de ser um projeto específico para os índios
e do qual estamos participando desde o começo.
Na mesa de negociações tivemos que ceder
a algumas exigências impostas pelos doadores,
os países do primeiro mundo, principalmente a
Alemanha, mas estaremos sempre lutando para torná-lo
mais abrangente.
Que tipo de projeto as organizações
indígenas têm que apresentar?
O PDPI tem três linhas temáticas: projetos
de atividades econômicas que promovam o equilíbrio
ambiental e novas experiências; projetos de proteção
e fiscalização para manter a integridade
dos territórios indígenas. Por fim, um
tema que considero uma vitória de nossa gente,
pois pela primeira vez, um programa incluiu a área
cultural com a mesma importância das demais. O
PDPI aceita projetos de pesquisa lingüística
e artística em geral (cerâmica, ritos,
cantos, etc) para recuperação da cultura
dos povos indígenas da Amazônia Legal.
Quais as limitações
do Projeto?
Na mesa de negociação com os países
doadores, mesmo com o apoio do MMA, não conseguimos,
por exemplo, estender o projeto a todo país.
Só os noves estados que compõem a Amazônia
Legal - Amazonas, Pará, Acre, Rondônia,
Amapá, Roraima, Noroeste do Maranhão,
Norte do Mato Grosso e Tocantins - podem ser contemplados.
Ficam excluídos os índios do Nordeste,
do Sul e do Centro-Oeste. Ainda pretendemos lutar para
conseguir estendê-lo às organizações
indígenas de todo o País. Outra limitação
é que os projetos têm que ser dirigidos
às terras indígenas demarcadas ou reconhecidas
por portaria do Ministério da Justiça,
mesmo que ainda não estejam homologadas. Queremos
que todas as 586 terras indígenas existentes
possam se beneficiar.
E os recursos?
Durante cinco anos será investido um total de
17 milhões de dólares em projetos aprovados.
Além disso, o governo brasileiro investirá
2 milhões e meio de dólares para o gerenciamento
do Projeto. Esses recursos vão equipar a gerência
do PDPI e capacitar as organizações indígenas
para a elaboração, administração
e acompanhamento de projetos. Isso incluiu a contratação
de pessoal especializado, compra de equipamentos, despesas
com viagens às terras indígenas onde os
projetos estarão sendo desenvolvidos, etc.
Quem aprova os projetos?
Uma comissão paritária. Quatro índios
e um representante da Funai, um do MMA, um do Ibama
e um do Banco do Brasil aprova ou reprova projetos com
custos de 50 a 260 mil reais. Abaixo desse valor, um
comissão interna do PDPI analisa e dá
o resultado.
O PDPI já aprovou algum projeto?
Até o final de março, pretendemos anunciar
os projetos já apresentados, com valor abaixo
de 50 mil. Queremos analisar os projetos pequenos em
60 dias e os grandes em 120. Se você vai apresentar
um projeto ao BNDES, por exemplo, em geral, leva até
um ano para o recurso chegar às suas mãos.
Quando chega, o valor está defasado e aí
torna-se necessário renegociar com a instituição.
Já receberam muitos projetos?
Nossa expectativa era maior. Até agora só
recebemos 20 projetos. Todos estão na fase de
triagem. É a etapa de conferência para
analisarmos se os dados e documentos estão corretos,
se associação está legalmente constituída
e, principalmente, se o projeto se encaixa nos temas
para os quais o financiamento é dirigido. Os
três que já mencionei ainda a pouco.
Como fazer para melhorar a atuação
das organizações na preparação
de projetos?
Com recursos britânicos estamos formando e capacitando
índios para dar apoio técnico às
organizações. É o que chamamos
de grupos de referência. Para muitas ainda é
complicado preparar um projeto adequado às exigências
dos doadores e que atenda às necessidades das
comunidades indígenas. Já realizamos 16
oficinas para explicar o PDPI, no segundo semestre do
ano passado. Agora vamos dar uma assistência direcionada
para as organizações poderem preparar
projetos e capacitar índios para o gerenciamento
dos mesmos.