A contaminação
de sedimentos em estuários e áreas
portuárias devido à poluição
não é um problema restrito apenas
a países em desenvolvimento como o Brasil.
É uma preocupação também
das nações mais desenvolvidas, que
mesmo com toda uma tecnologia avançada de
controle ambiental, ainda enfrentam os mesmos problemas
encontrados, por exemplo, no estuário de
Santos, em São Paulo, onde a CETESB - Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental mantém
um monitoramento preventivo da qualidade de suas
águas e sedimentos, para evitar que haja
um dano de significativo impacto ambiental.
Da mesma forma, a população em áreas
no entorno do Porto de Nova York está recebendo
a recomendação para que não
consuma peixes coletados na região. O motivo
é a contaminação dos sedimentos
daquela bacia por compostos químicos tóxicos
e carcinogênicos, como as bifelinas policloradas
- conhecidas por PCBs - e dioxinas, que já
foram detectados não somente em organismos
aquáticos, mas também em seres humanos,
inclusive no leite materno.
A informação é de Mark Teiss,
da Environmental Protection Agency - EPA, agência
ambiental dos Estados Unidos, em palestra na terça-feira
(16/4) no Seminário sobre Gerenciamento do
Sedimento na Baixada Santista, que está sendo
promovido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente
e CETESB, com encerramento previsto para amanhã
(17/4). O encontro, iniciado na última segunda-feira,
encerra-se com mesas redondas onde participarão
representantes da Marinha do Brasil, Ministério
Público, CETESB, FIESP, Prefeitura de Santos
e técnicos das agências ambientais
da Holanda, Canadá e Estados Unidos.
Segundo o técnico da EPA,
a contaminação do Porto de Nova York
é similar à do estuário de
Santos, tanto no aspecto de gerenciamento como no
da contaminação dos sedimentos e de
organismos aquáticos, exigindo estudos para
um diagnóstico mais adequado do problema.
"E a situação está se
tornando cada vez pior com referência à
contaminação por mercúrio",
confirmou Mark Reiss, que em sua palestra utilizou
dados sobre toxicidade, gerenciamento de riscos,
modelos matemáticos e equações
de avaliação do grau de risco e propostas
de remediação, disponíveis
em sites da própria EPA (www.epa.gov)
e do Corpo de Engenheiros do Exército Norte-americano
(www.wes.army.mil).
O problema em Nova York, segundo Reiss, se repete
em toda a costa dos Estados Unidos onde há
atividades industriais intensas e terminais de carga
de porte. Embora não haja conclusões
sobre os riscos para a saúde humana, já
há determinação para que algumas
dessas áreas sejam dragadas para a remoção
de PCBs e outros compostos químicos perigosos
ao ambiente aquático.
Grandes Lagos
Também na Província
de Ontário, no Canadá, as autoridades
locais enfrentam problemas com a deposição
de sedimentos em terminais de carga. Segundo o consultor
Rein Jaagumagi, que trabalhou por vários
anos para o órgão ambiental dessa
província, a área no entorno do Porto
de Hamilton, nos Grandes Lagos, apresenta um grau
de contaminação tão elevado
que impossibilita a existência de vida aquática.
Duas indústrias siderúrgicas e outras
empresas são responsáveis pela disposição
de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos,
metais pesados e PCBs, considerados carcinogênicos,
que afetam a qualidade de organismos aquáticos,
exigindo a restrição do seu consumo
pela população. Uma restrição
preventiva, pois não há ainda estudos
conclusivos sobre os efeitos dessa contaminação
na saúde humana, apesar de o governo local
desenvolver programas de monitoramento dos peixes
e do seu consumo.
Além disso, a dragagem de cerca de 4 milhões
de m3 de sedimentos na região mais crítica,
que representa 10% da área total, está
sendo negociada com as empresas desse pólo
industrial. Segundo o especialista canadense, estimativas
realizadas há dois anos indicam que seriam
necessários US$ 2 bilhões para a recuperação
total da área.
Tanto o representante da EPA como o técnico
canadense entendem que os modelos desenvolvidos
para avaliação e gerenciamento dos
sedimentos em portos e estuários não
se aplicam, necessariamente, de forma genérica,
a qualquer área contaminada, em razão
das peculiaridades de cada região, bem como
aos hábitos alimentares da população,
o tipo de pescado consumido, os tipos de contaminantes
presentes nos organismos aquáticos e os valores
de toxicidade.
Mesas-redondas
"Existem abordagens diferentes
em cada país e a escolha de cada abordagem
depende de decisões administrativas ou de
políticas ambientais. No caso do Brasil,
o que ficou claro é a necessidade de mais
estudos, bem como definir quais os objetivos de
proteção preconizados para a região
da Baixada Santista e de utilização
das áreas envolvidas", disse Marta Lamparelli,
gerente da Divisão de Análises Hidrobiológicas
da CETESB. "Amanhã, teremos a oportunidade
de colocar frente a frente as abordagens praticadas
pelos diversos países, as soluções
propostas e as metas para resolver os nossos problemas".
Nesta quarta-feira (17/4), último dia do
seminário, terão lugar duas mesas
redondas,
a primeira, a partir das 9 horas, com o tema "Critérios
de Qualidade de Sedimentos e Remediação",
e a segunda, a partir das 14 horas, com o tema "Perspectivas
de Desenvolvimento Ambiental e Recuperação
da Região com Enfoque de Qualidade".