Panorama
 
 
 

COMUNIDADES TRADICIONAIS BLOQUEIAM RIO NA AMAZÔNIA PARA PROTESTAR CONTRA A DESTRUIÇÃO DA FLORESTA

Panorama Ambiental
Porto de Moz (PA) – Brasil
Setembro de 2002

Quatorze anos depois da morte de Chico Mendes, comunitários lutam pela criação da Reserva Extrativista Verde Para Sempre a fim de proteger sua terra invadida por madeireiros

Quatorze anos depois da morte do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes, 600 comunitários tradicionais da Amazônia Brasileira bloquearam hoje o Rio Jaraucu, em Porto de Moz, no Pará, para protestar contra a destruição da floresta e pedir a criação da Reserva Extrativista Verde Para Sempre (1).

Greenpeace
O Rio Jaraucu é o principal meio para transporte de madeira ilegal na região. Os manifestantes estenderam uma faixa de 17 metros com a mensagem: “Chega de Destruição” e fecharam o rio de 100 metros de largura com mais de 50 barcos. O Greenpeace, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e outras organizações (2) se uniram ao protesto para apoiar a luta das comunidades pela proteção da sua terra, freqüentemente invadida por madeireiros. Porto de Moz é uma pequena cidade na foz do Rio Xingu com o Rio Amazonas, localizada no norte da região conhecida como Terra do Meio, no estado do Pará. A região está situada em uma área de oito milhões de hectares e é rica em florestas de terra firme, igapós e várzeas.

Também é o lar de 125 comunidades com 15 mil habitantes que vivem em áreas rurais. A região é conhecida por grilagem de terras e ilegalidades envolvendo companhias madeireiras. Fazendeiros e madeireiros invadem áreas de floresta, abrem estradas ilegais e ameaçam as comunidades tradicionais que dependem do meio ambiente para sobreviver. A exploração de madeira em larga escala na região começou em 11000, com a redução dos estoques de tradicionais centros de produção do leste do Pará, após anos de exploração intensa e predatória. Hoje, muitas áreas de floresta foram exaustivamente exploradas e, em muitos casos, convertidas em pastos. A Amazônia Brasileira perdeu 15% de sua cobertura florestal nos últimos 30 anos. Cerca de 20% das áreas desmatadas estão totalmente degradadas ou abandonadas.

As comunidades lutam pela criação da Reserva Extrativista Verde Para Sempre (3) para barrar a destruição e promover o uso sustentável dos recursos naturais da região. A área proposta tem 1,3 milhão de hectares, o equivalente a quase metade do território da Bélgica.

“Madeireiros e fazendeiros estão invadindo nossa terra e destruindo nossa floresta e o futuro dos nossos filhos. Eles devem sair e devolver a floresta para seus reais donos: as pessoas da Reserva Verde Para Sempre”, disse Cláudio Wilson Barbosa, coordenador do Comitê para Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz.

A proposta de criação da Reserva Verde Para Sempre começou em 1999, em Porto de Moz, quando um Grupo de Trabalho foi criado para discutir o uso e manejo sustentável dos recursos naturais da região. Madeireiros fazendeiros e políticos locais são contra o modelo por interesses econômicos e políticos. Eles alegam que Reservas Extrativistas não permitiriam o desenvolvimento econômico da região. Alguns até usam da violência para interromper o processo. No entanto, a criação da Reserva é de responsabilidade do Governo Brasileiro, assim como a proteção das comunidades tradicionais e do meio ambiente da região.

“Estamos aqui para apoiar a luta destas comunidades por sua terra, que é freqüentemente invadida por madeireiros”, disse Marcelo Marquesini, da campanha da Amazônia do Greenpeace. “O Greenpeace acredita que Reservas Extrativistas são um dos caminhos para garantir o uso sustentável dos recursos naturais e que as comunidades tradicionais são os primeiros interessados na proteção da floresta e do meio ambiente, de que dependem para sobreviver. O Governo Brasileiro deve agir agora para barrar a destruição em Porto de Moz através da criação da Resex Verde Para Sempre”.

Durante o protesto, o Greenpeace lançou o mapa da disputa em Porto de Moz. Resultado de mais de cinco anos de investigações, o mapa revela áreas de exploração ilegal, grilagem de terras e áreas de floresta controlada por madeireiras. Companhias nacionais e internacionais, como a Curuatinga, DLH Nordisk, Eidai, Marajó Island Business, Madenorte, Porbrás e Rancho da Cabocla estão direta ou indiretamente envolvidas com exploração na região. O Greenpeace demanda destas companhias que devolvam a floresta para as comunidades de Porto de Moz e para que os consumidores parem de comprar madeira proveniente da região até que a Reserva seja criada.

(1) Reservas extrativistas (Resex) são áreas protegidas por lei, destinadas à conservação e ao manejo sustentável dos recursos naturais, realizado por populações tradicionais que residem na área. Este modelo foi desenvolvido nos anos 80 por ribeirinhos sob a liderança do sindicalista Chico Mendes e do Conselho Nacional de Seringueiros, e foi adotado pelo Governo Federal em 11000. Estas reservas garantem às famílias locais o direito coletivo do uso da terra e de seus recursos naturais, permitindo que as comunidades continuem vivendo de suas atividades econômicas tradicionais ao mesmo tempo em que preservam o meio ambiente. O assassinato de Chico Mendes por fazendeiros em dezembro de 1988 o tornou conhecido mundialmente como ativista ambiental. Em 11000, o Governo Federal publicou o Decreto Geral das Reservas Extrativistas (Decreto número 98.897/90) estabelecendo as bases legais para a criação de tais unidades. Em março de 11000, o Governo Brasileiro criou a “Reserva Extrativista Chico Mendes”, com 970.570 ha no estado do Acre. Confira o estudo do Ibama "Viabilidade econômica das reservas extrativistas".

(2) Organizações que participaram do protesto de hoje: Greenpeace, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e do Xingu (MDTX), representado por 113 entidades da região do Baixo Xingu e da Transamazônica. As Igrejas Católica e Presbiteriana também apóiam o movimento.

(3) O “Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz” é representado por quatro entidades executivas do município: Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Associação dos Pescadores Artesanais, Associação de Mulheres Campo-Cidade e Colônia de Pescadores de Porto de Moz. Também participam quatro Associações Rurais Comunitárias e a Igreja Católica, através da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que apóia o movimento. O Comitê e as comunidades rurais mais organizadas lutam pela criação da Reserva Extrativista Verde Para Sempre, a fim de barrar a destruição da floresta e promover o uso sustentável dos recursos naturais da região. Confira o briefing sobre a região de Porto de Moz (pdf).

Fonte: Greenpeace-Brasil (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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