MAIS UMA CHANCE PARA O MOGNO E
A AMAZÔNIA
Panorama Ambiental
São Paulo - Brasil
Outubro de 2002
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O Ministério
do Meio Ambiente prorrogou, no início de agosto
a moratória de novos planos de exploração
do mogno por mais seis meses. A decisão do
ministro José Carlos Carvalho foi muito bem
recebida pelo Greenpeace, mas ainda é preciso
que o governo federal adote medidas para que a exploração
criminosa da espécie seja definitivamente proibida
na Amazônia.
"Com a extensão da moratória, o
governo ganha tempo para fazer a lição
de casa e definir uma nova legislação
florestal para o manejo sustentável do mogno",
diz Paulo Adário, coordenador da campanha de
Amazônia do Greenpeace. "Ressaltamos o
temor de que o prazo de seis meses seja muito curto,
mas reconhecemos que vontade política pode
fazer uma grande diferença e que, durante este
período, passos concretos possam ser dados",
conclui. |
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Dentre esses passos, o Greenpeace sugere o fortalecimento
do sistema de monitoramento e fiscalização,
a atração de um novo tipo de empresário
voltado para o manejo social e ambientalmente correto,
a adoção de mecanismos de certificação
independente e internacionalmente aceitos, tais como
FSC (Forest Stewardsip Council), e a listagem do mogno
no Anexo II da CITES (Convenção Internacional
sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas).
A Convenção Internacional sobre Comércio
de Espécies Ameaçadas (CITES), feita
para controlar o comércio de plantas e animais
em extinção, é uma importante
medida para restringir a exploração
predatória e ilegal de mogno, uma das mais
nobres e mais comercializadas espécies da floresta
amazônica.
A extração de mogno é altamente
voltada para o mercado internacional, especialmente
para os EUA, Europa e República Dominicana.
Cerca de 70% de todo o mogno retirado da Amazônia
é vendido no mercado externo, e os preços
podem chegar a U$ 1.600 por metro cúbico.
Atualmente, o mogno está listado no Apêndice
III da CITES. No entanto, as medidas adicionais requeridas
para que ele passe a constar do Apêndice II
do tratado ajudariam a manter um controle mais estrito
sobre sua extração e eliminariam parte
da destruição causada por madeireiros
ilegais.
Além disso, proteger o mogno através
de um controle mais severo ajudaria, por sua vez,
a proteger outras espécies importantes na floresta
amazônica. É exatamente a destruição
do mogno, feita por conseqüência de seu
alto preço nos mercados internacionais, que
abre as portas para a exploração destrutiva
nas florestas antigas.
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A listagem do mogno no Anexo II da CITES não
impede o comércio, mas exige um atestado dado
por autoridade científica, reconhecida pelo
governo brasileiro, de que a exploração
foi feita de forma a não colocar a espécie
em risco. A proposta de adoção de mecanismos
adicionais de proteção ao mogno foi
apresentada pela Nicarágua e será votada
na próxima reunião da CITES, em novembro,
em Santiago do Chile.
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Porto de Moz - Uma terra sem lei que combina
destruição e miséria
Porto
de Moz é uma pequena cidade localizada no oeste
do Pará, às margens do Rio Xingu. Ali,
22 mil habitantes, em sua maioria vivendo em áreas
ribeirinhas, convivem com uma realidade que assola
outras grandes regiões brasileiras: a destruição
do meio ambiente e a miséria do povo.
Foi nesse cenário que o Greenpeace deu seu
apoio a um protesto de centenas de ribeirinhos que
querem transformar essa triste realidade. Jornalistas
e membros do Greenpeace sentiram na pele o que essas
populações enfrentam no seu dia a dia.
A beleza da maior floresta tropical do mundo contrasta
com um cenário de violência permanente,
envolvendo a atuação criminosa de madeireiros
ilegais que destróem a floresta e ameaçam
as populações ribeirinhas. |
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Entre os dias 19 e 21 de setembro, cerca de 450 comunitários
locais realizaram uma ação inédita
no Brasil. Com a ajuda de mais de 40 barcos, eles
bloquearam os 180 metros que separam as duas margens
do Rio Jaraucu para impedir o transporte de madeira
ilegal. A população local protestava
contra a ausência de um programa de desenvolvimento
sustentável e pedia a criação
de uma reserva extrativista na região, chamada
"Verde para Sempre".
No período em que o rio ficou interditado,
duas balsas com um carregamento ilegal de pelo menos
200 toras de madeira de espécies variadas foram
retidas pelos comunitários. O curioso e trágico
é que as duas balsas pertenciam à empresa
do Prefeito de Porto de Moz, Gerson Campos (PSDB).
Uma delas, inclusive, era conduzida pelo irmão
do prefeito.
E foi exatamente esse senhor, André Campos,
que, na madrugada do dia 21, tentou furar o bloqueio,
mesmo após ter feito um acordo com os comunitários
de que a balsa não seria movimentada até
o dia seguinte.
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A balsa, que estava presa em uma das margens do rio,
foi solta e atingiria diretamente cerca de 80 pessoas.
A tragédia só não aconteceu porque
barcos do Greenpeace foram de encontro à balsa,
retardando o avanço e possibilitando que os
pequenos barcos se desamarrassem e abandonassem suas
posições. Em seguida, os comunitários
invadiram e tomaram o controle da balsa. Na manhã
do Sábado, fiscais do IBANA apreenderam toda
a madeira ilegal.
Mas outras ameaças ainda estavam por vir. Na
tarde de Sábado, a repórter da TV Record,
Fernanda Fernandes, que fazia a cobertura do bloqueio,
foi até o aeroporto de Porto de Moz para iniciar
sua volta a São Paulo. Junto com ela, estavam
a jornalista Kelem Cabral, do Jornal Amazônia,
de Belém (PA), o jornalista Reinaldo Canto,
assessor de impressa do Greenpeace Brasil e David
Loogie, ativista do Greenpeace. Enquanto aguardavam
o avião, mais de 50 pessoas chegaram em carros,
motos e caminhonetes e os cercaram, fazendo ameaças.
Todo o material gravado pela repórter da TV
Record foi destruído pelos populares enfurecidos.
Um dos incentivadores da reação popular
era o prefeito de Porto de Moz, Gerson Campos. A massa,
que já chegava a cerca de 300 pessoas, gritava
e atirava rojões na direção dos
jornalistas e membros do Greenpeace.
Antes que o pior acontecesse, policiais militares
impediram o provável linchamento e retiraram
todos do local; eles foram escoltados até o
porto da cidade e obrigados a fugir num barco a toda
velocidade.
Essa é, infelizmente, apensa umas das arbitrariedades
cometidas por autoridades que, antes de ameaçar,
deveriam zelar pela lei e pela segurança de
todos. Agora esperam-se providências urgentes
das autoridades federais, já que das municipais
só se pode esperar mais violência.
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Prefeitura de São Paulo dá
exemplo na preservação da Amazônia
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A prefeitura
de São Paulo inovou: durante o mês de
agosto, foi assinado um decreto através do
qual a prefeitura suspendeu o uso de mogno em todas
as compras municipais. A decisão faz parte
do Programa de Qualidade Ambiental criado pelo município
e baseia-se nas restrições e proibições
impostas à exploração, transporte
e comercialização de mogno feitas pelo
Governo Federal e pelo IBAMA.
O Greenpeace acredita que a adoção das
medidas anunciadas pela prefeitura deve servir de
incentivo para que outros municípios adotem
medidas semelhantes.
São Paulo - atualmente a maior cidade brasileira
e a quinta maior do mundo - é a primeira no
Brasil a adotar medidas importantes no aspecto ambiental.
Além disso, a decisão representa um
passo significativo na conscientização
dos consumidores de madeira.
No entanto, não podemos esquecer que o problema
da Amazônia diz respeito a todos nós.
Enquanto os consumidores não agridem de maneira
responsável, procurando por produtos com o
selo de certificação do FSC, estarão
contribuindo para a destruição para
a destruição da maior floresta tropical
do planeta.
O Greenpeace vê a certificação
florestal pelo selo FSC (Forest Stewardship Council)
como uma ferramenta necessária para mudar esta
realidade, aliando a conservação dos
remanescentes florestais com atividades econômicas
ambientalmente sustentáveis. |
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa |