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35% DA POPULAÇÃO
ACEITA AJUDAR
A MANTER PARQUE DO MORRO DO DIABO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Agosto de 2003
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SMA/Divulgação
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Quanto
vale um parque público, uma reserva
natural ou, seguindo a classificação
técnica, uma unidade de conservação?
Para a população que se manifestou
em uma pesquisa elaborada para valorar o Parque
Estadual do Morro do Diabo cerca de R$ 7 milhões
por ano. Este valor é 96% maior que
a dotação orçamentária
dessa reserva natural remanescente da Mata
Atlântica, localizada no Pontal do Paranapanema,
uma das regiões com maiores pressões
econômicas e demográficas no
Estado de São Paulo. A pergunta e o
resultado fazem parte do Estudo de Valoração
Econômica, de autoria das pesquisadoras
Cristina Adams e Cristina Ebersbach, apresentado
no último dia 22 de agosto em seminário
realizado na Secretaria do Meio Ambiente do
Estado - SMA. |
O
trabalho contou com a orientação
dos especialistas Ronaldo Seroa da Motta e
Ramón Arigoni Ortiz, financiamento
da ONG Conservation Strategy Fund e apoio
do Instituto Florestal e da Faculdade de Educação
Ambiental do SENAC. O método aplicado
levou em consideração o valor
existencial do parque e, por meio de ferramentas
como entrevistas com a comunidade para determinar
seu valor contingente, estimou a disponibilidade
pessoal para pagamento ou aceitação
de uma despesa para garantir a melhoria do
bem-estar social com a manutenção
de um recurso natural ambiental. Pela pesquisa,
realizada com cerca de 700 pessoas, 35% dos
entrevistados declararam-se dispostos a pagar
uma determinada quantia por mês para
preservar o Parque Estadual do Morro do Diabo,
o que daria uma média de R$ 0,19, segundo
projeção feita com base na parcela
da população pesquisada na cidade
de São Paulo. Mesmo sabendo tratar-se
de uma contribuição hipotética,
muitos entrevistados declararam-se contra
qualquer doação a uma instituição
do Estado, recusando-se a estabelecer um valor
que poderia ser embutido no pagamento de tarifas
públicas (conta de água ou de
luz, por exemplo) ou |
serrepassado
diretamente a uma organização
não-governamental - ONG. Por esse motivo,
o valor resultante foi relativamente baixo.
Ainda assim, a conclusão é bastante
satisfatória, considerando-se que 96%
dos entrevistados acham que essa unidade de
conservação deve ser preservada,
embora 91% nunca tenha ouvido falar do parque.
Segundo Cristina Adams, o Parque Estadual
do Morro do Diabo foi escolhido pela sua relevância
ambiental e pelos problemas em seu entorno.
“Esse parque é o maior remanescente
da floresta nacional, um dos ecossistemas
mais ameaçados da Mata Atlântica,
no interior do Estado de São Paulo”.
A pesquisadora lembra, também, que
restam apenas 2% das florestas |
SMA/Divulgação
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estacionais
originais, que se caracterizam pela vegetação
mais seca que a porção da Mata
Atlântica localizada no Litoral, e 85%
desse remanescente se encontram na região
do Pontal, sendo a maior parte do Morro do
Diabo.
O estudo destaca que as políticas públicas
de preservação da biodiversidade
em geral enfrentam uma série de dificuldades,
como a existência de conflitos com as
populações locais e outros órgãos
do governo e a insuficiência de recursos
financeiros. A aplicação de
teorias econômicas em trabalhos ambientais
como este contribui para que as ações
de conservação tenham mais chances
de sucesso, pois levam fatores monetários
em conta permitindo que a população
opine sobre o valor de um bem público.
Serve, ainda, como instrumento de pressão
para se exigir políticas públicas
mais adequadas para a preservação
do patrimônio pesquisado. Entre os benefícios
desse tipo de trabalho pode-se destacar, ainda,
a melhor aceitação por parte
da população local de uma área
com restrição de uso, como é
o caso de uma unidade de conservação.
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Pesquisa
A pesquisa é
resultado de um projeto proposto como exercício
de aplicação de conceitos e metodologias
adquiridos durante o curso “Ferramentas Econômicas
para a Conservação de Ecossistemas
Tropicais”, realizado em novembro de 2001 por diversas
entidades, entre as quais o Conservation Strategy
Fund, organização não-governamental
que utiliza o pensamento econômico e estratégico
para auxiliar na conservação de ecossistemas
e que financiou totalmente o trabalho realizado
no Morro do Diabo. As principais razões declaradas
para a manutenção da área pesquisada
foram a preservação da fauna, flora
e áreas de lazer. Outras razões se
referem à saúde, qualidade de vida,
melhoria da qualidade do ar e preservação
dos mananciais de água. A pesquisa também
buscou traçar um perfil da população
de São Paulo com relação ao
seu interesse por assuntos ambientais. Os resultados
mostram que 89% se interessam pelo tema e 79% consideram
a preservação do meio ambiente no
Brasil muito importante, enquanto 86% acham que
o nível de degradação ambiental
é elevado. As principais razões apontadas
são o grande número de queimadas,
a venda de madeira, a destruição da
fauna e a falta de controle e fiscalização
dos órgãos públicos, além
das questões relacionadas ao lixo e à
poluição do ar. Com relação
à responsabilidade pela preservação,
33% da população acredita que este
papel é do governo federal, 7% atribui a
responsabilidade aos governos estaduais e 4% aos
governos municipais. O dado mais interessante nesse
aspecto, no entanto, é que 37% atribui a
responsabilidade à própria população.
Entre os entrevistados, os que apresentaram disposição
para pagar mais pela manutenção do
parque têm entre 16 e 24 anos, segundo grau
e renda familiar superior a 10 salários mínimos.
A disponibilidade para participar de ações
ecológicas é ligeiramente maior entre
os homens, sendo de 62% na faixa etária entre
os 16 e 24 anos e 50% entre os que têm 60
anos ou mais. Entre os que se declararam dispostos
a atuar em ações em defesa do meio
ambiente temos 49% dos que atuam no mercado informal,
60% dos que trabalham no mercado formal e 69% dos
que se encontram desempregados.
Área
estudada
No Pontal do Paranapanema,
a Sudoeste do Estado, localizam-se 85% dos remanescentes
da mata de planalto, a maior parte protegida pelo
Parque Estadual Morro do Diabo, no Município
de Teodoro Sampaio. Essa unidade de conservação,
administrada pelo Instituto Florestal, órgão
da Secretaria do Meio Ambiente, possui uma área
de aproximadamente 34 mil hectares. Além
de ser a maior reserva natural de peroba-rosa do
Estado, é um dos últimos refúgios
da região para a fauna, abrigando espécies
endêmicas como o mico-leão-preto e
a onça-pintada, entre outras espécies
ameaçadas de extinção. Pressões
político-econômicas e demográficas
vêm ocasionando a super-exploração
das terras, onde são constantes os conflitos
fundiários e as invasões de sem-terra.
Como conseqüência, vem aumentando também
a pressão sobre os remanescentes de mata,
ocasionando inclusive os impactos diretos no parque,
como queimadas, e o chamado “efeito de borda”, que
consiste na degradação ocasionada
pela ocupação do entorno do parque.
Fonte: SMA (www.ambiente.sp.gov.br)
Eli Serenza
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