|
MOVIMENTO INDÍGENA NACIONAL INICIA
CAMPANHA EM DEFESA DOS DIREITOS INDÍGENAS
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Agosto de 2003
|
|
Campanha
de caráter nacional e internacional propõe
ao governo uma série de ações
concretas com o objetivo de reverter o cenário
de problemas e dificuldades que, segundo lideranças
indígenas, tem agravado a situação
de seus povos. Entre elas, estão alguns novos
temas. Entre eles estão propostas de incorporação
dos atores e interesses indígenas na política
ambiental.
A recém-lançada
Campanha em Defesa dos Direitos Indígenas
- desencadeada pela Coordenação das
Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (Coiab), Articulação dos
Povos e Organizações Indígenas
do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
(Apoinme) e o Conselho de Caciques do Sul - critica
os oito primeiros meses do governo Lula no âmbito
da política indigenista e pede o fim da morosidade
no atendimento às reivindicações
do movimento indígena.
A campanha, lançada no dia 25/08, propõe
a implementação de um conjunto de
ações que, segundo as lideranças,
poderiam dar mais clareza e determinação
ao desempenho do governo na promoção
e defesa dos direitos indígenas. Muitas destas
propostas foram anteriormente formuladas pelo movimento
por ocasião de outros encontros que reuniram
lideranças de diversas organizações,
como a criação do Conselho Superior
de Política Indigenista ou a nomeação
de uma liderança indígena para a presidência
da Funai. Várias sugestões que dizem
respeito à educação escolar
indígena, por sua vez, são caudatárias
do conjunto de propostasque organizações
indígenas e não-indígenas voltadas
à educação elaboraram ainda
este mês em Brasília.
A campanha, que se propõe a ser nacional
e internacional, aborda, no entanto, alguns novos
temas. Entre eles estão as propostas de incorporação
dos atores e interesses indígenas na política
ambiental, que representariam uma forma de o Estado
brasileiro reconhecer a importância dos índios,
e seus territórios, na proteção
dos recursos naturais e da diversidade biológica.
Uma das propostas sugere que os povos indígenas
sejam recompensados pelos serviços ambientais
que têm prestado ao país. A campanha
mostra-se preocupada também com a continuidade
das ações promovidas pelo Projeto
Integrado de Proteção às Populações
e Terras Indígenas da Amazônia Legal
(PPTAL), que deve se encerrar em dois anos.
Movimento
Indígena Nacional inicia Campanha em defesa
dos Direitos Indígenas
O governo Lula, depois
de oito meses, até agora não deu sinais
significativos sobre qual será de fato a
política indigenista que pretende adotar
para começar a mudar os inúmeros problemas
que atingem os povos indígenas, e que nos
últimos meses tem se agravado: invasões
das terras indígenas, assassinato de lideranças,
projetos de lei que tentam reverter os direitos
indígenas no Congresso Nacional, a não
homologação da terra indígena
Raposa Serra do Sol, falta de reconhecimento e apoio
às escolas indígenas, recursos limitados
para as ações dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (DSEIs), não aprovação
do Estatuto dos Povos Indígenas, e falta
de programas de etno-desenvolvimento e segurança
alimentar. Esses são alguns dos problemas
que motivaram a Coiab, junto com outras organizações
indígenas do país, como a Articulação
dos Povos e Organizações Indígenas
do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
(Apoinme) e o Conselho de Caciques do Sul, a iniciarem
a partir da terça-feira, 26 do presente,
uma Campanha Nacional e Internacional em Defesa
dos Direitos Indígenas, para cobrar do governo
mais agilidade, clareza e determinação
no atendimento das demandas dos povos indígenas
do país tais como: homologação
de todas as terras indígenas com o processo
de demarcação já concluído,
que é o caso da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol; indicação do líder
indígena Antônio Apurinã para
a presidência da Funai; criação
e instalação do Conselho Superior
de Política Indigenista; aprovação
do Estatuto dos Povos Indígenas; formulação
e implementação de um plano emergencial
para uma nova política indigenista; enfim,
medidas que objetivem o compromisso do Governo Federal
com os povos indígenas. Líderes dessas
organizações indígenas estarão
reunidos em Brasília, até a sexta-feira,
29/08, definindo suas estratégias e propostas
para a nova política indigenista que querem
seja implementada pelo governo do presidente Luis
Inácio Lula da Silva. Para o coordenador
geral da Coiab, Jecinaldo Saterê Mawé,
“o valioso deste processo está no fato de
ser uma iniciativa totalmente indígena, articulada
por lideranças e organizações
indígenas que já estão cansadas
de esperar e querem que esse governo mostre o que
veio fazer”.
Propostas
da Coiab
A idéia de
desencadear essa Campanha surgiu depois que uma
delegação de lideranças da
Coiab visitara, na capital federal, vários
Ministérios e Secretarias na semana de 11
a 15 de agosto, onde além de constatarem
morosidade na política governamental fizeram
entrega de propostas para a política indigenista
que desejam seja desenvolvida pelo governo. A delegação
visitou o Projeto Integrado de Proteção
às Populações e Terras Indígenas
da Amazônia Legal (PPTAL/Funai-PPG7), a Coordenação
Geral de Apoio à Educação Indígena
do Mec; o Departamento de Saúde Indígena
da Funasa; a Secretaria de Biodiversidade, do Ministério
do Meio Ambiente; a Secretaria de Patrimônio,
do Ministério da Cultura; e a Frente Parlamentar
de Apoio aos Povos Indígenas. Da lista de
propostas discutidas pela Coiab com os representantes
desses órgãos destacamos: Formulação
de um Programa que dê continuação
ao processo de demarcação, proteção
e sustentabilidade das terras indígenas,
quando findar, daqui a dois anos o PPTAL; Apoio
político e orçamentário para
que projetos em execução que são
exemplos de garantia de participação
indígena como os Projetos Demonstrativos
dos Povos Indígenas (PDPI/PDA/MMA-PPG7) e
o Projeto Integrado de Proteção às
Populações e Terras Indígenas
da Amazônia Legal (PPTAL/Funai-PPG7) continuem.
Elaboração de uma nova política
de educação escolar indígena,
que venha atender as realidades, demandas e aspirações
diferenciadas dos povos indígenas, com ampla
participação das lideranças
e professores indígenas, assessorias e instituições
governamentais e não- governamentais que
atuam nas terras indígenas; Criação
de uma Secretaria Nacional de Educação
Escolar Indígena, como instância Executiva
do Subsistema de Educação Escolar
Indígena; Criação e implementação
de um fundo de educação indígena
acessível às escolas, organizações
e comunidades indígenas; Programas de acesso
dos estudantes e professores indígenas ao
Ensino Superior e profissionalizante, e criação
da Universidade Indígena para atender as
demandas prioritárias dos povos indígenas
do Brasil; Alocação de recursos para
o atendimento das demandas dos DSEI, que tem aumentado,
desde sua criação; Elaboração
de uma política ambiental para as terras
indígenas, que venha atender as realidades,
demandas e aspirações diferenciadas
dos povos indígenas, com ampla participação
das lideranças de comunidades e organizações
indígenas, assessorias e instituições
governamentais e não governamentais que atuam
nas terras indígenas; Criação
de um núcleo de política ambiental
em terras indígenas, no âmbito do MMA,
com objetivo de coordenar as ações
da nova política ambiental em terras indígenas;
Participação efetiva dos povos e organizações
indígenas na elaboração e implementação
de qualquer programa ou projeto de desenvolvimento
que os afete; Que os povos indígenas recebem
apoio governamental pelos serviços ambientais
que prestam à sociedade brasileira. Serviços
esses que são comprovados por pesquisas recentes
e através de mapas de satélites; Definição
de uma política cultural para os povos indígenas;
Criação de um Conselho Superior de
Política Indigenista, no âmbito do
Ministério da Justiça (MJ), com ampla
participação indígena e de
todos os ministérios que atuam junto aos
povos indígenas, com expresso objetivo de
elaborar a nova política indigenista; Nomeação
imediata de Antônio Apurinã como novo
Presidente da Funai; Formulação de
um programa específico de etno-desenvolvimento
para os povos indígenas, com recursos orçamentários
próprios; Integraram a delegação
indígena o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo
Barbosa Cabral / Saterê Mawé; o tesoureiro
da Coiab, Genival de Oliveira dos Santos / Mayoruna;
o coordenador geral da União das Nações
Indígenas do Acre e Sul do Amazonas (Uni
- Acre), Francisco Avelino Batista / Apurinã;
o presidente da Comissão do PPTAL, Pedro
Garcia; o Gerente Técnico do Projetos Demonstrativos
dos Povos Indígenas (PDPI), Gersem José
dos Santos Luciano / Baniwa; o representante da
Coiab em Brasília, Estevão Carlos
Taukane / Bakairí; e o membro do Grupo de
Referência do PDPI no Estado de Tocantins,
Idjarruri Karajá. Manaus, 25 de agosto de
2003.
Coiab - Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira
Endereço: Avenida Ayrão 235,
Bairro: Presidente Vargas Cep: 69025-290 - Manaus
- Amazonas
Telefone: 233-0749 Fax: 233-0209
E-mail: comunicação@coiab.com.br
Site: www.coiab.com.br
Coordenador Geral: Jecinaldo Barbosa Cabral
- Saterê Mawé
Vice-coordenador: Crisanto Rudzö Tseremey'wá
- Xavante
Secretária: Maria Miquelina Barreto Machado
- Tukano
Tesoureiro: Genivaldo de Oliveira dos Santos – Mayoruna.
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa