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GREENPEACE
LAMENTA A REPORTAGEM DE CAPA
DA EDIÇÃO REVISTA VEJA DE
29/10
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Novembro de 2003
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Organização
envia carta ao editor da publicação
repudiando a forma tendenciosa como foram abordados
os transgênicos na matéria
Prezado Sr. Editor,
O Greenpeace lamenta
a reportagem de capa da edição nº
1826 da revista VEJA, Transgênicos – O Medo
do Novo, de 29/10/2003. Nitidamente, a matéria
trilha o caminho da defesa da transgenia sem levar
em conta opiniões e estudos científicos
contrários à liberação
das culturas transgênicas da forma irresponsável
como ela vem sendo feita no Brasil e no mundo.
Um veículo de comunicação da
importância de VEJA tem a obrigação
de zelar pelo bom jornalismo e pela imparcialidade
no trato de temas complexos como esse. Ao ler tal
matéria, o leitor recebe uma visão
parcial e deturpada dos fatos, ignorando evidências
científicas que comprovam os riscos e danos
ambientais causados pelo cultivo e a comercialização
dos transgênicos e desclassificando segmentos
importantes da sociedade que trabalham pelo princípio
da precaução. É bastante reducionista
colocar de um lado os pró-transgênicos
como defensores da razão e do bom senso,
e do outro os ambientalistas como sendo “ecoxiitas”
e “barulhentos”.
Também temos a lamentar com veemência
as insinuações de má-fé
feitas pela reportagem, ao trabalho realizado pela
organização. O Greenpeace há
32 anos tem se notabilizado pela irrestrita defesa
do meio ambiente e por sua atuação
não-violenta como base de sua existência,
não tendo jamais tomado parte em manifestações
violentas e contra pessoas. O fato de não
aceitarmos contribuições de empresas,
partidos políticos e governos faz com que
nossos maiores alicerces venham das pessoas físicas,
nossos sócios, que garantem a nossa sustentabilidade
e a nossa credibilidade junto à sociedade
brasileira e mundial. O Greenpeace foi construído
por muitas pessoas que tiveram e têm um ideal
de lutar por um planeta mais justo e equilibrado
para todos os seres que o habitam. E não
será com inverdades que essa história
será maculada.
Quanto à citação sobre a dra.
Marijane Lisboa, uma ex-profissional do Greenpeace
e que hoje ocupa uma posição de importância
no Ministério do Meio Ambiente, a reportagem
se mostra leviana e irresponsável. O fato
de ter trabalhado no Greenpeace, ao invés
de desabonador, é na verdade evidência
de que a profissional carrega consigo conhecimento
suficiente sobre a temática ambiental, a
ponto de fazer jus a um convite para compor a equipe
governamental. Assim como a dra. Marijane Lisboa,
profissionais de outras organizações
não-governamentais também fazem parte
deste e de outros Ministérios. Cabe ressaltar
também que, quando ingressou no Ministério,
a dra. Marijane Lisboa já não fazia
parte do quadro de funcionários do Greenpeace
há quase um ano.
A reportagem é tão parcial que sequer
menciona as fontes de suas informações,
quem são os cientistas e as instituições
a que pertencem. A soja Roundup Ready não
foi geneticamente modificada para ser mais produtiva,
mas sim para ser resistente ao herbicida de mesmo
nome, ambas produzidas pela empresa multinacional
Monsanto. No entanto, pesquisas que demonstram o
aumento do uso de agrotóxicos de 11,4% a
30% nos EUA sequer foram mencionadas (www.biotech-info.net/troubledtimes.html).
A probabilidade de proliferação de
uma planta transgênica depende das características
reprodutivas da planta, e não é possível
estabelecer uma taxa de risco padrão para
todo e qualquer transgênico, como foi feito
pela reportagem. O caso da contaminação
de variedades de milho tradicionais no México,
centro de origem desta planta, é uma comprovação
da seriedade da poluição genética.
Nos EUA, o tipo de estudo realizado previamente
à liberação de variedades transgênicas
para consumo humano é chamado de equivalência
substancial, considerado insuficiente pela revista
Nature (Vol 401, 7 October 1999). O caso do milho
Star link, é um exemplo concreto de um transgênico
que causou alergia em seres humanos.
Com relação aos campos experimentais,
infelizmente, não está sendo praticado
o rigor de segurança citado. O Greenpeace
já denunciou inclusive campos experimentais
que não possuíam o Registro Especial
Temporário exigido pela lei brasileira.
Economicamente, os transgênicos não
trazem qualquer benefício ao agricultor brasileiro,
pois o Brasil é o único país
capaz de atender à demanda crescente no mercado
internacional, principalmente da Europa e da Ásia
, pelo grão não-transgênico,
como demonstra o relatório produzido pelo
Greenpeace “As vantagens da soja e do milho não
transgênicos para o mercado brasileiro”, disponível
para download no site www.greenpeace.org.br.
Junto com a Campanha Nacional por um Brasil Livre
de Transgênicos – da qual fazem parte várias
organizações de ambientalistas, de
consumidores e de produtores rurais – o Greenpeace
busca promover um debate amplo, democrático
e participativo, para o desenvolvimento sustentável
do Brasil. O artigo de VEJA é tendencioso
e carente de informação. Infelizmente,
não contribui para a formação
da opinião pública e é, por
isso, desrespeitoso para com os leitores da revista.
Sem mais para o momento,
agradeço por sua atenção.
Frank Guggenheim
Diretor-Executivo
Greenpeace Brasil
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa