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LULA DOA MOGNO
ILEGAL A ENTIDADES AMBIENTAIS
E SOCIAIS E ANUNCIA NOVA LEGISLAÇÃO
Panorama Ambiental
São Paulo – Brasil
Junho de 2003
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Lula doa mogno
ilegal a entidades ambientais e sociais e anuncia
nova legislação compatível com
o Anexo II da Cites
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva escolheu o Dia Internacional do
Meio Ambiente para anunciar a primeira grande
medida de seu governo na área ambiental,
unindo dois ícones da natureza: o mogno
e a floresta amazônica. Durante cerimônia
realizada no Palácio do Planalto, o presidente
lançou a “Conferência Nacional do |
Meio
Ambiente” (1) e assinou um decreto que regulamenta
o artigo 14 do Código Florestal e determina
que a exploração de mogno – suspensa
desde outubro de 2001 – só poderá
ser feita através de Planos de Manejo
Florestal Sustentável (PMFS) que sejam
adequados às exigências do Anexo
II da Cites, Convenção da ONU
que regulamenta o comércio internacional
de espécies ameaçadas de extinção
(2). O Anexo II determina que a exploração
do mogno só deve ser feita de forma a
não ameaçar a sobrevivência
da espécie, e precisa ser atestada por
autoridade científica.
O decreto de Lula também proíbe
por cinco anos o corte de mogno em áreas
de desmatamento (3). A estratégia do
governo é impedir que a madeira vinda
de desmatamento seja usada para legalizar madeira
ilegal,
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ou
que exista um duplo padrão – um controlado
pela Cites, para exportação, e
outro, de origem predatória, destinado
ao mercado interno. |
Lula
também assinou um termo de doação
de mogno ilegal apreendido pelo Ibama e afirmou
que, de agora em diante, todo carregamento ilegal
da espécie será destinado às
organizações sociais e ambientais
das áreas afetadas pela exploração
predatória da madeira. Do total de cerca
de 60 mil metros cúbicos de mogno ilegal |
(objetos
de intensa batalha judicial), 14,5 mil metros
cúbicos já foram liberados pela
Justiça e serão doados para a
FASE, uma entidade de caráter beneficente
do Pará. Depois de serrada por uma empresa
certificada pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal)
(4), a madeira será vendida e os recursos
serão destinados, em parte, a um fundo
para financiar projetos sociais e de manejo
sustentável que beneficiem as comunidades
afetadas pela exploração ilegal
da espécie, incluindo comunidades indígenas.
A outra parte dos recursos gerados pela venda
do mogno ilegal será destinada ao fortalecimento
da capacidade de monitoramento e fiscalização
do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis).
O Ministério Público fiscalizará
todo o processo.
“Ao escolher o mogno como ‘caso exemplar’, o
governo Lula sinaliza que pretende criar as
novas bases para a exploração
madeireira na Amazônia, baseada na sustentabilidade
ambiental e na responsabilidade social”, disse
Paulo Adário, coordenador da campanha
Amazônia do Greenpeace. "Depois de
anos de escândalos, o governo Lula dá
um passo importante para reconquistar a confiança
da sociedade, dos consumidores e dos produtores
que querem atuar de forma correta na exploração
madeireira na região. É lamentável,
porém, que uma ótima medida como
essa seja
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adotada
no dia seguinte em que 15 ativistas do Greenpeace
e um fotógrafo foram presos por protestar
pacificamente contra a construção
de mais uma usina nuclear (5) – a de Angra 3
– que não é sustentável
e nem responsável.”, acrescentou Adário.
Legislação restritiva - O Ibama
tem prazo até o dia 10 de julho para
regulamentar, através de portaria, as
normas – administrativas e técnicas –
sobre exploração, monitoramento,
fiscalização, transporte, beneficiamento
e comércio do mogno.
O anúncio das novas medidas de proteção
ao mogno cria as bases para o fim da moratória
do mogno instituída em 1996 e prorrogada
em fevereiro deste ano, através do decreto
4593 assinado pelo presidente Lula. A moratória
continua em vigor até o dia 14 de julho.
Depois desse prazo, os projetos de exploração
de mogno terão de se adequar às
novas regras, em estudo por comissão
especial criada pelo decreto de fevereiro. Representantes
da sociedade civil, inclusive o Greenpeace,
foram ouvidos pela comissão. As novas
regras valem também para os projetos
existentes antes da moratória, que terão
de refazer seus planos de manejo. Como a safra
de mogno se dá no segundo semestre do
ano e não há tempo hábil
para o cumprimento da nova legislação,
na prática é pouco provável
que haja exploração legal da espécie
este ano no Brasil.
A legislação para a exploração
do mogno será muito mais restritiva do
que a existente para outras espécies.
A lei em estudo pela comissão prevê,
entre outras coisas, a preservação
de um número suficiente de árvores
porta-sementes adultas para garantir a regeneração
da espécie (a proposta é de 20%);
a adoção de um ciclo de corte
que permita sua regeneração; a
limitação do diâmetro mínimo
das árvores a serem cortadas (a proposta
é 60 cm); a apresentação
de mapas e fotos de satélite com coordenadas
geográficas localizando as árvores
a serem exploradas e preservadas; além
de tornar o proprietário do plano de
manejo e sua equipe técnica legalmente
responsáveis pelo cumprimento da lei.
O exportador será obrigado a fornecer
um ato declaratório da cadeia de custódia
da madeira – ou seja, as diferentes etapas e
os envolvidos no processo, desde a floresta
até o porto. Junto com a legislação
de manejo, será adotado um novo sistema
de controle do transporte das toras de madeira,
via satélite.
O Greenpeace está em campanha global
pela proteção dos últimos
remanescentes florestais do planeta, com o objetivo
de promover o uso ecologicamente sustentável
e socialmente responsável das florestas,
assim como a implementação de
Unidades de Conservação. Áreas
de florestas protegidas são dedicadas
à conservação da biodiversidade
e dos recursos naturais e culturais a ela associados,
e são estabelecidas e manejadas respeitando
os direitos de povos tradicionais – particularmente
as populações indígenas.
A campanha do Greenpeace também inclui
os consumidores, que devem privilegiar madeira
ou produtos florestais certificados pelo FSC.
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Notas:
(1) A Conferência
Nacional do Meio Ambiente é um evento de iniciativa
do Ministério do Meio Ambiente para envolver
todos os estados brasileiros em uma ampla discussão
sobre os problemas ambientais. A expectativa é
que a primeira reunião aconteça em novembro
e seja realizada periodicamente
(2) Em novembro de
2001, numa decisão histórica, a Cites
incluiu o mogno no chamado Anexo II, exigindo que
a exploração da espécie seja
feita de forma legal e comprovadamente sustentável
do ponto de vista científico. O governo brasileiro
de Fernando Henrique se opôs à medida.
O Anexo II responsabiliza países produtores
e consumidores pelo controle compartilhado do comércio,
contribui para regular o mercado e reduzir a ilegalidade
e o contrabando. Também aumenta o controle
oficial sobre os impactos ambientais da exploração
e dá mais transparência ao processo de
incorporar uma Autoridade Científica ao trabalho
da Autoridade Cites no país de origem – no
caso do Brasil, o Ibama. O Anexo II entra em vigor
em novembro de 2003.
(3) A madeira proveniente
de desmatamento é essencialmente destrutiva,
já que a floresta é totalmente removida
para fins de pastagens ou agricultura comercial. Outro
fator é o preço: enquanto o metro cúbico
de madeira proveniente de desmatamento pode ser comprado
a R$ 5, o mesmo volume proveniente de manejo florestal
chega aos R$ 25. Assim, a madeira de desmatamento,
por ser mais barata, desencoraja o manejo e contribui
para a destruição.
(4) O FSC, sigla em
inglês do Conselho de Manejo Florestal (Forest
Stewardship Council), é o único sistema
de certificação independente integrado
por representantes de empresas madeireiras, organizações
ambientalistas e do setor social. Mundialmente reconhecido,
o FSC é o único sistema que atende a
rígidos padrões ecológicos internacionais,
incorporando de forma equilibrada os interesses de
grupos sociais, econômicos e ambientais. A certificação
é, atualmente, a melhor forma de atestar que
o manejo de florestas nativas ou de plantações
é realizado de maneira eficaz, ambientalmente
adequada, transparente e economicamente viável.
(5) Quinze ativistas
do Greenpeace foram detidos pela segurança
do Senado e pela Polícia Militar ontem (04/06),
quando tentavam subir na cúpula do prédio
em Brasília para protestar contra a possível
construção de uma terceira usina nuclear
em Angra dos Reis (RJ). Um fotógrafo que fazia
a cobertura jornalística do protesto também
foi preso e todos foram liberados no início
da noite, depois de pagar fiança. Hoje, cerca
de 10 voluntários do Greenpeace foram até
o Palácio da Alvorada para alertar o presidente
Lula sobre os perigos da energia nuclear e pedir que
o governo desista do projeto de Angra 3.
Fonte: Greenpeace (www.greenpeace.org.br)
Assessoria de imprensa |