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MANANCIAIS:
RIBEIRÃO PRETO (SP) REGULARIZA
LOTEAMENTO COM OCUPAÇÃO IRREGULAR
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2003
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Iniciativa é
a primeira a ser realizada na Bacia Hidrográfica
da Billings. A área contígua de 700.000
metros quadrados vinculada ao bairro Jardim Serrano
será transformada em um parque municipal.
Na última terça-feira (03/06), o Grupo
de Aprovação de Projetos Habitacionais
- Graprohab - permitiu a vinculação
de uma área contígua de 700.000 metros
quadrados de terreno preservado aos lotes do bairro
Jardim Serrano, em Ribeirão Pires (São
Paulo). Com isso, o loteamento, ocupado de forma
irregular, passa a ser o primeiro de interesse social
em toda a zona de mananciais a estar estritamente
dentro dos critérios da lei.
A região de Rio Grande/Rio Pequeno da Bacia
Hidrográfica da Billings, onde está
situada Ribeirão Pires, foi considerada como
de prioridade extrema/muito alta durante o Seminário
Billings 2002, realizado em novembro do ano passado
naquela cidade, sob a coordenação
geral do Instituto Socioambiental. Na ocasião,
diversos especialistas apontaram a necessidade de
criação de parques públicos
como uma das ações prioritárias
em áreas de mananciais. É exatamente
este o destino do trecho anexado: pretende-se, com
ele, formar um cinturão de amortecimento
estratégico para conter a pressão
urbana exercida por Mauá, o município
vizinho que faz divisa com o bairro.
A ocupação irregular começou
em 1992, durante a administração do
Prefeito Luiz Carlos Grecco, quando o terreno foi
parcelado em 230 lotes de 180 metros quadrados em
média. Somadas as quadras, sistema viário
e outras partes consideradas como parte do loteamento,
a área chega a 90 mil metros quadrados. De
acordo com a Legislação Estadual de
Exploração e Ocupação
do Solo (leis 898/75 e 1.172/76), o tamanho mínimo
de cada lote teria que ser de 3.500 metros quadrados
e deveria haver o comprometimento com a preservação
ambiental para a construção. Para
regularizar a situação, a Prefeitura
entrou com processo de licenciamento junto ao governo
do Estado em 2001. Teve de ser acrescida, de forma
contígua, uma área equivalente à
metade do Parque do Ibirapuera (São Paulo),
de 700.000 metros quadrados de tamanho.
“Há que se reconhecer a dificuldade em proteger
as áreas de mananciais”, diz o assessor do
gabinete da Prefeitura de Ribeirão Pires,
Marcos Bandini. “A área que será destinada
à implantação do parque estava
toda destinada ao uso industrial”, revela. O investimento
feito para transformá-la em área de
preservação é evidenciado pelo
porte do município: de acordo com cálculos
da Administração municipal, o valor
do loteamento é de aproximadamente R$ 7 milhões.
Para se ter uma idéia, o Orçamento
anual do município está em torno de
R$ 65 milhões – R$ 5,4 milhões por
mês.
O licenciamento também beneficiará
principalmente a população de baixa
renda, que é quem ocupou o terreno após
um cadastramento feito pela Prefeitura, no começo
dos anos 11000. As cerca de 130 famílias
atuais terão direito à escritura definitiva
de suas casas, além da conclusão da
implantação de infra-estrutura, que
começou a ser instalada em 1998, quando o
bairro foi incluído no Plano Emergencial
de Recuperação aos Mananciais do Governo
do Estado. Para que o Jardim Serrano tenha uma “excelência
ambiental”, como quer a prefeita e presidente do
Subcomitê Billings Maria Inês Soares
Freire (PT), ainda é preciso haver, por exemplo,
pavimentação, coleta e tratamento
de esgoto, iluminação e arborização.
Uma solução
intermediária
Para Fábio
Vital, diretor geral de projetos do Instituto Acqua,
ONG que acompanha o caso desde as primeiras discussões,
a criação de uma área de compensação
era uma solução intermediária,
mas melhor do que as outras apresentadas. “Não
era um cenário fácil: havia os problemas
de como desfazer o distrito industrial, como conter
a ocupação irregular e como dar um
caminho adequado para a coisa”, conta o diretor.
Entretanto, diz Vital, “a área permaneceu
preservada por seis anos até que saísse
a decisão [do Graprohab], e com o comprometimento
dos órgãos públicos, como a
Sabesp, a expectativa é de que o parque seja
implantado sem muita alteração em
relação ao projeto”. Ele considera
que em seis meses seja possível fazer uma
avaliação do andamento da implantação.
Situação
do futuro parque
Ganha a primeira
batalha para a regularização do loteamento
do Jardim Serrano, passa-se agora para uma segunda
fase, de estabelecimento de parcerias para viabilizar
a implementação do parque. Para tanto,
a Prefeitura de Ribeirão Pires pretende buscar
apoios da sociedade civil, órgãos
governamentais e até internacionais, que
permitirão detalhar os estudos de implantação
iniciais já existentes e as diretrizes traçadas
por técnicos municipais e da Secretaria do
Meio Ambiente.
Um levantamento inicial da situação
do trecho preservado aponta que pouco mais de um
terço da área – aproximadamente 240
mil metros quadrados – é composto de vegetação
secundária, remanescente da Mata Atlântica.
O restante é constituído, em sua maior
parte, de vegetação rasteira (campos),
mas há trechos com problemas de erosão,
principalmente junto às partes que darão
acesso ao futuro parque. Para Marcos Bandini, “há
um patrimônio zoobotânico significativo
na região, tanto em termos de tamanho quanto
em termos de qualidade”. Segundo ele, “a área
não está tão degradada, principalmente
se forem considerados a proximidade da divisa com
Mauá, que é uma área inteiramente
urbanizada, e que o trecho ainda não está
cercado”. Para manter o patrimônio, a fiscalização
está sendo aumentada.
Mais área
verde por habitante
Atualmente, para
cada um dos 104.334 moradores de Ribeirão
Pires (dados do Censo 2000), existem 8 metros quadrados
de área verde pública, entre praças
e outras reservas. Com a instalação
do parque municipal, a este número serão
somados mais 6,5 metros quadrados, praticamente
dobrando a relação de área
verde pública por habitante. O número
é significativo, já que, dos 32 quilômetros
quadrados remanescentes da Mata Atlântica
– o município todo possui 107 quilômetros
quadrados -, estima-se 95% estarem nas mãos
de particulares.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)