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PREFEITURA
DE JUÍNA E O POVO
INDÍGENA ENAWENE NAWE: PARCERIA PELA
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Panorama Ambiental
Cuiabá (MT) – Brasil
Julho de 2003
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A Prefeitura de
Juína e o povo indígena Enawene Nawe
firmaram convênio para a execução
do "Programa de Cooperação à
Proteção Ambiental da Terra Indígena
Enawene Nawe", através do repasse de
R$ 40 mil provenientes do ICMS Ecológico.
Essa é uma iniciativa pioneira no estado
e vai permitir que os próprios índios
coordenem ações direcionadas à
proteção e defesa de seu território
e dos recursos nele existentes, além de abrir
precedente para que outras prefeituras, organizações
não-governamentais e comunidades indígenas
articulem-se para a defesa do patrimônio cultural
e natural existente em Mato Grosso.
A organização não governamental
Operação Amazônia Nativa [OPAN]
que desenvolve junto aos Enawene Nawe um programa
de fiscalização dos limites e do entorno
da Terra Indígena Enawene Nawe será
a responsável jurídica pelo programa.
A OPAN apóia os Enawene Nawe desde 1974,
ano em que foram contatados, e também passou
a prestar a partir de 2000, assistência à
saúde desta população através
de convênio com a Funasa [Fundação
Nacional de Saúde].
A criação do Programa ocorreu em decorrência
de nos últimos anos intensificaram-se os
contatos dos enawene com a população
envolvente, assim como a pressão das frentes
econômicas sobre seu território tradicional.
O projeto apresentado para a Prefeitura de Juína
com o apoio da OPAN, tem como objetivo apoiar o
povo Enawene Nawe na luta pela preservação
e conservação do seu território,
refletindo com os índios esta nova conjuntura
regional, auxiliando-os na manutenção
de suas terras, dos recursos nela existentes e de
sua forma tradicional de organização.
As práticas econômicas atualmente desenvolvidas
no entorno da Terra Indígena invadem e ameaçam
seu território, um patrimônio cultural,
histórico e natural - uma área de
floresta amazônica intacta e rica em fauna
e flora em pleno noroeste de Mato Grosso. O território
Enawene Nawe corresponde a uma das últimas
regiões não devastadas do norte do
Mato Grosso, e, nos últimos anos, vêm
sofrendo a intensificação da pressão
de atividades predatórias como o garimpo
e a exploração da madeira, além
do avanço da agroindústria da soja,
do algodão, da cana de açúcar
e da pecuária.
O repasse de recursos do ICMS ecológico para
os Enawene Nawe foi recebido com satisfação
pelos índios, que o consideram fruto do empenho
com que defendem o patrimônio natural do território
que ocupam. Contudo, considerando a Terra Indígena
Enawene Nawe uma das poucas áreas preservadas,
o cerco tende a se agravar. Além disso, é
relevante que o número de garimpeiros tem
sido crescente a cada invasão, bem como o
avanço das fronteiras agrícolas e
da atividade madeireira no entorno da área
e muitas vezes chegando a seu interior através
de invasões.
A recente visita do prefeito de Juína, Altir
Peruzzo à aldeia Matokodakwa foi fundamental
no processo de aprovação do convênio
que viabilizará o Programa de Cooperação
à Proteção Ambiental da Terra
Indígena Enawene Nawe. Numa reunião
de dois dias os Enawene puderam apresentar suas
propostas para o prefeito e também um pouco
de sua cultura e de sua forma de organização
e relação com o meio ambiente.
O convênio assinado com a prefeitura tem em
seu horizonte a administração dos
recursos e gestão do projeto realizada totalmente
pelos Enawene Nawe. Para isso, serão realizadas
além das ações de fiscalização,
cursos e oficinas de capacitação,
com o objetivo de preparar os índios para
o gerenciamento dos recursos financeiros do Programa.
O que é o ICMS Ecológico - O "ICMS-Ecológico"
é um dispositivo orçamentário
que define a aplicação de critérios
ambientais no processo de distribuição
de parte do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços - ICMS, arrecadado
pelos estados e repassado aos municípios.
A partir de janeiro de 2002, todos os municípios
de Mato Grosso com Terras Indígenas, Unidades
de Conservação e que façam
investimentos em água, esgoto tratado e coleta
de lixo com destinação final adequada
estão recebendo incentivos financeiros proporcionais
ao tamanho dessas áreas. Esta verba vem sendo
regularmente depositada, em parcelas semanais, nas
contas bancárias dos municípios. Esses
municípios têm a obrigação
de investir ao menos uma parte desta verba em políticas
que visem a preservação das áreas
indígenas em sua jurisdição.
Se essas áreas virem a sofrer danos ambientais
graves, os recursos do ICMS Ecológico para
o Município serão reduzidos. Portanto,
nada mais justo que pelo menos uma parte desses
recursos seja destinada a projetos que ajudem os
Povos Indígenas a conservar as suas Terras.
Os Enawene
No Brasil hoje, existem
mais de duzentos povos indígenas, falantes
de cerca de cento e setenta línguas, totalizando
uma população em torno de trezentos
mil indivíduos. Boa parte deste contingente
populacional se concentra na Amazônia Legal.
Os Enawene Nawe, são um desses muitos povos,
que apesar de quase trinta anos de contato com a
sociedade nacional ainda mantém praticamente
inalterado seu modo de vida tradicional, em grande
medida devido ao seu singular histórico de
contato. Ao contrário de tantos outros povos
indígenas no Brasil, o contato com a sociedade
brasileira não significou depopulação:
de 1974 a 2003, sua população subiu
de 98 para 380 pessoas, com uma taxa média
de crescimento em torno de 4% ao ano.
A Terra Indígena Enawene Nawe [de 742.211
hectares] encontra-se hoje demarcada, homologada
e, finalmente, registrada no cartório de
imóveis e na Secretaria do Patrimônio
da União. Esta população habita
uma região de transição entre
o cerrado e a floresta equatorial, ocupando atualmente
uma área de aproximadamente 1000 mil hectares,
localizada no vale do rio Juruena, formador do rio
Tapajós, na porção noroeste
do Estado de Mato Grosso. Os Enawene Nawe vivem
todos em uma única aldeia, localizada às
margens do Rio Iquê.
A dieta Enawene é composta de produtos agrícolas
como a mandioca, milho, feijão, cará,
urucum, algodão, amendoim e batata doce e
principalmente de peixes, frutos silvestres, mel,
coletados ao longo do ano em expedições
onde os Enawene percorrem e ocupam quase a totalidade
de seu território.
Ao contrário da grande maioria dos povos
indígenas da Amazônia, os Enawene Nawe
não caçam, pois não se alimentam
de carne vermelha, o que torna fundamental a preservação
das cabeceiras e rios que cortam a área como
fontes de recursos alimentares para esta população,
já que os peixes são as principais
fontes de proteína na alimentação
desse povo.
Levando-se em conta a dinâmica de todas as
sociedades humanas, é fato que a sociedade
Enawene Nawe sempre esteve em transformação
e nos últimos anos com a intensificação
das relações sociais fora da aldeia,
os Enawene acabaram fazendo uso de uma série
de novos bens de consumo, principalmente motores
de popa, que como os próprios Enawene Nawe
reconhecem, acarretam em uma série de mudanças
na dinâmica social desse povo.
Nesse sentido a Opan - Operação Amazônia
Nativa, tem se dedicado a estabelecer um programa
de renda para os Enawene Nawe, como a produção
de mel e comercialização de artesanato,
de maneira que os Enawene Nawe possam obter um pequeno
recurso para a compra de combustível e manutenção
dos motores de popa. Por outro lado, admite-se que
ainda é preciso refletir sobre vários
aspectos no que diz respeito ao impacto sócio-econômico,
com a chegada desses bens materiais de nossa sociedade.
Fonte: OPAN – Operação
Amazônia Nativa (www.opan.org.br)
www.amazonia.org.br
(Elton Rivas e Fernando Penna)