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TERRA INDÍGENA
NÁUA DEVE SAIR ATÉ O PRÓXIMO
ANO
Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Agosto de 2003
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O Ibama, em conjunto
com o Ministério da Justiça e a Funai
já iniciaram o processo de pré-levantamento
da Terra Indígena Náua. O assunto
é polêmico, pois os Náua, moram
dentro da área do Parque Nacional da Serra
do Divisor, próximos à fronteira Brasil-Peru.
Há quatro anos, o Ibama, em conjunto com
a Ong SOS Amazônia entraram na justiça
com o pedido de identificação étnica
dos Náuas, pois não os reconheciam
como índios legítimos. Os náuas
são mestiços e perderam muitos dos
costumes tradicionais, mas ainda há pessoas
na comunidade que falam a língua original
e manifestam a intenção de reassumir
uma identidade tida como perdida. Durante o laudo
da antropóloga Delvair Mellati foram encontrados
vestígios que contribuíram para a
identificação dos indígenas.
Restos de cerâmica, pontas de flechas e machados
de pedra foram alguns desses vestígios deixados
pelos ancestrais do povo que atualmente vive no
Igarapé Novo Recreio, afluente do rio Moa,
no Alto Juruá.
A mudança na política do Ibama começou
quando a senadora Marina Silva (PT-AC) assumiu o
Ministério do Meio Ambiente. No Acre, a gerência
executiva do Ibama está a encargo de Anselmo
Fornek, um catarinense com raízes fincadas
no Acre há 25 anos.
Anselmo já militou no CIMI - Conselho Indigenista
Missionário e é sócio fundador
da SOS Amazônia. Talvez por ter militado nas
causas indígena e ambiental, Anselmo teve
a sensibilidade suficiente para flexibilizar a posição
mantida pelo Ibama durante anos, o que vinha causando
o desgaste do órgão frente aos movimentos
sociais do Juruá.
A atual equipe do CIMI de Cruzeiro do Sul, formado
por Lindomar e Rose Padilha, teve um papel determinante
para que os Nauas fossem reconhecidos. Eles acreditaram
em uma causa que muitos já davam por perdida.
Para este pré-levantamento da Terra Indígena
Náua, o Ministério Público
determinou o sertanista da Funai Antônio Macedo,
justamente um dos maiores conhecedores das questões
indígenas no Estado. Macedo já iniciou
o levantamento junto ao povo Náua.
Pé-de-Guerra
No ano passado a
situação no PNSD chegou a um limite:
os Nauas e seus vizinhos, os Nukini, fecharam o
rio Moa para a passagem dos barcos do Ibama e da
SOS Amazônia. Embora o objetivo fosse pressionar
o Ibama, o resultado foi a detenção,
por cerca de duas horas, do secretário estadual
de turismo, Luís Figueiredo, sua família
e uma equipe de jornalistas que havia subido a Serra
do Moa para captar imagens das belezas locais. A
situação foi tensa por alguns minutos,
mas foi controlada pelos caciques Paulo Nukini e
Railson Náua que deixaram claro o que queriam:
o reconhecimento do povo Náua.
Terra dos
Náuas
Conhecida em todo
Acre como a "Terra dos Nauas", Cruzeiro
do Sul recebeu este nome graças ao povo guerreiro
que habitava a região e que foi dizimado
pela pólvora dos sertanejos. Os Nauas eram
dados por extintos e a Biblioteca de Cruzeiro do
Sul mantém a foto da índia Mairiune
como a última descendente dos Náuas.
O nome "Náua" aparece por todo
canto. É o nome de uma marca de café
muito popular na região, um posto de gasolina
e até uma rádio estatal já
tiveram este nome. Hoje vivem na região uma
dezena de diferentes povos indígenas: Araras,
Ashaninkas, Katukinas, Kaxinauas, Nukinis, Jamináuas,
entre outros, mas curiosamente a "Terra dos
Nauas", após o massacre de 1905 jamais
teve um povo que se declarasse como náua.
Em questão de 5 anos, uma comunidade vivendo
às margens do Igarapé Novo Recreio,
passou a assumir ou reassumir a identidade náua.
A questão se tornou tão polêmica
que acabou na justiça: de um lado CIMI e
os Nauas e do outro o Ibama e a SOS Amazônia.
Com a chegada de Marina Silva ao MMA e de Anselmo
Forneck ao Ibama do Acre, a questão ganha
outro contorno e uma audiência pública
marcada para o dia 15 de agosto deverá definir
o futuro do Parque Nacional da Serra do Divisor
e da Terra Indígena Náua.
Anselmo, no entanto, já deixou claro a sua
disposição e a da ministra em resolver
a questão até o centenário
de Cruzeiro do Sul, que será comemorado no
dia 28 de setembro do próximo ano.
Fonte: www.amazonia.org.br
Leandro Altheman