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CENTRO DE
BIOTECNOLOGIA DA AMAZÔNIA
É UMA ‘ANTA BRANCA’
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2003
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Uma anta branca no
meio da floresta. É o que parece o Centro
de Biotecnologia da Amazônia (CBA) para o
secretário de Política Tecnológica
e Empresarial do Ministério da Ciência
e Tecnologia, Francelino Grando. A razão
da crítica é que o projeto foi concebido
sem um modelo de gestão previamente definido,
o que vem emperrando o início das atividades
do centro. Inaugurado oficialmente em dezembro do
ano passado, após vários adiamentos,
o CBA ainda não tem previsão para
iniciar as atividades. Grando chegou ontem a Manaus
com o objetivo de estabelecer contatos na região
e começar a resolver questões como
Processos Produtivos Básicos (PPBs), investimentos
em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), além
do dilema do CBA.
"Considero um erro construir um grande prédio
para depois esperar e ver o que acontece",
comentou o secretário. Ele enfatizou, no
entanto, que não adianta lamentar os erros
passados, e informou que os secretários executivos
dos ministérios da Ciência e Tecnologia
(MCT), Desenvolvimento Indústria e Comércio
(Mdic) e Meio Ambiente (MMA) já iniciaram
conversas sobre o que fazer para tornar o CBA um
centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento
de tecnologias, objetivo para o qual foi criado.
Segundo Grando, dentro de duas ou três semanas
já estará definido o ministério
a que o CBA estará vinculado.
Ao que tudo indica, o centro deverá ficar
na alçada do MCT, o que não deve excluir
a participação do MMA, do Mdic, do
Governo do Estado e do empresariado local, por meio,
talvez, de um conselho de administração.
Segundo Grando, está se desenhando um consenso
para que o MCT assuma responsabilidades relevantes
na gestão do CBA. A idéia, segundo
Grando, tem a simpatia do ministro de Ciência
e Tecnologia, Roberto Amaral, que já se mostrou
receptivo ao projeto, quando o visitou em 28 de
março.
"Ao cabo de um conjunto de erros, temos a oportunidade
de conseguirmos um grande acerto, viabilizando um
verdadeiro centro de inovação. É
preciso ter coragem de chegar e criar. E a forma
de gestão que for dada a esse centro pode
ser a primeira grande inovação",
comentou Grando.
A proposta do CBA é criar condições
para viabilizar o uso sustentável e econômico
da biodiversidade amazônica, com ênfase
na geração e difusão do conhecimento.
Entre seus objetivos está o desenvolvimento
de novas tecnologias; coordenação
de uma rede de laboratórios regionais e nacionais;
implementação de pólos e parques
de bioindústria; apoio na formação
de empresas de base tecnológica e formação
de recursos humanos, entre outros. São objetivos
audaciosos que, no entanto, continuam no papel cinco
meses após a inauguração do
centro.
Investimentos
na casa dos R$ 18 milhões
O CBA foi inaugurado
oficialmente em dezembro do ano passado. De 1999
até o ano passado, o projeto já havia
consumido R$ 18,7 milhões em verbas federais,
sendo R$ 14,4 milhões destinados a construir
o prédio que abrigará o centro tecnológico.
A proposta do CBA é criar as pré-condições
para viabilizar o uso sustentável e econômico
da biodiversidade amazônica, por meio do fomento
à bioindústria.
A primeira leva de equipamentos para os laboratórios
do CBA está em fase de aquisição.
Estão sendo investidos cerca de R$ 3,7 milhões
nessa fase, mas a previsão é de que
para equipar totalmente o centro tecnológico
sejam necessários cerca de US$ 7 milhões.
Até ano passado, o projeto do CBA tinha como
gestora a organização social Bioamazônia.
O contrato de gestão firmado entre o Governo
federal e a entidade venceu em julho do ano passado,
ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, e
não foi definido um novo modelo de gestão
para o centro.
Governo do
Estado quer participar de fato
O Governo do Estado
tem a intenção de participar de forma
efetiva do modelo de gestão de Centro de
Biotecnologia da Amazônia (CBA). A informação
foi dada ontem pela secretária estadual de
Ciência e Tecnologia, Marilene Corrêa,
durante a visita do secretário de Política
de Informática do Ministério de Ciência
e Tecnologia, Francelino Grando. "O estudo
que estamos fazendo, no entanto, está na
dependência da redistribuição
das funções dos ministérios
em relação ao projeto do CBA. Por
isso não podemos detalhar agora nossa proposta",
disse a secretária.
Marilene Corrêa salientou que, na concepção
original do CBA já estava prevista a participação
do Governo do Estado no projeto, inclusive com contrapartida
financeira. Segundo um convênio assinado com
a Superintendência da Zona Franca de Manaus
(Suframa), o Estado deveria ter repassado R$ 2 milhões
ao projeto, o que acabou não acontecendo
durante a administração do governador
Amazonino Mendes. "O governo atual acena com
a possibilidade não só de retomar
a contrapartida financeira mas, inclusive, de ir
além participando decisivamente da manutenção
e da gestão do CBA", enfatizou a secretária.
O modelo de gestão do CBA está sendo
discutido pelos ministérios da Ciência
e Tecnologia, da Indústria e Comércio
Exterior e do Meio Ambiente. Ontem, quando visitou
as dependências do CBA, o secretário
Francelino Grando disse que os três ministérios
já estão se aproximando da conclusão
do modelo de gestão que deverá ser
adotado. "Não é possível
ficar mais tempo parado com um investimento desse
porte e que tem objetivos tão importantes
para o desenvolvimento da região. A minha
expectativa é que o modelo de gestão
seja definido ainda nesse primeiro semestre",
disse Grando.
Marilene Corrêa salientou que uma participação
mais efetiva do Governo do Estado, não significa
transformar o CBA num instituto do Governo, onde
os procedimentos rotineiros da administração
pública venham a impedir a realização
da inovação e do desenvolvimento tecnológico
e a realização do bionegócio.
"A concepção do projeto prevê
a separação entre os momentos em que
só a iniciativa privada estará presente
na realização dessas atividades fins
e o momento em que os Governos Federal e do Estado
entrarão nessas atividades.
A secretária afirma que há uma convicção
formada, por exemplo, de que é responsabilidade
dos governos a política de formação
de recursos humanos avançados para o projeto
do CBA. "Esse é um foco onde a empresa
privada tem uma atuação mais limitada.
As empresas têm a responsabilidade de formular
quais são os interesses estratégicos
em relação ao bionegócio e
áreas de aplicação. Os papéis
precisam estar muito bem detalhados", disse
Corrêa.
Secretário
cria grupo de trabalho
Os diversos problemas
envolvendo os Processos Produtivos Básicos
(PPBs) de alguns produtos fabricados no Pólo
Industrial de Manaus (PIM) serão debatidos
por um grupo de trabalho formado por técnicos
do Governo Federal, do Governo do Estado e da classe
empresarial. A decisão foi tomada, ontem,
pelo secretário de Política Tecnológica
Empresarial do Ministério da Ciência
e Tecnologia, Francelino Grando, após tomar
conhecimento de algumas discrepâncias nos
PPBs aprovados para as indústrias de Manaus.
Durante sua visita, empresários e técnicos
do Governo estadual apresentaram ao secretário
vários exemplos de como alguns PPBs prejudicam
o desenvolvimento do pólo de Manaus, com
determinações que são verdadeiros
contra-sensos. Um dos exemplos atinge os fabricantes
de bicicletas. O PPB de certos modelos populares
exige que o pé de vela - peça que
fixa os pedais da bicicleta - seja adquirido de
uma indústria instalada na Zona Franca. Acontece
que o único fabricante desse componente no
País está no Sul e não tem
interesse de vir para Manaus. Resultado: os fabricantes
de bicicletas são obrigados a importar as
peças, contribuindo para o déficit
na balança comercial da ZFM.
"A indústria local quer comprar do Brasil,
mas o PPB não permite, aí está
a incongruência", disse o secretário
de Políticas Setoriais do Governo do Estado,
Daniel Feder, durante o encontro entre Francelino
Grando e o secretário de Estado de Planejamento,
José Carlos Braga, na tarde de ontem.
Saiba mais
Processo Produtivo
Básico (PPB): Descrição de
todo o processo fabril de determinado produto ou
componente. Envolve detalhes como a listagem de
peças que podem ser compradas no País
e as que podem ser importadas.
Fonte: Amazônia (www.amazonia.org.br)
A Crítica (www.acritica.com.br)
Assessoria de imprensa (Joubert Lima e Terezinha
Torres)