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DIVERGÊNCIAS
AMBIENTAIS:
GABEIRA OFICIALIZA SAIDA DO PT
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2003
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Em um discurso na
Câmara dos Deputados no início da tarde
desta terça-feira (14/10) carregado de críticas,
o governo foi relacionado a “uma visão de
produtivismo estreita, que não considera
as variáveis ambientais”. Sobre esse tema,
contestou a MP dos transgênicos e a proposta
de industrialização do Pantanal
Em entrevista à imprensa, disse que o governo
Lula representa um retrocesso na área ambiental
em relação à gestão
anterior.
Fernando Gabeira
(RJ) gastou apenas seis minutos para relatar as
razões que o levaram a deixar oficialmente
nesta terça-feira o Partido dos Trabalhadores
(PT), ao qual era filiado desde 2001, e no qual
trabalhou, entre outros, como colaborador na elaboração
do caderno temático Meio Ambiente e Qualidade
de Vida, parte do programa de governo de Lula. Embora
breve, seu discurso, bastante contundente, foi aplaudido
por parlamentares em diferentes momentos - leia-o
na íntegra abaixo.
Entre as questões ambientais que o divide
do atual governo, selecionou a Medida Provisória
dos Transgênicos para abordar mais detalhadamente.
“Essa geração de políticos
que agora chega ao governo ainda trabalha muito
com os critérios da produção
e distribuição de bens materiais.
Ela não compreende que dirigir uma sociedade
hoje, além de trabalhar a produção
e distribuição de bens, é trabalhar
a produção, a distribuição
e a administração de riscos.” E completou:
“não há Direito que obrigue os consumidores
brasileiros a consumirem um produto sem que nem
saibam o que realmente estão consumindo”.
Sobre a afirmação do presidente de
querer discutir apenas cientificamente a questão
dos transgênicos, rebateu: “se reduzirmos
a questão dos transgênicos à
questão científica, vamos abstrair
as questões econômicas, política
e social?” Para o deputado, há nesse momento
uma incapacidade do governo de perceber que cometeu
um grande erro, uma incapacidade de discutir com
seus adversários uma saída honrosa
para esse impasse em que ele colocou a sociedade
brasileira.
Em relação à sua participação
no governo, afirmou ter achado que havia uma saída
no Estado, mesmo sabendo que este está em
frangalhos e que o grande capital deixou ao país
uma margem mínima de atuação.
“Hoje eu não digo claramente para todos que
meu sonho acabou. Não é isso. Eu digo
claramente que sonhei um sonho errado. O sonho errado
foi confiar que nós podíamos fazer
tudo aquilo que nós prometíamos rapidamente,
confiar que poderíamos fazer tudo aquilo
num período de quatro anos ou imediatamente.
Não. O sonho foi pior ainda: foi confiar
que era possível transformar o Brasil a partir
do Estado; foi não compreender que o Estado
já perdeu o dinamismo e que o dinamismo agora
se encontra na sociedade. Se o Brasil vai se transformar,
vai se transformar através da sociedade.
A sociedade é que vai impor os caminhos e
o Estado virá - que bom que venha -, talvez
cansado, talvez lento, mas virá acompanhando
nosso caminho.”
Governo Lula é
retrocesso em relação a FHC
Em entrevista à
imprensa após o discurso, Gabeira afirmou
não estar em uma posição contrária
ao governo Lula, mas de independência, assim
como negou retornar ao Partido Verde (PV).
Sobre a temática ambiental, acredita que
a atual gestão representa um retrocesso em
relação à anterior. “O governo
FHC também não nos atendia, era muito
medíocre no processo ambiental, mas a verdade
é que era muito melhor do que é esse
hoje, apesar de termos uma ministra do Meio Ambiente
maravilhosa.”
Para justificar sua afirmação, o deputado
utilizou como exemplo a participação
brasileira no cenário internacional em relação
à questão das mudanças climáticas,
particularmente a proposta de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), que, segundo ele, “poderia e pode trazer
inúmeros investimentos para o Brasil”, mas
que não recebe a importância adequada
do atual governo. Gabeira citou também a
soja transgênica, argumentando que embora
Fernando Henrique Cardoso tenha convivido com a
plantação dos transgênicos,
jamais tomou a decisão de legalizar a plantação
clandestina.
Em relação à atuação
da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o deputado
acredita que será fortalecida. “Ela tem a
minha total confiança e ajuda.”
Ele disse ainda que é necessário que
a sociedade mostre ao governo que a perspectiva
que ele tem do meio ambiente é dramática.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)