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“É
FUNDAMENTAL QUE O GOVERNO OUÇA
A SOCIEDADE CIVIL”, DIZ CAPIBERIBE
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Outubro de 2003
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“É fundamental
que o governo ouça a sociedade civil e os
parlamentares preocupados com os rumos da política
ambiental”
Em entrevista ao
Instituto Socioambiental (ISA), João Capiberibe
(PSB/AP), que após a edição
da MP dos Transgênicos renunciou à
vice-liderança do governo no Senado e solicitou
a abertura de uma CPI para investigar a entrada
clandestina de sementes de soja transgênica
no Brasil, demonstrou preocupação
com a falta de discussão política
do governo com a base aliada, especialmente em relação
à elaboração do Programa de
Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia.
Até o início
deste mês, João Capiberibe respondia
pela vice-liderança do governo no Senado.
Com a edição da Medida Provisória
(MP) dos Transgênicos, renunciou à
posição, embora tenha afirmado que
até o fim do ano deve permanecer na base
governista. “Havia colocado a minha posição
de que não se deveria autorizar a medida
provisória que libera a soja transgênica.
Agora, como a MP foi editada e vem ao Senado para
votação, não teria condições
- até por uma questão ética
- de permanecer no cargo.”
No dia 9/10, Capiberibe deu entrada a um requerimento
solicitando a abertura de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) para investigar a entrada
clandestina de sementes clandestinas de soja no
Brasil. A proposta para a instalação
da CPI foi aprovada com a assinatura de 38 parlamentares,
mas, para que seja iniciada, ainda é necessário
que os líderes dos partidos indiquem os nomes
dos senadores que irão compô-la.
“Se nós não tomarmos medidas para
tentar impedir que isso se reproduza, vamos nos
transformar em um país no qual as pessoas
não vão se sentir obrigadas a cumprir
a lei. Além disso, ficamos parecendo uma
'republiqueta' de banana, onde uma multinacional
como a Monsanto define a sua estratégia de
penetração de sementes clandestinas,
estimula a subversão, e depois é premiada
com a legalização da ilegalidade.”
O parlamentar integrará ainda a Frente Parlamentar
Mista pela Biossegurança e Pelo Princípio
da Precaução, que será lançada
na próxima quarta-feira (22/10), às
9 horas, na Câmara dos Deputados, com o objetivo
de criar mecanismos e espaços institucionais
que promovam um amplo debate nacional sobre o tema.
Capiberibe acredita que, em decorrência da
polêmica dos transgênicos, o atual momento
representa uma grande chance para o governo fazer
acertos em relação à política
ambiental. “Foi a partir daí que os setores
mais comprometidos com meio ambiente começaram
a se mobilizar, e agora que está se criando
uma corrente de pressão para tentar propor
uma mudança de eixo na política ambiental.
Acho fundamental que o governo ouça e considere
as proposições da sociedade civil
e dos parlamentares que estão preocupados
com os rumos da política ambiental. E mesmo
entre a opinião pública internacional,
sobre a qual o presidente Lula goza de um prestígio
muito grande, estão começando a surgir
críticas.”
Sustentabilidade
da Amazônia versus PPA
O Programa de Desenvolvimento
Sustentável para a Amazônia (PAS),
cuja elaboração era aguardada para
agosto, mas até o momento não foi
concluído, representa uma das principais
expectativas do senador. Ele é um dos autores
do requerimento para a realização
de uma audiência pública no Senado,
sobre o assunto, que deveria ter ocorrido na última
terça-feira, mas foi transferida para a próxima
semana em decorrência do não comparecimento
do ministro da Integração Nacional,
Ciro Gomes, coordenador do PAS, ao evento.
O senador espera que o PAS mude o eixo econômico
da região, contemplando o uso sustentável
dos recursos naturais, ações integradas
em relação à promoção
da comercialização desses produtos,
pesquisa, assistência técnica e crédito;
o desenvolvimento de atividades novas, como o ecoturismo;
e um conjunto de atividades no campo social e cultural.
“As atividades econômicas na Amazônia
drenam as riquezas locais sem promover a satisfação
social. Nossa expectativa é que, pela primeira
vez, um programa para a Amazônia beneficie
e respeite as comunidades locais, e que o desenvolvimento,
para quem mora na região seja concreto, palpável.”
Apesar de suas expectativas, ele confirma preocupação
com o fato de o governo ter anunciado que o PAS
balizaria o Plano Plurianual (PPA) 2004-2007. Encaminhado
ao Congresso Nacional no fim de agosto, o PPA de
Lula representa uma continuidade do Avança
Brasil, abrangendo diversos projetos de infra-estrutura
na Amazônia, alguns deles voltados a facilitar
o escoamento da soja produzida na região
para mercados externos.
“Por isso, seria fundamental a presença do
ministro Ciro Gomes, para que ele explique a relação
entre o PPA, que inclui projetos polêmicos
como Belo Monte e Urucu-Porto Velho do governo FHC,
anteriormente contestados pelo PT. Mesmo nós
que somos da base de apoio ao governo Lula, com
muita experiência acumulada na região
e projetos já executados, ainda não
tivemos oportunidade de apresentar propostas”, contesta
Capiberibe, generalizando posteriormente a falta
de discussão política do governo com
a base aliada.
Reforma Tributária
Sustentável?
Em relação
à possibilidade de serem incluídos
na reforma tributária pontos defendidos por
um conjunto de ONGs ambientalistas, como garantir
que a parcial desoneração da folha
de salários possa gerar empregos sustentáveis,
estimular a produtividade das empresas e racionalizar
o uso dos recursos naturais, o senador se demonstrou
cético. “A reforma tributária vai
avançar pouco. Uma tributação
que privilegie, digamos, os Estados ou municípios
preocupados com a conservação ambiental
está fora de cogitação. Acho
que não sensibilidade para a questão.
Os problemas fiscais da União e dos Estados
são tão prioritários na discussão,
que não há percepção,
neste momento, para uma política mais ampla.”
Esqueçam o
que eu disse?
Em julho de 2000,
durante a abertura da Conferência da Amazônia,
Lula, à época presidente de honra
do PT, referiu-se ao Programa de Desenvolvimento
Sustentável do Amapá, conduzido por
Capiberibe durante os oito anos em que governou
o Estado, como uma referência para a construção
de um projeto comum para a região Amazônica.
E, mais do que isso, afirmou: “nós não
podemos ficar assistindo as mesmas pessoas que devastaram
até o Mato Grosso, quererem agora fazer uma
expansão rural para a Amazônia sem
levar em conta de que a riqueza que a natureza produziu
poderá gerar o desenvolvimento que a região
precisa".
Atualmente, entretanto, a experiência acumulada
por Capiberibe parece não estar sendo tão
bem considerada.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)