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GOVERNO
E SOCIEDADE CIVIL PROPÕEM
ATUAÇÃO CONJUNTA PARA CONTER
DESMATAMENTO NA MATA ATLÂNTICA
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Julho de 2003
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Representantes do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e da Rede de
ONGs da Mata Atlântica estiveram reunidos
durante quatro dias na última semana para
elaborar uma proposta com medidas de combate aos
crimes ambientais no bioma, um dos mais ameaçados
do país.
Instalar mecanismos
de gestão com a participação
da sociedade civil, especialmente câmaras
técnicas, em todas as gerências executivas
localizadas na Mata Atlântica. Disponibilizar
ao público, preferencialmente via internet,
informações atualizadas sobre a fiscalização
do bioma. Promover ações de fiscalização
envolvendo diferentes instituições,
como o Ibama, as secretarias estaduais de Meio Ambiente,
órgãos municipais, as Forças
Armadas, o Ministério Público, o Poder
Judiciário e a sociedade civil.
Esses são alguns pontos da Carta de Tamandaré,
documento final do seminário realizado entre
8/7 e 11/7 no Centro de Pesquisa e Gestão
de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste (Cepene),
com o objetivo de estabelecer uma ação
conjunta entre o Ibama e a Rede de ONGs da Mata
Atlântica (RMA), que reúne 260 organizações
não-goevernamentais dos 17 Estados da Mata
Atlântica, entre as quais o Instituto Socioambiental
(ISA) [leia o documento na íntegra abaixo].
Cerca de 60 integrantes da Rede de ONGs da Mata
Atlântica, incluindo a coordenação
nacional e representantes de todos os Estados, estiveram
presentes ao evento, que contou com uma abertura
de Marcus Barros, presidente do Ibama, coordenação
de Flávio Montiel, diretor de Proteção
Ambiental do Ibama, e participação
de diversos gerentes regionais, chefes de fiscalização
e técnicos do órgão e do Ministério
do Meio Ambiente.
Em entrevista à Agência Estado, Geovana
Cartaxo, da coordenação da RMA, destacou:
“as ONGs têm pessoas qualificadas e podem
ajudar os fiscais na localização dos
desmatamentos ou agressões ambientais, no
monitoramento, na avaliação da extensão
dos danos e, às vezes, até fornecendo
mapas georreferenciados ou outros documentos de
apoio”.
As recomendações da Carta de Tamandaré
serão enviadas para o Grupo de Trabalho (GT)
Mata Atlântica, instituído pela ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, em 09/05. Formado
entre outros por integrantes dos Ministérios
do Meio Ambiente, da Agricultura e da Ciência
e Tecnologia, da Rede de ONGs da Mata Atlântica,
do Ibama, da comunidade científica, do setor
empresarial, de organizações indígenas
e de comunidades de pescadores artesanais, o GT
tem o prazo de um ano para estudar e propor ações,
políticas e programas para a proteção
do bioma.
Carta de
Tamandaré
Entre 8 e 11 de julho
de 2003, reuniram-se no Centro de Pesquisa e Gestão
de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste (Cepene),
em Tamandaré, Estado de Pernambuco, os representantes
do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente
e da Rede de ongs da Mata Atlântica, com objetivo
de discutir ações conjuntas para aprimorar
a fiscalização ambiental no bioma
da Mata Atlântica.
A Mata Atlântica é um bioma de grande
importância socioambiental, localizado na
região mais povoada e industrializada do
país, sendo a quinta área mais ameaçada
e rica em espécies endêmicas do mundo.
Resta apenas 7,3% de sua cobertura florestal original.
Suas diferenças de solo, relevo e características
climáticas fazem da Mata Atlântica
um mosaico diversificado de ecossistemas.
A sua importância exige que a sociedade brasileira
dê efetividade à sua proteção
conforme disposto na Constituição
Federal. A ameaça constante de degradação
requer um processo de fiscalização
de tolerância zero para o desmatamento, o
combate às ilegalidades e quaisquer atividades
não-sustentáveis. Mais que isso: é
necessária uma política de recuperação
e restauração da Mata Atlântica
com valorização e resgate dos conhecimentos
das populações tradicionais e povos
indígenas.
Os instrumentos de comando e controle na região
têm se apresentado insuficientes, sendo necessário
o aporte de recursos humanos, financeiros e tecnológicos
para implementá-los, com vistas a atender
a demanda da sociedade pela proteção
ambiental. A antecipação aos problemas,
o planejamento e o monitoramento não são
uma realidade nas operações de fiscalização.
Apesar da existência de uma ampla legislação
ambiental no Brasil e de instrumentos para sua aplicação,
não se configura a força desta legislação
de proteção ambiental, em especial
da Mata Atlântica, nas decisões judiciais
e nos procedimentos administrativos, diante da crescente
degradação do bioma.
A consolidação de uma cultura de maior
integração entre os órgãos
governamentais e a sociedade organizada irá
contribuir para uma maior eficiência na proteção,
conservação, recuperação
e restauração do bioma Mata Atlântica.
A promoção de articulações
institucionais é fundamental para inserir
a temática ambiental como prioridade em todas
as ações dos governos federal, estadual
e municipal.
No contexto do novo governo, a realização
da Conferência Nacional de Meio Ambiente será
uma oportunidade ímpar para concretizar o
compromisso do Brasil com uma sociedade sustentável.
Os participantes
do encontro comprometem-se a somar esforços
para:
1. Promover a sensibilização
dos poderes executivo e legislativo para que a alocação
de recursos orçamentários no PPA (2004-2007)
se faça de forma adequada e suficiente, privilegiando
os propósitos de proteção e
promoção do desenvolvimento sustentável
na Mata Atlântica e evitando financiar políticas
públicas contraditórias e lesivas
ao meio ambiente.
2. Promover a criação, institucionalização
e fortalecimento de ações coordenadas
dos diversos órgãos atuantes na defesa
e na fiscalização ambiental, incluindo,
entre outros, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
secretarias estaduais do Meio Ambiente, órgãos
municipais, Receita Federal, Forças Armadas,
Ministério Público, Poder Judiciário,
com a participação da sociedade civil.
3. Implementar em
todas as Gerências Executivas do Ibama instâncias
de gestão com participação
da sociedade civil, em especial as Câmaras
Técnicas, de acordo com a Portaria 143/02.
4. Valorizar, fortalecer e dignificar o trabalho
dos Agentes de Fiscalização.
5. Organizar e unificar os procedimentos de fiscalização,
incluindo coleta, processamento e disponibilização
dos dados, estruturando de forma adequada as gerências
e postos do Ibama para operacionalizá-los.
6. Estabelecer mecanismos de disponibilização
pública da informação sobre
a fiscalização de forma transparente,
acessível e atualizada, notadamente pela
internet, incluindo estações de acesso
público.
7. Promover prioritariamente a fiscalização
preventiva, planejada, contínua, tecnicamente
embasada, incluindo sistemas de inteligência
e ferramentas de Geomática.
8. Organizar um processo para, em curto prazo, esclarecer
e difundir as competências e atribuições
dos órgãos do Sisnama, enfatizando
o princípio da supletividade das competências
do Ibama.
9. Garantir a efetiva implementação
de mecanismos de controle e supervisão da
aplicação da legislação
ambiental pelos entes federativos.
10. Desenvolver alianças para estruturar,
implantar, manter e disponibilizar uma base de dados
atualizada sobre a Mata Atlântica.
11. Promover ações junto às
instituições financeiras oficiais
brasileiras para garantir a aplicação
efetiva dos princípios do Protocolo Verde.
12. Promover ações continuadas de
educação ambiental que propiciem e
estimulem a ampla participação social
no sistema de fiscalização para conservação
da Mata Atlântica, incluindo a criação
de uma campanha de cunho educativo que insira nos
meios de comunicação de massa os valores
ligados à proteção da Mata
Atlântica.
13. Promover ações prioritárias
de fiscalização e proteção
das unidades de conservação da Mata
Atlântica.
Fonte: Instituto Sócio
Ambiental – ISA (www.socioambiental.org.br)
Cristiane Fontes