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A LUCRATIVIDADE
DA CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
Panorama
Ambiental
São Miguel Arcanjo (SP) - Brasil
Dezembro de 2003
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Uma importante tese
de doutorado - "Determinantes da Recuperação
da Mata Atlântica no Estado de São
Paulo" - apresentada segunda-feira na Faculdade
de Economia e Administração da USP,
cujo conteúdo foi antecipado em ampla reportagem
de Roldão Arruda domingo passado neste jornal,
traz, pela primeira vez entre nós, dados
empíricos que mostram que o Brasil chega
com atraso à constatação que
muitos países já fizeram, de que a
preservação da natureza pode ser mais
lucrativa do que sua exploração predatória.
Eixo fundamental de todas as políticas ambientais
bem-sucedidas no mundo, esse axioma tem sido tratado
como anátema no Brasil, graças à
ação de correntes ambientalistas retrógradas,
mais preocupadas com abolir o capitalismo do que
com salvar árvores, que costumam reagir às
verdades científicas com autos-de-fé.
O autor da tese, o professor de pós-graduação
na Faculdade Getúlio Vargas e diretor de
Extensão das Faculdades Senac, Eduardo Mazzaferro
Ehlers, constatou, analisando fotos de satélites,
que, embora a devastação da Mata Atlântica
tivesse prosseguido no Estado de São Paulo
durante toda a década de 90, houve áreas
do Estado em que o processo foi estancado e outras
onde ele foi revertido e houve recuperação
de áreas anteriormente degradadas.
"Constatei que, em 204 municípios, quase
um terço do total no Estado, houve um salto
positivo e a tendência histórica de
degradação foi revertida."
Procurando as causas dessa reversão, Ehlers
localizou três pólos, em especial,
onde o fenômeno era mais nítido e,
após exaustiva pesquisa, definiu três
fatores que contribuíram para isso: a melhoria
da legislação ambiental - aliás,
enriquecida esta semana com a aprovação
pela Câmara dos Deputados do projeto do ex-deputado
Fábio Feldman, de proteção
da Mata Atlântica - acompanhada de aumento
de fiscalização (a atividade agrícola
diminuiu em áreas de proteção
permanente como topos de morros e margens de rios),
a retração da agricultura (diminuição
da área plantada) nas regiões estudadas
e - a grande novidade constatada por sua pesquisa
- o aumento exponencial da exploração
de atividades ligadas ao bom estado de conservação
do meio ambiente, como o "turismo de aventura".
Três das áreas onde era mais nítido
o processo de recuperação ambiental
medido pelo satélite - Campos do Jordão,
Águas de Lindóia e, especialmente,
Brotas, que se destaca das demais pelo volume e
pela qualidade do ganho ambiental obtido - são
hoje centros de práticas esportivas que atraem
quantidades cada vez maiores de turistas. Nos três
municípios, a densidade de micro e pequenas
empresas é bem superior à média
do Estado e, quando se analisa a composição
dessas empresas cruzando-se dados populacionais
com números do Sebrae, percebe-se que 20%
delas estão voltadas para o aproveitamento
do patrimônio natural. São agências
de ecoturismo, pousadas, esquemas de guiagem para
a prática de rafting no Jacaré Pepira,
afluente do Tietê, e assim por diante.
Enfim, desde que se estabeleceu um interesse econômico
dependente da conservação do meio
ambiente e uma boa parcela da população
local passou a ter emprego condicionado a ela, o
que era visto como um "obstáculo ao
desenvolvimento" - a conservação
ambiental - passou a ser uma condição
para ele. Os políticos locais não
ficaram insensíveis à mudança:
13 leis foram passadas nos legislativos locais,
todas tentando garantir o bom estado de conservação
do "suporte" de toda essa atividade.
O projeto de despoluição do Jacaré
Pepira se destaca nesse conjunto. Nada de novo debaixo
do sol. É cada vez maior o número
de países que conhecem o resultado de se
colocar a ganância a serviço da conservação
ambiental e se beneficiam em escala nacional da
cadeia de eventos que começa a ocorrer nesses
três municípios paulistas. Em todos
esses países, o turismo ecológico
é um elemento acessório da cadeia
do turismo ambiental, uma indústria em franca
explosão em todo o planeta, da qual a caça
e a pesca esportivas são os "produtos"
mais consumidos.
Como dizíamos no início deste editorial,
essa explosão se deve à simples constatação
de que preservar a natureza é negócio
muito mais rentável do que explorá-la
de forma predatória. Assim que nos rendermos
a essa obviedade de que outros países já
se beneficiam há muito tempo, a tragédia
ambiental brasileira, que hoje parece tão
desanimadoramente distante de soluções,
começará a se tornar mero registro
histórico.
(Editoriais O Estado de São Paulo)
Fonte: PE Carlos Botelho
Assessoria de imprensa