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ATERROS EM VALAS SOLUCIONAM
PROBLEMA DO LIXO
NOS PEQUENOS MUNICÍPIOS DE SP
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Fevereiro de 2003
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Menos
da metade dos 645 municípios paulistas
- 45,1% - tratam os resíduos sólidos
urbanos de forma adequada, mas, inversamente
proporcional a esse índice, 70,4% das
20.256 toneladas diárias de lixo gerado
no Estado são |
Guilherme
Werneck/SMA
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dispostas
adequadamente. Isto se explica pelo fato de
que as grandes cidades, que produzem maior
quantidade de resíduos, dispõem
de sistemas de tratamento e disposição
de resíduos considerados adequados.
Esses dados, contidos no Inventário
Estadual de Resíduos Sólidos
Domiciliares elaborado pela CETESB - Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental, revelam
que são os pequenos municípios
que enfrentam dificuldades para implantar
sistemas adequados de disposição
de resíduos sólidos. Por este
motivo, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo criou o Programa de Aterros
Sanitários em Valas direcionado aos
municípios com menos de 25 mil habitantes
e geração de até dez
toneladas diárias de resíduos
sólidos. Com essa finalidade, o Governo
do Estado, por meio do Decreto n° 45.001,
de junho de 2000, autorizou a secretaria a
celebrar convênios, a fundo perdido,
para a implantação desse tipo
de aterros. Anteriormente, em março
do mesmo ano, por meio do Decreto n° 44.1000,
já havia concedido esse benefício
a todos os 22 municípios do Vale do
Ribeira, independentemente do porte. |
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O
programa contou com uma dotação
inicial de recursos da ordem de R$ 6 milhões,
para atender aos 281 municípios que
se enquadravam nas condições
estabelecidas pelos decretos. Como parte desses
municípios já dispunham de outros
tipos de aterro ou recursos de outras instituições,
apenas 195, com cerca de dois milhões
de habitantes e geração de 800
toneladas diárias de lixo, assinaram
o convênio candidatando-se aos R$ 3,4
milhões colocados à disposição
pelo Governo do Estado.
Desse total, R$ 1,5 milhão já
foram liberados permitindo que, dos 195 municípios,
81, com população de 600 mil
habitantes e geração de 240
toneladas diárias de resíduos,
passassem a contar com aterros implantados
e em funcionamento. |
Outros
58 municípios, com população
de 400 mil habitantes e geração
de 160 toneladas diárias de lixo, já
dispõem de licenças para a instalação
de aterros em valas, cujas obras já
foram iniciadas. Além disso, 18 dos
municípios que firmaram convênio
desistiram do programa por motivos como a
alteração do aterro em vala
para aterros convencional, impossibilidade
de atendimento às exigências
estabelecidas, obtenção de recursos
de outras fontes de financiamento e outros.
O programa promoveu a expansão de 61
para 119 o número de municípios
que dispõem os resíduos de forma
controlada ou adequada, beneficiando mais
de um milhão de pessoas, que geram
aproximadamente 400 toneladas/dia de lixo.
Isso representou um incremento de 19% de ganhos
ambientais em relação ao problema
do lixo nos 645 municípios do Estado.
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Guilherme
Werneck/SMA
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Apesar disso,
77 dos 195 municípios ainda continuam
dispondo o lixo de forma inadequada, situação
que deverá estar regularizada no decorrer
de 2003. |
Aterros em valas
Os aterros sanitários
consiste, basicamente, na compactação
dos resíduos no solo, formando camadas que
devem ser cobertas periodicamente com terra, para
evitar a presença de vetores de doenças
e mau cheiro. Apesar de exigirem menor investimento,
tanto para implantação como para operação,
apresentam a desvantagem de não tratar os
resíduos, apenas armazenando-os no solo,
com riscos de contaminação do solo
e dos lençóis subterrâneos de
água. Além disso, requerem áreas
cada vez maiores que, nos grandes centros urbanos,
se tornam cada vez mais escassos.
Os aterros convencionais formam camadas de resíduos
compactados acima do nível original do solo,
resultando em "escadas". Em determinadas
situações, pode-se optar por escavações
de valas, ou trincheiras, que são preenchidas
com os resíduos. As dimensões das
trincheiras dependem da quantidade de resíduos
a ser aterrada e da vida útil desejada.
Nos municípios de pequeno porte, que dispõem
de recursos financeiros escassos, podem optar pela
construção de aterros sanitários
em valas, com trincheiras de pequenas dimensões,
que podem ser operados sem o uso de tratores de
esteiras, indicados para volumes superiores a 150
toneladas de lixo por dia. Neste tipo de aterro,
os resíduos são dispostos sem compactação
e a sua cobertura é feita manualmente.
Segundo o Índice de Qualidade de Aterros
de Resíduos em Valas, que compõem
o Inventário Estadual de Resíduos
Sólidos Domiciliares produzido pela CETESB,
a vida útil das valas deve ser de duas semanas,
com largura máxima de três metros e
profundidade máxima também de três
metros, considerando a capacidade de suporte e permeabilidade
do solo e a sua proximidade a núcleos habitacionais
superior a 500 m e estar a mais de 200 m de corpos
d'água. Considera ainda as condições
do sistema viário, acessos, presença
de catadores e de animais, entre outras características.
Por Newton Mizuho
Miura
A Experiência de Iguape
Iguape, no Litoral
Sul do Estado de São Paulo, tem a maior parte
de seus 1.964 km2 de área territorial incrustada
no maior contínuo de Mata Atlântica
do país. Este município, além
de se encontrar na Área de Preservação
Ambiental - APA Cananéia-Iguape-Peruíbe,
ainda abriga a Estação Ecológica
Chauás e dois terços da Estação
Ecológica Juréia-Itatins.
Um patrimônio natural tão rico precisa
ser preservado e é por isso que o prefeito
João Cabral comemora, com entusiasmo, a implantação
do aterro sanitário em valas, em dezembro
do ano passado, no bairro do Itimirim, na altura
do km 32 da Rodovia Prefeito Casemiro Teixeira -
SP-222, na antiga Fazenda Pedra Branca. "Este
é o primeiro aterro deste tipo na região
do médio e baixo Ribeira", disse.
Atendendo a exigências da CETESB - Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental, foi feita
uma avaliação técnica da área
de dois alqueires, a até sete metros de profundidade,
um a mais do que o exigido pela CETESB, verificando-se
que não atingia o lençol freático.
Segundo Luiz Guilherme Werneck, diretor do Departamento
de Meio Ambiente da Prefeitura do Município
de Iguape, "com o aterro, os resíduos
sólidos produzidos pela população
terão uma destinação adequada,
sendo dispostos no local e cobertos com terra diariamente".
No lixão Boiquara, que agora poderá
ser desativado, os resíduos ficavam a céu
aberto, atraindo vetores de doenças, além
de causar mau cheiro e degradar a paisagem. Nesse
local será construído um núcleo
de resíduos compactados, passando ainda por
um trabalho de recuperação com o plantio
de árvores nativas.
Na atual gestão, três dos quatro lixões
de Iguape, localizados nos bairros de Icapara, Barra
do Ribeira e Rocio, já foram desativados.
"É bastante gratificante perceber a
satisfação da população
com a eliminação dos antigos locais
onde os resíduos eram simplesmente jogados",
salientou o prefeito João Cabral.
Coleta Seletiva
Simultaneamente à
implantação do aterro em valas, a
prefeitura criou o Projeto Catador implantando um
sistema de coleta seletiva de lixo na zona urbana
da cidade como forma de diminuir o volume de resíduos
destinados aos lixões, agora ao aterro sanitário,
prolongando a sua vida útil. Iniciado em
setembro de 2002, a iniciativa envolve a Associação
de Catadores Novo Horizonte de Iguape, que já
conta com 13 associados
A cidade de Iguape produz cerca de oito toneladas
de lixo por dia. Parte desse volume está
sendo separado no Centro de Triagem, instalado no
antigo matadouro municipal, pelos catadores que,
antes, viviam nos lixões. O resultado da
venda desse material é revertido para os
próprios catadores, contribuindo para o resgate
da auto-estima desses trabalhadores.
A comunidade tem oferecido total apoio à
campanha, mostrando que a conscientização
e a participação da população
pode ajudar a evitar o acúmulo de lixo em
terrenos baldios, praças e ruas, não
dependendo apenas do empenho da prefeitura. "É
visível a disposição da comunidade
de deixar a cidade mais limpa. Montes de entulhos
foram recolhidos, mobilizando moradores e associações
de para que o lixo tenha destino certo," disse
o prefeito.
Outra iniciativa da prefeitura foi Projeto Vida
Nova envolvendo jovens e senhoras do município,
que criaram, por meio de uma cooperativa, a oficina
de papel reciclado artesanal reutilizando o papel
coletado no lixo e outras matérias-primas
como a fibra da bananeira, milho e cana-de-açúcar.
Para a implantação do projeto, a Prefeitura
de Iguape reformou a área do Centro de Eventos
onde funciona a oficina, cuja produção
está sendo comprada pela IPAR - Indústria
de Papéis Ararense reforçando a renda
de seis famílias.
Todo esse trabalho depende de um amplo esforço
de educação ambiental. Por isso, o
Departamento de Meio Ambiente do município
está desenvolvendo uma série de palestras
para a conscientização da comunidade,
exposições, reuniões com a
comunidade e outras ações. Um grande
empenho foi dado na produção da cartilha
"Ação Ambiental" sobre o
tema "Resíduos Sólidos",
que está sendo utilizada nas atividades curriculares
nas escolas de Iguape.
Por
Wanda Carrilho
Fonte: Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São
Paulo (SMA) (www.ambiente.sp.gov.br)
Newton Mizuho Miura/Wanda Carrilho
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