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INVASÃO
DE TERRA DO POVO CINTA LARGA
SIGNIFICARIA SEU GENOCÍDIO
Panorama Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Outubro de 2003
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Milhares de garimpeiros
podem re-invadir as Terras indígenas Cinta
Larga, em Rondônia. Uma centena deles acampa
na região e ameaça diretamente os
índios. Há 40 anos um primeiro genocídio
atingiu essa comunidade nativa pela mesma razão
que hoje os ameaça: as jazidas de diamantes
existentes em seu território. Reduzidos de
5 mil para 1,3 mil sobreviventes, os Cinta Larga
continuam enfrentando imensas dificuldades para
garantir e resguardar a posse de suas Terras Indígenas.
Hoje, a maior pressão que sofrem tem origem
na exploração ilegal de recursos naturais,
madeiras e minérios em suas terras, em especial
de diamantes, através de investidas de intermediários
de empresas de mineração e representantes
do governo de Rondônia. Desde janeiro de 2003,
a atividade predatória de garimpagem e saque
de recursos naturais havia sido contida com a ação
indigenista coordenada pela Equipe Tarefa da FUNAI
através da retirada de milhares de garimpeiros
com o apoio e a participação efetiva
dos índios Cinta Larga nas operações
e barreiras de fiscalização junto
a FUNAI, Polícia Florestal de RO, Policia
Federal, bem como a elaboração e apresentação
de um nova versão do Plano Emergencial Pró
Cinta Larga, que, desde 2002 e novamente em 2003
apesar de aprovado pelo Ministério da Justiça,
não foi implementado.
Ocorre que, com a não liberação
de recursos aprovados do Plano Pró Cinta
Larga e não implementação das
ações emergenciais, as pressões
sobre a população Cinta Larga, visando
à exploração ilegal de recursos
naturais em território indígena, se
intensificaram com as recentes ameaças de
morte contra lideranças indígenas
e funcionários da FUNAI, assédio financeiro,
adiantamentos e promessas de intermediários
de mineradoras de investimentos em atividades assistenciais
de obrigação do Estado (educação,
saúde, produção alimentar,
etc).
Para completar o quadro, o governador Ivo Cassol
(PSDB-RO) tem defendido e estimulado a mineração
e garimpagem em Terras Indígenas. No início
de setembro, ordenou a retirada de policiais florestais
que apoiavam a vigilância dos limites da área,
deixando os índios mais fragilizados. Só
no dia 18 de outubro, depois de muita pressão,
o governador ordenou o retorno dos policiais às
barreiras. No dia 20 de outubro, uma pessoa que
se diz representante da Companhia de Mineração
de Rondônia (CMR), empresa que conta com o
apoio do Governador, foi flagrado pela equipe da
FUNAI no interior da TI Cinta Larga, aliciando índios
para convencê-los a aceitarem a exploração
ilegal. A atitude do Governador de Rondônia
atende aos interesses dos mineradores e garimpeiros,
agravando a situação de risco dos
Cinta Larga, ao facilitar a exploração
clandestina. O risco de conflito e violências
é extremamente elevado se o Ministério
da Justiça não agilizar providências
do Plano Emergencial e garantir a integridade e
segurança dos índios e funcionários
da FUNAI no local, com a adoção das
ações de suporte e investimentos previstos
no Plano Emergencial combinado com ações
de inteligência e investigações
federais de combate ao crime organizado.
Trata-se de uma violação clara aos
Direitos Humanos, inclusive Econômicos, Sociais,
Culturais e Ambientais do povo Cinta Larga, reconhecidos
em nossa Constituição Federal e em
diversos Tratados Internacionais ratificados pelo
Brasil.
A fim de denunciar o desrespeito aos direitos constitucionais,
a posição do governo de Rondônia
e a lentidão do governo na liberação
de recursos e na garantia de proteção
à vida e ao território dos Cinta Larga
é que a Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
e o Instituto Socioambiental (ISA) lançam
essa campanha. Participe cobrando das autoridades
o comprometimento do governo brasileiro no sentido
de garantir a segurança dos Índios
e a imediata implementação do Plano
Emergencial Pró Cinta Larga.
Assine abaixo a Campanha de Apoio aos Cinta Larga
e envie sua adesão para os endereços
eletrônicos que se encontram no documento.
Para facilitar, recorte e cole os endereços
no campo do destinatário. Você também
pode aderir à campanha acessando a página
www.justicaambiental.org.br
Para mais informações sobre o povo
Cinta Larga ver:
<http://www.socioambiental.org/website/pib/epi/cintalarga/cintalarga.shtm>
CAMPANHA
DE APOIO AO POVO INDÍGENA CINTA LARGA
Excelentíssimos
(as) Senhores (as) Luis Inácio Lula da Silva,
Presidente da República, José Dirceu
de Oliveira e Silva, Ministro-Chefe da Casa Civil,
Luiz Dulci, Secretário Geral da Presidência
da República, Luiz Gushiken, Secretário
de Comunicação e Gestão Estratégica,
Nilmário Miranda, Secretário Especial
de Direitos Humanos, Matilde Ribeiro, Secretária
Especial para Políticas de Promoção
da Igualdade Racial, Waldir Pires, Controladoria
Geral da União, Marcio Thomas Bastos, Ministro
da Justiça, Dilma Rousseff, Ministra de Minas
e Energia, Marina da Silva, Ministra de Meio Ambiente,
Ciro Gomes, Ministro da Integração
Nacional, Paulo Lacerda, Diretor do Departamento
da Polícia Federal, Mércio Pereira
Gomes, Presidente da FUNAI, Marcos Luiz Barros ,
Presidente do IBAMA, Miguel Antonio Nery, Diretor
do Departamento Nacional de Produção
Mineral, Claudio Lemos Fonteles, Procurador Geral
da República, Ela Wiecko de Castilho, Coordenadora
da 6ª Câmara da PGR Maria Eliane Menezes
de Farias, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão,
Procuradores Regionais dos Direitos do Cidadão
de MT e RO Deputados e Senadores de Rondônia
e Mato Grosso e Presidentes de Comissões
da Câmara e Senado Federal,
Denunciamos ao Governo Brasileiro, ao Fórum
Permanente de Assuntos Indígenas da ONU,
à Comissão Internacional de Direitos
Indígenas da OEA e à Anistia Internacional
as violações dos direitos constitucionais
do povo Cinta Larga e ao mesmo tempo, requeremos
a adoção de medidas urgentes diante
dos conflitos que vêm ocorrendo nas Terras
Indígenas Roosevelt e Parque Indígena
do Aripuanã, nos Estados de Rondônia
e Mato Grosso, que ameaçam a integridade
física e territorial do povo indígena
Cinta Larga.
No aniversário de 40 anos do Massacre do
Paralelo 11, sob o mesmo território imemorial
em que o povo Cinta Larga foi vitima de genocídio,
provocado por interesses econômicos de mineradoras
de diamante, novamente ocorrem evidentes violações
contra os direitos indígenas. O massacre
de 1963 foi a primeira denúncia de genocídio
internacionalmente repercutida contra o Estado brasileiro.
Os mandantes nunca foram presos e as testemunhas
e denunciantes foram mortos e/ou enlouqueceram em
sanatórios. Neste período, os Cinta
Larga foram reduzidos de 5.000 pessoas para cerca
de 1.300 sobreviventes. Hoje, a maior pressão
que sofrem tem origem na exploração
ilegal de recursos naturais, madeiras e minérios
em suas terras, em especial de diamantes, através
de investidas de intermediários de empresas
de mineração e do Governo de Rondônia.
Causa-nos indignação a pretensão
e o requerimento protocolado no Ministério
da Justiça em 01/10/03, em que o Governador
de Rondônia, o Sr. Ivo Narciso Cassol, gestiona
a invasão de 3.000 garimpeiros e apresenta
proposta de "parceria" para aproveitamento
econômico de diamante dentro de Terras Indígenas
Cinta Larga, demarcadas, homologadas e registradas
no SPU (Serviço do Patrimônio da União).
O "negócio" seria efetivado pela
Companhia de Mineração de Rondônia
(CMR) que, segundo o governador, organizaria a atividade
de garimpagem e se responsabilizaria pela compra
do produto explorado dentro de TI´s. Aos índios
restaria o pagamento de um percentual da produção
extraída de suas terras.
O Governo de Rondônia coloca-se claramente
a favor dos interesses dos mineradores e garimpeiros,
agravando a situação de risco dos
Cinta Larga. A proposta do Governador desconsidera
a existência de direitos fundamentais inscritos
em nossa Constituição Federal, que
asseguram proteção especial aos povos
indígenas, reconhecendo sua organização
social, costumes e direitos originários sobre
as terras que tradicionalmente ocupam, exigindo
da União que garanta o respeito a todos os
seus bens.
Como garantia desses direitos, a Constituição
Federal exige que, para o aproveitamento dos recursos
minerais em terras indígenas, por um não
índio ou uma empresa, são necessárias
leis que declarem o relevante interesse público
da União e regulamente a atividade, assegurando
a consulta às comunidades afetadas e sua
participação nos resultados da lavra,
bem como autorização do Congresso
Nacional. É evidente que a mineração
ilegal e garimpagem clandestina comprometem a organização
social, os costumes e as tradições
desse povo indígena, e com isso os direitos
fundamentais dessas comunidades voltam a ser ameaçados.
A proposta do Governador é um verdadeiro
atentado ao Povo Cinta Larga e à Constituição
Federal.
Revolta-nos a omissão dos órgãos
públicos em proteger os direitos fundamentais
dos povos indígenas. O Ministério
da Justiça até hoje não se
manifestou contrário à proposta do
Governo de Rondônia, flagrantemente inconstitucional.
No dia 20 de outubro de 2003, uma pessoa que se
diz representante da Companhia de Mineração
de Rondônia (CMR) foi flagrado pela equipe
da FUNAI no interior da TI Cinta Larga, aliciando
índios para convencê-los a aceitarem
a exploração ilegal. Também
não se fala no projeto de lei que institui
o Estatuto das Sociedades Indígenas e, no
caso dos Cinta Larga, não se implementam
medidas consistentes de uma política indigenista,
como o já aprovado Plano Emergencial Pró
Cinta Larga.
Até o presente, a exploração
ilegal de minérios nas TI's Cinta Larga e
entorno vem contribuindo efetivamente com a corrupção,
a lavagem de dinheiro, tráfico de armas e
drogas naquela região de fronteira. Além
disso, o fato de o Brasil ainda não ter finalizado
a implementação do Certificado de
Kimberley impede a exportação oficial
de diamantes, exatamente por não haver segurança
de que os diamantes foram explorados legalmente
e não provêm de áreas de conflitos.
Estamos diante de sofisticado esquema de exploração
de minérios em prejuízo direto de
minorias e grupos indígenas com estratégias
e interações semelhantes ao que ocorre
em países africanos, objeto principal do
processo de Certificação Kimberley
para controle de origem, rastreio e exploração
de diamantes.
Diante da ameaça de genocídio a que
o povo Cinta Larga está submetido, requeremos
em caráter de urgência do Estado Brasileiro
as seguintes providências:
Garantia de segurança à integridade
física e ao território dos índios
Cinta Larga;
Repúdio público do Governo Federal
às propostas enviadas pelo Governador de
Rondônia ao Ministério da Justiça
para aproveitamento econômico de diamantes
nas Terras Indígenas dos Cinta Larga, por
violarem a Constituição Federal e
os direitos fundamentais desse povo indígena;
Discussão ampla com a sociedade civil, especialmente
os povos indígenas, para a regulamentação
das atividades de mineração em Terras
Indígenas, incluindo a discussão do
projeto de lei que institui o Estatuto das Sociedades
Indígenas;
Aplicação e liberação
pelo Ministério da Justiça da totalidade
dos recursos aprovados para custeio e investimentos
previstos no Plano Emergencial Cinta Larga;
Implementação das ações
de proteção e apoio a população
Cinta Larga, segurança alimentar, incremento
a produção de alimentos e diagnóstico
e perícias técnicas dos danos ambientais,
sociais e materiais causados pela exploração
ilegal de recursos naturais que subsidiem os planos
de aplicação e o Programa de Etnodesenvolvimento
Cinta Larga;
Articulação interinstitucional de
políticas publicas (Funasa, MEC, Ibama, Ministério
do Meio Ambiente, Ministério das Minas e
Energia) sob a coordenação do Ministério
da Justiça para a priorização
de ações de assistência à
saúde, educação, assistência
técnica, inventário e manejo de recursos
naturais para capacitar os índios e suas
Associações em atividades legais e
ambientalmente sustentáveis;
Articulação entre os serviços
de inteligência da Policia Federal, da ABIN,
do grupo de Combate ao Crime Organizado, do Ministério
Publico Federal e equipes de fiscalização
da Funai no sentido de assegurar a integridade de
vida aos representantes Cinta Larga e a apuração
dos crimes contra a integridade dos índios,
suas terras e patrimônio ambiental;
Requerimento do Ministério da Justiça
requisitando esclarecimentos dos governos dos estados
de Mato Grosso e Rondônia em relação
ao fomento à exploração ilegal
de recursos naturais e invasões em TI's e
a participação de agentes públicos;
Cancelamento administrativo pelo DNPM dos 479 requerimentos
de pesquisa, lavra e exploração mineral
incidentes, total e parcialmente, nos limites das
04 TI's Cinta Larga, assegurando o domínio
do subsolo da União e não permitir
a especulação cartorial do subsolo
das Terras Indígenas e a exploração
dos Cinta Larga à pressão de grupos
econômicos predatórios;
Determinação por parte do Ministério
da Justiça para a Policia Federal apurar,
localizar, identificar, avaliar e apresentar inventário
pericial de todos os lotes de mais de 4.000 diamantes
apreendidos desde 1999 pelas Policias Federal, Civil
e Militar através da relação
e análise comparativa de inquéritos
policiais, totalização dos autos de
infração/apreensão e flagrantes
lavrados na região visando a quantificação
e qualificação do total apreendido
para a certificação de origem do Processo
Kimberley , bem como a devida investigação
de desvios e irregularidades porventura ocorridas;
Termo de ajuste, leilão e doação
pelo DNPM dos valores referentes a total de pedras
de diamantes e outros apreendidas em investigações
policias e devidamente certificadas no processo
Kimberley em favor do Fundo Cinta Larga e Programa
de EtnoDesenvolvimento Cinta Larga que deverá
desenvolver ações integradas, de curto,
médio e longo prazo através de planos
de aplicação em atividades de desenvolvimento
econômico, cultural, social e ambiental em
favor dos Cinta Larga.
Termo de ajuste, leilão e doação
pelo Ibama dos valores referentes aos mais de 50.000
m3 de madeiras apreendidas em Juina, Vilhena, Aripuanã,
Espigão D'Oeste, Pimenta Bueno, Cacoal e
outros com origem em TI's Cinta Larga e devidamente
certificadas no processo CITES em favor do Fundo
Cinta Larga e programa de Etnodesenvolvimento Cinta
Larga. Atenciosamente, Seu nome e entidade
Fonte: GTA – Grupo de Trabalho
Amazônico (www.gta.org.br)
/ www.amazonia.org.br
Assessoria de imprensa