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MOVIMENTOS
SOCIAIS BLOQUEARAM
RODOVIA TRANSAMAZÔNICA
Panorama Ambiental
Anapu (PA) - Brasil
Outubro de 2003
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A Morte
da Floresta é o Fim das Nossas Vidas
A frase acima estampava
camisetas usadas por representantes de movimentos
sociais que bloquearam o km 120 da Rodovia Transamazônica,
em Anapu (PA), entre terça-feira e o fim
da tarde desta quinta-feira (23/10). Por já
terem garantido uma de suas reivindicações
- recursos para a recuperação da estrada
-, os manifestantes liberaram a rodovia, mas podem
voltar a ocupá-la caso não sejam atendidas
as outras demandas para a região, como a
regularização de dois assentamentos,
com a desapropriação imediata de grileiros;
a criação de duas Reservas Extrativistas
e a implantação de projetos de manejo
florestal.
Grilagem de terras, elevado índice de violência,
corrupção e descaso do poder público
caracterizam a região de Anapu, município
localizado no Sudoeste do Pará, às
margens da Transamazônica, onde vivem cerca
de 20 mil habitantes, cerca de 80% deles são
agricultores familiares, e cuja principal atividade
econômica é a exploração
madeireira.
Denunciados inúmeras vezes, esses graves
problemas foram incorporados ao Relatório
Brasileiro sobre Direitos Humanos Econômicos
Sociais e Culturais (DhESC) iniciativa realizada
com o apoio e a parceria do Programa de Voluntários
das Nações Unidas e da Secretaria
Especial de Direitos Humanos do Ministério
da Justiça -, divulgado em junho deste ano,
e ao pacote de denúncias encaminhado por
representantes do movimento social da região
ao ouvidor Agrário Nacional, Gercino José
da Silva Filho, vinculado ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário, no dia 16/10.
Também são pano de fundo da manifestação
que bloqueou entre terça e quinta-feira o
km 120 da Transamazônica - a cerca de 17 quilômetros
do centro de Anapu -, onde cerca de 800 representantes
do movimento social local, com o apoio do Grupo
de Trabalho Amazônico (GTA) e do Conselho
Nacional dos Seringueiros (CNS), permanecem acampadas
até que sejam atendidas as reivindicações
para o município e entorno: a regularização
de dois assentamentos sustentáveis, com a
desapropriação imediata das áreas
ocupadas; a criação de duas Reservas
Extrativistas (Resex); a liberação
de recursos para a recuperação da
rodovia; a implantação de projetos
de manejo florestal e a construção
de uma delegacia de polícia.
Os manifestantes decidiram liberar a rodovia devido
ao anúncio nesta quinta-feira de que serão
liberados pelo Ministério dos Transportes
R$ 20 milhões para a recuperação
da Transamazônica. Também contribuiu
para a decisão a expectativa de que o ministro
do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto,
anuncie medidas relacionadas aos assentamentos e
ao ordenamento fundiário da região.
Amanhã (24/10), ele reúne-se com lideranças
dos movimentos sociais, em Marabá e Altamira,
municípios próximos a Anapu.
Somando 120 mil hectares e voltados a atender 600
famílias, o Programa de Desenvolvimento Sustentável
(PDS) Virola-Jatobá e o PDS Esperança,
em Anapu, representam uma modalidade de assentamento
que incorpora a vertente ambiental, experiências
iniciadas na Amazônia em 1999, no governo
anterior. A regularização dessas áreas,
que já foram vistoriadas, consideradas improdutivas
e em parte decretadas - os locais pertencentes à
União -, mas continuam sofrendo a ação
de grileiros, é a principal reivindicação
dos manifestantes.
Eles também pleiteiam a implantação
da Resex de Bacajá, em Anapu, que só
depende da assinatura do decreto de criação
pelo presidente da República; e da Resex
do Riozinho do Anfrízio, no município
da Terra do Meio, cuja criação ainda
está sendo analisada pelo Centro Nacional
de Desenvolvimento Sustentado das Populações
Tradicionais (CNPT) do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). A Resex Bacajá totaliza 80,5 mil
hectares e deverá beneficiar 4 mil famílias
com a exploração sustentável
de recursos naturais.
Para reverter o quadro de violência na região,
que já acumula perdas de grandes lideranças,
como o Dema, ex-coordenador do Movimento pelo Desenvolvimento
da Transamazônica e Xingu (MDTX), é
defendida a construção de uma delegacia
de polícia no município. “Todo dia
na há cerca de cinco assaltos à mão
armada na Transamazônica, e a delegacia mais
próxima fica em Pacajá, a 80 quilômetros,
onde nem sempre há um delegado de plantão”,
afirmou Francisco de Assis dos Santos Souza, vice-
prefeito de Anapu e ex-coordenador da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará
(Fetagri) Transamazônica.
Outras preocupações dos movimentos
sociais locais são a construção
da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA),
cujo estudo de viabilidade foi incluído no
PPA 2004-2007, do governo Lula, e a expansão
da soja no norte do Mato Grosso e Sul do Pará,
atividade que tem sido privilegiada pelos governadores
desses dois Estados como a grande alternativa de
desenvolvimento regional.
Fonte: ISA – Instituto Sócio
Ambiental (www.socioambiental.org.br)
Cristiane Fontes