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SEQÜESTRO
DE CARBONO PODE SER
FONTE DE RENDA NA ILHA DO MARAJÓ
Panorama Ambiental
Belém (PA) - Brasil
Outubro de 2003
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Agência Brasil/Divulgação
O barco é o único meio de acesso
às comunidades ribeirinhas na região
Amazônica. |
Embora
uma boa parcela das famílias que formam
núcleos habitacionais na Ilha do Marajó,
no Pará, não entenda completamente
o que seja seqüestro de carbono, decidiu
participar dessa iniciativa proposta a elas
por instituições envolvidas
com as questões ambientais, entre elas
a União Européia. Até
porque, aprendeu e entendeu que essa atitude
não apenas proporciona melhoria em
suas vidas, mas propicia uma vida mais saudável
para grande parte do planeta. Os moradores
da maior ilha fluvial-marítima do mundo,
com 50 mil Km² de área, estão
sendo esclarecidos sobre as formas adequadas
de continuar a tirar seu sustento da floresta,
porém sem destruí-la e, assim
procedendo, melhorar as condições
de vida nos núcleos ribeirinhos. Conscientizam-se
também de que as ações
articuladas de sustentabilidade geram ganhos
ambientais que vão refletir até
em outros países. |
“Todos
que derrubam e queimam a floresta estão
prejudicando todo o planeta”, já aprendeu
João Monteiro de Oliveira, morador
da comunidade de Bom Jesus de Aramaraquiri,
município a cerca de 40 quilômetros
de Curralinho. A comunidade é uma das
participantes da “Iniciativa Curralinho-Marajó”,
incluída no Projeto Pobreza e Meio
Ambiente na Amazônia (Poema), da Universidade
Federal do Pará (UFPA), que tem aporte
financeiro da Comunidade Européia (CE). |
Agência Brasil/Divulgação
Cooperativa de Bom Jesus de Aramaraquiri aguarda
liberação do Ibama para comercializar
o palmito de açaí. |
Entre
as metas do projeto está a de seqüestrar
até 4.200 toneladas de carbono da atmosfera
por ano com a ajuda das 70 famílias
que se comprometeram em preservar 20 hectares
de suas propriedades para a preservação
ambiental. Isso tudo dentro do estabelecido
pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
definido pela Convenção de Mudanças
Climáticas e Protocolo de Quioto, “embora
nem todas as cláusulas estejam totalmente
definidas”, lembra o sociólogo Thomas
Mitschein, coordenador geral do Poema.
A proposta é que em troca da preservação
ambiental daquela área, cada família
receberia uma fatia do que for arrecadado
com a venda de créditos de carbono.
Para permanecer no projeto a pessoa não
pode derrubar ou queimar a mata preservada
por dez anos. “Então é justo
que cada um receba uma recompensa por deixar
a mata em pé”, sentencia Manuel Geoval
de Matos, presidente da Cooperativa Agrícola
de Bom Jesus do |
Aramaraquiri.
Esse apoio vem, por exemplo, com a implantação
de sistemas agro-florestais (Safs) na área,
que consiste na introdução de
culturas consorciadas com árvores frutíferas,
como caju e cupuaçu, de madeiras de
uso comercial e apicultura. Essa produção
é direcionada ao consumo local, todavia,
será canalizada também à
comercialização. As frutas serão
aproveitadas para polpas ou compotas, as castanhas
de caju e do Pará para beneficiamento
e a madeira manejada vendida para a indústria
da região.
Essas técnicas de cultivo consorciado,
manejo florestal e aproveitamento sustentado,
como é o caso do palmito do açaí,
já processado em pequena escala ainda
na comunidade de Bom Jesus de Aramaraquiri,
são ensinadas por especialistas do
Poema por meio de cursos e palestras. |
Agência Brasil/Divulgação
Tambaqui criado na lagoa Coroca pelo moradores
da comunidade |
Uma
vez preparados os monitores, eles repassam
as informações aos produtores
das 13 comunidades envolvidas, que recebem
kits para desenvolver avicultura, agricultura,
piscicultura e apicultura, o que representa
um investimento mensal de US$ 2 mil com cada
família por um ano. Para 2004, de acordo
com Mitschein, o objetivo é expandir
a iniciativa para mais comunidades marajoaras
chegando a 500 famílias.
Segundo o sociólogo, ainda não
existe um projeto estruturado de como vender
os créditos de carbono, “mas o importante
é estar com esse objetivo traçado
enquanto essa questão se ajusta entre
os países dentro do Protocolo de Quioto”,
diz ele.
Mitschein lembra que o projeto ainda não
alterou significativamente a vida das famílias
no sentido econômico, mas no que concerne
a infra-estrutura,por exemplo, alguns avanços
já foram conquistados. |
Hoje,
a comunidade de Aramaraquiri, onde o acesso
só é possível pelo rio
Amazonas, “já tem um barco de médio
porte, um escritório, telefone, antena
parabólica e acesso a Internet”, ressalta
Geoval de Matos.
Ele diz que antes do apoio da Comunidade Européia
a situação era precária
e “muitos produtores destruíam a floresta
para garantir sua sobrevivência. Agora,
ainda há quem explore madeira na ilha,
mas em escala bastante reduzida”.
O número de famílias participantes
ainda é pequeno em sua opinião.
Ele acredita que muitos produtores já
percebem a mudança que se processa
na vida daqueles que aderiram a iniciativa
e começam a procurar informações
de como participar. “À medida que os
resultado positivos forem sendo alcançados
mais e mais famílias virão se
somar ao projeto”, ressalta Geoval com entusiasmo.
Um dos entraves que emperram parte dos projetos
de desenvolvimento sustentável na região
amazônica é a posse da terra.
A totalidade dos extrativistas não
tem documentação das áreas
ocupadas. “Essa é uma barreira que
desacelera os projetos ambientais até
porque dificulta a aprovação
de financiamentos para os produtores e o apoio
de instituições estrangeiras
e ONG’s”, diz Mitschein. |
Agência Brasil/Divulgação
Gaiolas para criação de peixes
no rio Arapiuns |
O
conselheiro da CE, Thierry Dudermel, destaca
que o entrave burocrático para que
os produtores obtenham documentos de posse
contribui para desanimar a adesão de
algumas famílias aos projetos de preservação
ambiental. “Essa questão também
não deixar de trazer embaraços
para a liberação de recursos
por parte da Comunidade Européia”,
lembra Dudermel, afinal há sempre o
envolvimento de diversos governos nessas ações.
Esse item burocrático acaba tendo reflexos
em algumas fases dos projetos, como é
o caso da instalação das agroindústrias
para processamento de castanha do Pará,
de caju e do palmito colhido pelas comunidades
filiadas ao projeto Curralinho-Marajó.
Há quase dez meses a cooperativa formada
aguarda por documento do Ibama liberando seu
funcionamento.
Enquanto a autorização não
chega os produtos são comercializados
só na |
região
e em pequena quantidade. Esse emaranhado burocrático
termina por se constituir num contra-fluxo
para os projetos levados para a região.
Isso porque a grande maioria que vive do extrativismo
vegetal (90% da receita tributária
de Curralinho) frente a barreiras que lhe
pareça intransponível volta
rapidamente ao antigo roteiro predatório,
pois é assim que entende sua sobrevivência.
O prefeito de Curralinho, Álvaro Aires
da Costa, acha que toda essa ajuda da CE é
muito importante para a preservação
do meio ambiente e das famílias da
região. Todavia, coloca que com o alicerce
fixado para que os produtores mantenham a
floresta, também se consegue garantir
uma base segura para que a cultura popular
local não desapareça com o tempo.
Curralinho, com pouco mais de 20 mil habitantes
e embora distante 30 minutos de avião
de Belém, ou até 4 horas de
barco, não está imune aos ataques
dos malefícios da vida moderna. Como
forma de prevenção, desenvolve
um projeto de valorização e
manutenção da cultura regional,
como é o caso do folclórico
carimbó, agregando os estudantes do
município.
Na visão do prefeito Costa, enquanto
estudam e pesquisam sobre as manifestações
culturais da Amazônia, os jovens e adolescentes
estão afastados do convívio
com as drogas e a violência. |
Tartarugas
Assentado na mesma
premissa de desenvolvimento sustentável,
mas sem a vertente do seqüestro de carbono,
está o projeto de implantação
de bases integradas para a proteção
do meio ambiente. Ele é parte do Projeto
Demonstrativo (PDA) que por sua vez é um
subprograma do Programa Piloto para Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), coordenado
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), por
meio da secretaria de Coordenação
da Amazônia.
Um de seus exemplos é a Associação
dos Produtores Rurais e Criadores de Peixe da Comunidade
de Coroca (Aprucipesc), que há 8 anos congrega
26 associados (17 famílias) da comunidade
instalada a cerca de 3 horas de barco de Santarém
(PA), na margem esquerda do rio Arapiuns.
O PDA tem como alvo contribuir para a preservação
e conservação da Amazônia, da
Mata Atlântica e de seus ecossistemas associados
com a manutenção do homem como gerenciador
dessas ações. Essa iniciativa por
sua vez deve permitir e oferecer condições
para sua permanência com a família
nas áreas que ocupa.
Em Coroca, além da introdução
dos Sistemas Agroflorestais (Safs), ou seja, a reunião
consorciada de várias culturas, também
se desenvolve a criação de Tartarugas-da-Amazônia.
Os quelônios são criados num viveiro
no lago Coroca que também abriga 4 mil tambaquis.
As 3.500 tartarugas de hoje são alimentadas
com produtos derivados das ações agroflorestais
e também com ração produzida
com farinha obtida a partir da carcaça de
peixe.
Como a carne de tartaruga é um dos pratos
da culinária amazônica, a Aprucipesc
pretende ter um restaurante em Coroca para oferecer
a iguaria aos turistas. Para sua concretização,
que infelizmente não deve ser para este ano
como desejava a comunidade, são necessários
R$ 44 mil, verba que não faz parte dos US$
4 milhões que a CE já alocou para
a primeira fase dos projetos.
Além da lagoa Coroca, a piscicultura também
ocupa parte do leito do rio Arapiuns, onde são
mantidas gaiolas para a engorda de várias
espécies. Para alimentar os viveiros também
se usa a ração produzida na comunidade.
Tanto os peixes, quanto à farinha e os demais
produtos conseguidos pelas famílias, como
biscoitos, frutas e mel são comercializados
na região.
O mel, cuja meta é chegar aos 900 litros
este ano (em 2002 obteve-se 300 litros), é
produzido por abelhas com e sem ferrão. A
apicultura é desenvolvida dentro do Safs
para facilitar a coleta de néctar por parte
das abelhas. São 25 colméias espalhadas
pelos dez módulos de 6 hectares cada que
pertencem aos associados da Aprucipesc.
Embora acompanhem as atividades diárias dos
pais e sejam incentivadas a dar prosseguimento ao
projeto, as crianças da comunidade de Coroca
freqüentam, com outras da região, escolas
municipais para onde se deslocam em barcos, cujo
manejo iniciado ainda na tenra idade, permite se
estabeleça uma simbiose perfeita entre os
rios e os ribeirinhos.
Fonte: Agência Brasil (www.radiobras.gov.br)
Ubirajara Junior
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