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NO SUL DO
MARANHÃO, UM FIM DE SEMANA DE TRABALHO
DURO PARA COMBATER A ESCRAVIDÃO NO
BRASIL
Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Setembro de 2003
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Equipes do
governo federal já resgataram das condições
precárias em fazendas do Norte e Nordeste
mais de 3 mil trabalhadores este ano
Imperatriz, a segunda
maior cidade do Maranhão, situada no extremo
sul do estado, é a base para mais uma jornada
de trabalho, desta vez em pleno sábado, 20
de setembro. Hospedados num hotel simples da cidade,
os integrantes do grupo despertam pouco antes das
6 da manhã e engolem o café rapidamente
para, apressados, iniciar um longo dia de investigações.
As quatro caminhonetes estão preparadas para
qualquer tipo de terreno que apareça pela
frente. Tração nas quatro rodas, guinchos
elétricos. Acostumados a encarar territórios
ermos, onde a cidadania ainda é uma palavra
estrangeira, os doze integrantes do grupo embarcam
com destino à cidade de Açailândia,
a cerca de 70 quilômetros de Imperatriz. Vão
visitar uma região onde abundam, além
do gado e das palmeiras, as denúncias de
trabalho escravo, que são o alvo dessa equipe
de fiscalização móvel do Ministério
do Trabalho.
Ao todo são cinco auditores fiscais, além
de um delegado e cinco agentes da Polícia
Federal. Um representante do Ministério Público
do Trabalho veio de Brasília para acompanhar
a operação. Depois de uma hora de
viagem por asfalto, a equipe chega no Centro de
Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia,
uma entidade que tem o apoio da Comissão
Pastoral do Trabalho, órgão ligado
à Igreja Católica. A organização
não governamental é uma parceira do
governo no combate ao trabalho escravo. Acolhe trabalhadores
que conseguem fugir das grandes fazendas de gado
da região.
Os integrantes da equipe de fiscalização
querem mais informações sobre uma
denúncia de trabalho escravo na fazenda Nova
Era, localizada na região. Eles ouvem o relato
de Raimundo Nonato Santos, que trabalhava na fazenda
e foi até a cidade para tratamento de saúde.
Raimundo diz para os fiscais que, na fazenda, existe
o chamado “gato”, funcionário de confiança
do dono da fazenda que cuida dos trabalhadores e
alicia pessoas em outras regiões, prometendo
bons salários. Quando a pessoa começa
o trabalho, a coisa muda de figura, e o que foi
prometido se transforma numa ilusão: o salário
é menor do que o contratado, e o trabalhador
contrai dívidas no barracão (lugar
onde são vendidos pelo proprietário,
com preços acima do mercado, itens como roupas,
alimentos etc.).
Depois do relato do trabalhador, o comboio parte
em direção da fazenda, primeiro no
asfalto e depois numa estrada de terra esburacada.
Caminhões de gado transitam constantemente
na região. A poeira abundante da terra vermelha
tira toda a visibilidade. O calor de quase 40 graus
é sufocante. Quando a equipe chega na sede
da fazenda, não encontra ninguém.
O proprietário e os trabalhadores estão
numa área mais afastada. A fazenda tem cerca
de 48 mil hectares e mais de 6 mil cabeças
de gado.
A estrada vai piorando, com mais buracos, erosões
e poeira. Além dos caminhões, chove
sete meses por ano na região. O caminho contorna
grandes pastos e pouca mata nativa. Finalmente o
comboio chega onde estão os trabalhadores.
Apenas onze deles estão no lugar, deitados
em redes debaixo de uma cobertura de palha de palmeira.
O banheiro e a cozinha são improvisados com
lonas de plástico preto. Os fiscais começam
então a entrevistá-los para saber
como são tratados pelo fazendeiro. Perguntam
sobre as condições de trabalho. Se
tem folgas regulares, carteira de trabalho assinada,
se têm dívidas no barracão e
se recebem salários regularmente. Os funcionários
da fazenda trabalham na colheita de sementes de
capim para a formação de novos pastos.
Para cada saco de 10 quilos de semente colhido,
eles recebem R$ 10. No final de um mês o salário
chega a ficar entre R$ 200 e R$ 300. Descontando
as despesas no barracão com fumo, pasta de
dente e com as botas que usam, os empregados recebem
em média R$ 180. Os gastos dos empregados
são anotados num caderno, que não
estava no local.
Um dos empregados é o Sr. Nilson Ribeiro
da Silva, de 63 anos de idade que trabalha na fazenda
há um ano e meio e diz que não tem
o que reclamar. Para o Sr. Nilson o salário
é razoável. A única reclamação
é o transporte para a cidade, feito normalmente
no caminhão de leite. O motorista cobra R$
6 pela passagem. Os trabalhadores fazem a viagem
de aproximadamente 80 quilômetros uma vez
por mês. São R$ 12 ida e volta. Muito
caro segundo o Sr. Nilson.
Os fiscais constatam que não existe trabalho
escravo na fazenda. A denúncia não
foi confirmada, mas o proprietário, Sr. Hildebrando
Gonçalves dos Santos, é autuado por
não ter assinado a carteira de trabalho de
alguns empregados.
Para a Coordenadora da Equipe de Fiscalização,
Cláudia Brito, a denúncia não
comprovada é muito rara de acontecer. Normalmente
os fiscais encontram um quadro pior do que a denúncia
feita. Cláudia Brito diz que o trabalho das
equipes de fiscalização estão
de alguma forma conscientizando os fazendeiros.
No caso da fazenda Nova Era, o dono está,
inclusive, construindo um barracão dentro
das normas do Ministério do Trabalho, com
um banheiro e uma cozinha.
No dia seguinte a rotina da equipe se repete. Depois
de um café da manhã rápido
os fiscais entram nas caminhonetes para outra operação.
Desta vez na fazenda chamada Rodominas, também
localizada no município de Açailândia.
A estrada de terra é pior do que a do dia
anterior. Ela vai estreitando e passando por uma
mata densa e cheia de árvores. Os pastos
começam a desaparecer neste lugar. A certa
altura da estrada uma cerca de arame liso interrompe
a viagem do comboio. A partir daí todos são
obrigados a seguir a pé pela estrada. Os
federais vão na frente para garantir a segurança
do grupo. Nesta região, os fazendeiros costumam
contratar capangas armados para proteger a propriedade
de invasores e tomar conta dos trabalhadores.
Pouco mais de vinte minutos de caminhada para percorrer
e uma distância aproximada de 3 quilômetros,
os fiscais encontram uma pequena vila com sete casas.
Os policiais revistam todas elas e nada encontram.
Nem uma pessoa foi encontrada. A decepção
de todos é grande. Uma auditora do trabalho,
Valéria Félix, integrante da equipe,
conta que certa vez um fazendeiro da região
descobriu que sofreria uma fiscalização.
Segundo ela, na madrugada anterior ele retirou os
trabalhadores e, não satisfeito, fez buracos
enormes na estrada para impedir o acesso dos fiscais.
Valéria conta que teve de andar cerca de
5 quilômetros até o barracão
da fazenda. Chegando lá ela no encontrou
ninguém, mas achou o telefone celular do
fazendeiro que na correria o deixou cair na terra
e nem viu. Mesmo assim ele sofreu a fiscalização
e foi multado.
Depois de vasculhar todo o lugar, os fiscais retornaram
para os carros. A decepção era grande.
Mais uma vez a denúncia não se confirmou.
Depois de dar meia volta os fiscais resolveram ir
na sede da fazenda. Chegando lá foram recebidos
pelo proprietário e nada de irregular foi
constatado. Neste momento, os coordenadores da operação
fizeram uma reunião rápida e resolveram
retornar para Açailândia para colher
mais informações.
O trabalho é realizado constantemente pelas
cinco equipes de fiscalização móvel
do Ministério do Trabalho e Emprego. Elas
atuam principalmente no sul do estado do Pará,
no Maranhão, Tocantins e no Mato Grosso desde
1995. Os agentes da polícia federal sempre
dão apoio nas operações que
no ano passado foram somente 19. Neste ano já
foram realizadas 32. Os fiscais estiveram em 115
fazendas em 2003. Em 2002 foram visitadas apenas
57 propriedades. Para Cláudia Brito, isto
está sendo possível graças
ao apoio do governo e o lançamento do Plano
Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo com metas para os próximos 4 anos.
O plano prevê a implantação
de outras sete equipes de fiscalização
móvel, que segundo Cláudia Brito vai
ajudar ainda mais a combater o trabalho escravo
no país. A previsão é que seis
equipes fiquem baseadas no sul do estado do Pará,
região com o mais alto índice de denúncias.
Outra ação do governo para combater
o trabalho escravo é a formulação
de uma lista negra de grandes empresas que foram
pegas e multadas pela fiscalização
com empregados em situação de trabalho
escravo. Uma vez na lista, as empresas ficarão
impedidas de receber financiamentos através
dos bancos oficiais.
Fonte: Amazônia (www.amazonia.org.br)
Redação (Corban Costa)
Radiobrás (www.radiobras.gov.br)