Na
manhã de hoje, ativistas do Greenpeace
protestaram na rampa do Palácio do
Planalto, em Brasília (DF), para alertar
o governo federal que a ampla maioria da população
brasileira é contra a liberação
de organismos transgênicos no país.
O protesto ocorreu no mesmo dia em que haverá
uma reunião entre o Ministério
do Meio Ambiente, a Casa Civil e o novo relator
da Comissão Especial sobre Biossegurança,
Renildo Calheiros (PC do B-PE) para discutir
o Projeto de Lei (PL) de Biossegurança.
Os ativistas do Greenpeace representaram a
porcentagem de brasileiros contrários
aos transgênicos: "7 entre 10 brasileiros
não querem transgênicos",
informava a faixa.
Em dezembro de 2003, uma pesquisa realizada
pelo Ibope com 2 mil brasileiros indicou que
73% dos entrevistados são contra a
liberação dos transgênicos
no país até que exista consenso
na comunidade científica a respeito
da segurança desses organismos para
o meio ambiente e a saúde humana. Além
disso, a pesquisa constatou que 74% dos brasileiros
não querem consumir alimentos transgênicos.
Os ativistas protocolaram uma cópia
da pesquisa e uma carta endereçada
ao ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu (2).
O Greenpeace considera lamentável o
tratamento que vem sendo dado pelo governo
federal à questão da biossegurança.
O PL original, apresentado pelo governo em
outubro de 2003 depois de diversas reuniões
interministeriais, previa o licenciamento
ambiental, incluindo estudos de impacto ambiental
antes da liberação de qualquer
variedade transgênica. Previa também
que os pareceres da CTNBio (Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança)
só seriam vinculantes quando fossem
desfavoráveis; caso contrário,
o parecer da CTNBio deveria passar pela aprovação
dos Ministérios do Meio Ambiente, Saúde
e Agricultura.
Depois da apresentação do PL
pelo governo, no entanto, todas essas propostas
foram modificadas. De acordo com o parecer
apresentado pelo então relator da Comissão
Especial sobre Biossegurança, deputado
Aldo Rebelo (PC do B-SP), a necessidade de
realização de estudos de impacto
ambiental e sobre a saúde humana passaria
a ser determinada pela CTNBio, e não
pelos Ministérios do Meio Ambiente
e da Saúde, o que implicaria um completo
esvaziamento das competências dos ministérios.
"Com o parecer apresentado pelo relator,
o Projeto de Lei original ficou totalmente
desfigurado. O Princípio da Precaução,
que era garantido na proposta original por
meio dos procedimentos de licenciamento ambiental,
foi deixado de lado. Isso abriria caminho
para que qualquer empresa introduza transgênicos
no país sem ter que comprovar que seus
produtos são seguros para o meio ambiente
e para a saúde da população
brasileira", disse Gabriela Vuolo, da
Campanha de Engenharia Genética do
Greenpeace.
Outra modificação preocupante
proposta pelo relator diz respeito à
composição e à competência
da CTNBio. Pelo Substitutivo apresentado,
o número de representantes da sociedade
civil na comissão seria reduzido de
8 para 6, e a nomeação desses
representantes passaria a ser incumbência
do governo - não mais da própria
sociedade, como previa o Projeto apresentado
em outubro. Os pareceres da CTNBio passariam
ainda a ser vinculantes para todos os demais
órgãos e entidades públicas,
não havendo qualquer possibilidade
de revisão das decisões tomadas
pela comissão.
"Tão grave quanto as modificações
propostas pelo relator é o fato de
o governo não estar fazendo qualquer
esforço para manter seu próprio
Projeto de Lei. Pelo contrário, o então
relator do projeto e também líder
do governo na Câmara, deputado Aldo
Rebelo, que deveria defender a proposta do
governo, isto é, a manutenção
do PL original, atuou de maneira diametralmente
oposta", completou Gabriela. "Até
agora, somente as demandas de uma minoria
de produtores e de algumas poucas empresas
foram atendidas. A grande maioria da população
brasileira, que declaradamente não
quer consumir transgênicos, e a transversalidade
da temática ambiental, que o governo
assumiu como compromisso no início
do mandato, não estão sendo
consideradas nessa discussão."
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