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FRENTE PARLAMENTAR
APRESENTA SOLUÇÃO PARA HOMOLOGAÇÃO
DA TERRA INDÍGENA RAPOSA SERRA DO
SOL
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) Brasil
Abril de 2004
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Diante da demora
injustificável para a homologação
da terra Raposa Serra do Sol, com graves conseqüências
para os povos Macuxi, Wapichana, Ingarikó,
Taurepang e Patamona, organizações
indígenas, indigenista e outros movimentos
sociais de todo o Brasil resolveram colocar em xeque
o compromisso e a responsabilidade do Governo Federal
com os povos indígenas. Preocupada com a
possibilidade de uma ruptura total entre a Presidência
da República e as minorias étnicas,
a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas
apresentou nesta semana uma proposta para solucionar
o impasse.
A proposta busca superar o problema, sem prejuízo
aos índios e não-índios de
Roraima. De acordo com o que propõe a Frente,
o Governo deve assinar o decreto de homologação
nos termos da Portaria 820/98, assegurando a área
contínua; descolar a sede do município
de Uiramutã para fora da terra indígena;
indenizar e relocar todos posseiros em áreas
do Incra; indenizar e relocar os arrozeiros, através
de concessão do uso da terra e garantir a
manutenção das vias públicas.
Esta solução agradou o movimento indígena
e as comunidades da Raposa Serra do Sol, e está
sendo bem recebida pelo núcleo dirigente
do Governo. Na última terça-feira
os ministros da Casa Civil, Desenvolvimento Agrário,
Secretaria Geral da Presidência, Secretaria
de Comunicação e o presidente do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) estiveram reunidos com o
presidente Lula para discutir a questão fundiária
e avaliaram os pontos da proposta feita pela Frente
Parlamentar como uma boa solução tanto
para os indígenas quanto para os rizicultores.
Já a bancada federal de Roraima demonstra
que não está disposta a por fim ao
impasse não acatando a sugestão.
Em Manifesto à opinião pública,
divulgado ontem, mais de 30 entidades afirmaram
que "a omissão do Estado Brasileiro
só faz aumentar os conflitos em Roraima"
e que estão frustradas as esperanças
que os indígenas haviam depositado no presidente
Lula da Silva.
O Conselho Indígena de Roraima -CIR- resolveu
denunciar o Governo Brasileiro à Comissão
de Direitos Humanos da Organização
dos Estados Americanos - OEA, por não respeitar
os direitos e garantias das comunidades de Raposa
Serra do Sol. A advogada do CIR, Joênia Carvalho
Wapichana, protocolou a petição no
dia 29, diante dos holofotes da opinião pública
internacional.
Ao mesmo tempo lideranças indígenas
de vários povos do Brasil decidiram marchar
a Brasília para também deixar o recado
ao Governo. O cacique geral do povo Xukuru, Marcos
Xukuru, destaca que o desfecho do processo demarcatório
da Raposa Serra do Sol sinalizará os rumos
da política indigenista oficial. "O
problema da Raposa é o problema de todos
os índios do Brasil. Se o governo ceder à
pressão dos grupos econômicos de Roraima,
poderá ceder em outros estados também",
alerta.
Preocupados com as artimanhas criadas para retardar
a homologação, líderes Xukuru,
Truká, Krikati, Macuxí, Pataxó,
Guajarara e Potiguara reuniram-se nesta semana com
a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Indígenas
e com o relator da Comissão Externa da Câmara
dos Deputados, criada para avaliar "a situação
da demarcação em área contínua
da Raposa Serra do Sol", Lindberg Farias.
O deputado Lindberg Farias (PT) apresentou o relatório
em audiência na tarde de ontem (31), mas um
pedido unânime de vistas fez com que a discussão
fosse marcada para o próximo dia 6 de abril.
Ignorando a sugestão da Frente Parlamentar
em Defesa dos Povos Indígenas, no relatório
o deputado defende uma "nova identificação"
de Raposa Serra do Sol, "dela retirando as
áreas cujo aproveitamento é fundamental
para a Economia" de Roraima, e uma faixa de
15 km ao longo da fronteira do Brasil, Guiana e
Venezuela.
Para Agnaldo Pataxó, da Articulação
dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais
e Espírito Santo - APOINME, o relatório
"está sendo feito a serviço dos
latifundiários para se tornar um argumento
contra a homologação".
Apesar de se visualizar, finalmente, uma solução
justa que possa restabelecer a paz e esperança
para toda a população de Roraima,
índios e não-índios, "os
inimigos dos povos indígenas continuam intensificando
sua ação através de violentos
e mentirosos discursos, documentos e relatórios,
com o intuito de negar e retirar os direitos indígenas,
inclusive na Constituição. Raposa
é a senha para destruir outras terras",
concluiu Júlio José de Souza Macuxi,
do Conselho Indígena de Roraima.
Em Santa
Catarina, juiz segue decisão alinhada com
a justiça em Roraima
Enquanto o Governo
Federal retarda as publicações de
portarias declaratórias e homologações
de terras indígenas, decisões judiciais
colocam em risco o direito constitucional dos povos
indígenas sobre a terra.
Seguindo a decisão do Juiz Federal Helder
Girão Barreto, da Seção Judiciária
de Roraima, que em 4 de março de 2004 concedeu
liminar suspendendo parcialmente os efeitos da Portaria
820/98, do Ministro da Justiça, que declara
os limites da terra indígena Raposa Serra
do Sol, em Chapecó (SC), o Juiz Titular da
1.ª Vara da Seção Judiciária
Federal, Roberto Fernandes, anulou a Portaria Declaratória
da terra indígena Toldo Chimbangue II.
Para o Cimi, estas decisões são extremamente
preocupantes, porque revelam uma compreensão
de determinado segmento do Poder Judiciário
distanciada dos avanços conquistados na Constituição
de 1988.
Frente parlamentar apresenta solução
para homologação da Terra Indígena
Raposa Serra do Sol - 01/04/2004
Fonte: CIMI – Conselho Indigenista
Missionário (www.cimi.org.br)
Assessoria de imprensa