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NOVA POLÍTICA
DA FUNASA PODE PREJUDICAR SAÚDE INDÍGENA
Panorama
Ambiental
Fortaleza (CE) - Brasil
Abril de 2004
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O colapso das negociações
entre a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) e a Organização Não
Governamental (ONG) Urihi Saúde Yanomami,
responsável pelo atendimento a 53% da população
Yanomami no Brasil – em Roraima e Amazonas, no norte
brasileiro - pode comprometer seriamente a continuidade
da assistência á saúde desses
índios. A possível interrupção
dos serviços de saúde é uma
preocupação já manifestada
pelo Conselho Distrital do Distrito Sanitário
Yanomami (DSY), reunido de 8 a 10 de março,
em Boa Vista (capital de Roraima), e numa outra
reunião em Brasília (Distrito Federal),
dia 25 deste mês. Nesta última reunião,
ficou claro o interesse da direção
da Funasa de assumir o controle dos recursos essenciais
para a assistência no DSY, como o transporte
aéreo e terrestre e a compra de medicamentos
e combustíveis, sem que o órgão
tenha realizado qualquer ação concreta
no sentido de adquirir capacidades técnica
e operacional para tanto.
O Conselho divulgou um documento de avaliação
do modelo de gestão, destacando que é
"notória a atual falta de condições
da Funasa em assumir, de imediato, a execução
da saúde indígena". No documento,
o Conselho Distrital reconhece que a condução
da política de saúde indígena
é atribuição do governo federal.
No entanto, o direito de controle social da execução
dessa política deve ser garantido aos povos
indígenas. Lembra também que, a partir
de 1999, a saúde desses índios foi
reestruturada graças à experiência
das organizações não governamentais
na prestação da assistência
em contraste com a deficiência estrutural
da Funasa para atender às demandas no setor.
Com essa mudança, o DSY passou a contar com
o trabalho de várias organizações
da sociedade civil, dentre as quais, a Urihi-Saúde
Yanomami, que apresentou resultados extremamente
positivos no combate às principais doenças
que afetavam esse povo, como malária, tuberculose,
leishmaniose, difundidas, principalmente, depois
das invasões garimpeiras.
Por sua vez, o Instituto Socioambiental (ISA), embora
reconhecendo o direito do Estado brasileiro de mudar
suas políticas, questiona até que
ponto esse Estado terá condições
de manter o atual padrão de assistência
à saúde indígena, e conclui:
"A história recente demonstra que não".
O ISA cita como exemplo a situação
dos Yanomami que, entre 1999 e 2003, tiveram uma
redução bastante acentuada dos casos
de malária e mortalidade infantil, em contraste
gritante com o período anterior, quando o
atendimento era de responsabilidade exclusiva da
Funasa.
Para o Instituto, essa insatisfação
das ONGs deve-se ao fato de que a proposta da Funasa
agradou aos políticos de Roraima, inimigos
históricos dos povos indígenas, por
retirar delas a execução da saúde
indígena.
Ficou acertado na última reunião que
o convênio da Urihi, assim como os da Diocese
de Roraima, Secoya e IBDS (Instituto Brasileiro
de Desenvolvimento Sustentável), que também
atuam no DSY, será prorrogado por um prazo
de três meses, período no qual será
elaborado o Plano Distrital 2004/2005, a ser aprovado
no Conselho Distrital de Saúde, com a participação
das lideranças indígenas.
Os Yanomami são índios caçadores-agricultores
da floresta tropical do norte da Amazônia
cujo contato com a sociedade nacional é relativamente
recente. Seu território cobre, aproximadamente,
192.000 km², e a população, no
Brasil, chega a 12.500 pessoas, repartidas em 188
comunidades.
Fonte: ADITAL – Agência
de Informação Frei Tito para a América
Latina (www.adital.org.br)
Assessoria de imprensa