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PROBLEMA
DA PARCERIA DA FUNASA COM A URIHI SAÚDE
YANOMAMI CONTINUA
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) - Brasil
Abril de 2004
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Apresentamos
a seguir a nota divulgada pela coordenação
da Urihi.
"Durante a reunião
ocorrida no dia 25 de março em Brasília,
não houve acordo entre a organização
não governamental Urihi e a FUNASA para a
assinatura de um novo convênio para dar continuidade
às ações de saúde para
cerca de 50% da população Yanomami.
Durante o encontro ficou evidente o intransigente
interesse da direção da FUNASA de
assumir o controle de recursos essenciais para a
assistência no Distrito Sanitário Yanomami
(DSY), como o transporte aéreo e terrestre
e a compra de medicamentos e combustíveis,
sem que o órgão tenha realizado qualquer
ação concreta no sentido de adquirir
capacidades técnica e operacional para tanto.
É importante lembrar que, durante a década
de 90, quando a FUNASA foi responsável pela
execução direta das ações
no DSY e a situação de saúde
dos Yanomami era um escândalo internacional,
ocorreram graves crises de abastecimento e falta
de transporte por deficiências operacionais,
além de inúmeras irregularidades já
apuradas por auditorias oficiais.
A Urihi não se opõe à transferência
da totalidade ou de parte de suas atividades atuais
no DSY para a FUNASA. Pelo contrário, desejamos
unicamente que esta transição ocorra
de forma responsável, a partir de um processo
de fortalecimento técnico, administrativo
e político da instituição que
garanta que as extraordinárias conquistas
na saúde dos Yanomami não sejam ameaçadas.
Ficou acertado que o convênio da Urihi, assim
como os da Diocese de RR, Secoya e IBDS, que também
atuam no DSY, será prorrogado por um prazo
de 3 meses, período no qual será elaborado
o Plano Distrital 2004/2005, a ser aprovado no Conselho
Distrital de Saúde, com a participação
das lideranças indígenas.
Esperamos que no decorrer deste tempo o governo
reavalie a condução da implantação
das novas diretrizes, colocando o interesse público
em primeiro lugar.
Boa vista, 27 de março de 2004
URIHI - Saúde Yanomami"
O colapso das negociações
entre a Funasa e a Urihi pode comprometer seriamente
a continuidade da assistência á saúde
dos Yanomami. A possível interrupção
dos serviços de saúde foi uma preocupação
já manifestada pelo Conselho Distrital do
Distrito Sanitário Yanomami (DSY). Reunido
de 8 a 10 de março, em Boa Vista, o Conselho
divulgou um documento de avaliação
do modelo de gestão, destacando que é
"notória a atual falta de condições
da Funasa em assumir, de imediato, a execução
da saúde indígena".
No documento, o Conselho Distrital reconhece que
a condução da política de saúde
indígena é atribuição
do governo federal. No entanto, o direito de controle
social da execução dessa política
deve ser garantido aos povos indígenas. Lembra
também que, a partir de 1999, a saúde
indígena foi reestruturada graças
à experiência das organizações
não governamentais na prestação
da assistência em contraste com a deficiência
estrutural da Funasa para atender às demandas
no setor. Com essa mudança o DSY passou a
contar com o trabalho de várias organizações
da sociedade civil, dentre as quais, a Urihi-Saúde
Yanomami que apresentou resultados extremamente
positivos no combate às principais doenças
que afetavam esse povo, como malária, tuberculose,
leishmaniose, principalmente depois das invasões
garimpeiras. (Ver em anexo a íntegra do documento
do Conselho Distrital).
Essas apreensões já haviam sido manifestadas
por outras instituições. O Conselho
Geral da Tribo Ticuna (CGTT) entendeu que do ponto
de vista político a decisão foi autoritária,
e rebateu as afirmações de Ricardo
Chagas, diretor do Departamento de Saúde
Indígena (Desai), de que as ONGs são
"poderes paralelos que transgridem a lei".
Para os Ticuna, o diretor fechou intencionalmente
o diálogo entre o Desai e as organizações
conveniadas com a Funasa.
Por sua vez, o Instituto Socioambiental (ISA), embora
reconhecendo o direito do Estado brasileiro de mudar
suas políticas, questiona até que
ponto esse Estado terá condições
de manter o atual padrão de assistência
à saúde indígena, e conclui:
"A história recente demonstra que não".
O ISA cita como exemplo a situação
dos Yanomami que, entre 1999 e 2003, teve uma redução
bastante acentuada dos casos de malária e
mortalidade infantil, em contraste gritante com
o período anterior, quando o atendimento
era de responsabilidade exclusiva da Funasa. O ISA
cita a Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o Conselho
Indígena de Roraima (CIR) segundo os quais
a política anunciada pela Funasa equivale
a "um andar para trás". Para o
Instituto, essa insatisfação das organizações
não-governamentais deve-se ao fato de que
a proposta da Funasa agradou aos políticos
de Roraima, inimigos históricos dos povos
indígenas, por retirar das ONGs a execução
da saúde indígena.
Fonte: Comissão Pró-Yanomami
(www.proyanomami.org.br)
Assessoria de imprensa