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MENSAGEM
DO DIRETOR-EXECUTIVO DO PNUMA, KLAUS TOPFER
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2004
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Mensagem
de Klaus Topfer, diretor-executivo do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Pnuma) por ocasião do Dia Mundial do Meio
Ambiente (5 de junho)
Procuram-se!
Mares e oceanos: Vivos ou mortos?
Visto do espaço,
nosso planeta é azul, o que mostra que os
oceanos cobrem 70% de sua superfície. Sabemos
disto devido aos bilhões de dólares
que foram gastos nas últimas décadas
para explorar nosso sistema solar e o espaço.
A ironia desta paixão por explorar o lugar
ocupado pela humanidade no universo é que
aqui na Terra há uma fronteira descuidada
e em grande parte desconhecida sobre a qual sabemos
muito pouco. Em grande medida os mares e oceanos
da Terra seguem sendo um mistério. Sessenta
por cento do planeta está coberto por oceanos
de mais de dois quilômetros de profundidade,
a grande maioria dos quais inexplorados. Apesar
disto, nossa ignorância não evita a
exploração cega daquele que, como
vamos percebendo de forma crescente, é um
recurso frágil e finito. Mais de 70 porcento
da pesca marinha se situa atualmente até
seu limite de sustentabilidade ou acima dele. Em
todo o mundo, os consumidores estão introduzindo
novas espécies de peixes nos cardápios,
uma vez que as espécies tradicionais vão
se tornando ainda mais escassas, tanto que as comunidades
de pescadores artesanais, que somam a metade da
captura mundial de pescados, estão vendo
que seus meios de subsistência estão
cada vez mais ameaçados por frotas comerciais
ilegais, irregulares ou subsidiadas. Ao mesmo tempo,
a cada ano, práticas pesqueiras desnecessariamente
destrutivas causam a morte de milhares de espécies
marinhas e contribuem para a destruição
de importantes habitats marinhos.
A contaminação é outra ameaça
para a vida marinha, a saúde e os meios de
sustento do ser humano. Oitenta porcento da contaminação
dos mares tem sua origem em atividades baseadas
em terra. Três quartos das megalópoles
do mundo se encontram à beira-mar e 40 porcento
da população do mundo vive atualmente
a 60 quilômetros da costa ou menos. A mortalidade
e as enfermidades causadas pela contaminação
das águas costeiras custam 12,8 bilhões
de dólares por ano à economa mundial.
Apenas o impacto econômico anual da hepatite
causada por mariscos contaminados chega a 7,2 bilhões
de dólares. Contudo, as populações
e industrias costeiras não são as
únicas que contaminam os oceanos. Os rios
que desembocan no mar transportam sedimentos, águas
residuais não tratadas, dejetos industriais
e um espectro de desperdícios sólidos
de fontes interiores remotas. A cada ano, toneladas
de produtos de plástico vão parar
nos oceanos, causando a morte de centenas de milhares
de mamíferos marinhos e aves oceânicas
e de um número incalculável de peixes.
Esses dejetos não são apenas mortíferos,
mas tambén persistentes. Os animais mortos
por causa do plástico se decompõem,
mas o plástico não. Ele, permanece
no ecossistema, onde volta a matar repetidamente.
O excesso de adubos empregados na agricultura que,
ao ser transportado pelas águas, cria um
número cada vez maior de zonas costeiras
mortas onde as populações de algas
consomem periodicamente todo o oxigênio da
água, se adiciona aos males dos oceanos.
Acrescenta-se ainda, o aquecimento atmosférico,
que está elevando o nível dos mares
e as temperaturas. A mudança climática
ameaça destruir a maior parte dos recifes
de coral do mundo, causar estragos nas frágeis
economias dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento
e devastar a vida de bilhões de pessoas que
vivem em zonas alcançadas pelas tempestades,
furacões e tufões cada vez mais ferozes
que estão atingindo as costas de todo o mundo.
A soma de tudo isto configura un quadro de ecossistema
em crise. É por isso que o PNUMA elegeu Procura-se!
Mares e oceanos: Vivos ou mortos? como tema para
o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2004.
A mensagem é simples. Podemos eleger entre
atuar agora para salvar nossos recursos marinhos
o ser testemunhas de como a rica diversidade da
vida em nossos mares e oceanos chega abaixo do ponto
de recuperação. A boa notícia
é que não apenas está aumentando
em todo o mundo a consciência da crise enfrentada
por nossos mares e oceanos, mas também o
compromisso de fazer algo a respeito. Na Cúpula
Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável
os governos concordaram em uma série de metas
com prazos determinados para melhorar a legislação
da pesca e demonstrar em enfoque por ecossistemas
a respeito do desenvolvimento sustentável
dos mares e oceanos - inclusive o establecimento
de uma rede representativa de zonas marinhas protegidas
e um processo periódico para informar sobre
o estado do meio marinho e avaliá-lo. Essas
metas complementam os objetivos internacionalmente
acordados em matéria de desenvolvimento previstos
na Declaração do Milênio. A
redução da fome e da pobreza, assim
como o melhoramento da saúde, da educação
e das oportunidades de para os seres humanos - sobretudo
mulheres e crianças - em todo o mundo, contribuiria
sobremanera para reduzir a carga que pesa sobre
os mares e oceanos. O PNUMA é um dos principais
participantes em muitos dos mecanismos que servirão
para alcançar essas metas. Além de
participar nos preparativos para a Avaliação
Mundial do Meio Marinho, no último ano, o
PNUMA contribuiu para alertar à comunidade
mundial sobre o papel e o estado de habitats marinhos
fundamentais, como os forragens de pastos marinhos,
os corais de água fria e temperada e a importância
de se aumentar a superfície das zonas marinhas
protegidas, representada atualmente por menos de
0,5 porcento dos mares e oceanos. Estes habitats
se beneficiarão também da influência
crescente do Programa de Ação Mundial
(PAM) para a proteção do meio marinho
frente às atividades realizadas em terra
do PNUMA e da rede de programas e planos de ação
de mares regionais respaldada pelo PNUMA. No entanto,
nenhum destes muitos planos de restauração
e desenvolvimento sustentável dos mares e
oceanos do mundo terá êxito sem o respaldo
ativo de todos os setores da sociedade. A cada ano,
o Dia Mundial do Meio Ambiente oferece às
pessoas, comunidades, empresas, indústrias
e aos governos locais e nacionais a oportunidade
de centrar-se nos questões ambientais do
mundo. Este ano o olhar está focado sobre
os mares e oceanos. Mortos ou Vivos? A decisão
é sua.
Fonte: MMA – Ministério
do Meio Ambiente (www.mma.gov.br)
Ascom