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ONGs PROPÕEM
MEDIDAS PARA REDUZIR IMPACTOS NEGATIVOS
NA PRODUÇÃO DE SOJA
Panorama
Ambiental
Cuiabá (MT) – Brasil
Junho de 2004
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Organizações
ambientalistas brasileiras propõem medidas
que podem reduzir os impactos negativos, em termos
sociais e ambientais, no plantio da soja. A intenção
é que elas sejam voluntariamente adotadas
pelo agronegócio, como sua responsabilidade
empresarial e social, e desta maneira influencie
toda a cadeia de fornecedores. Para isso, foi construída
uma pauta de critérios a ser negociada com
as grandes empresas compradoras desta commodity,
nacionais e internacionais.
Esta lista contendo 20 critérios foi divulgada
durante o Seminário Caminhos para a Sustentabilidade,
que está ocorrendo em Brasília em
comemoração à Semana do Meio
Ambiente, promovido pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA).
O primeiro critério da lista a ser obtido
em curto prazo, a partir da próxima safra
(2004/5), propõe que os grandes compradores
e consumidores de soja só adquiram o grão
originado de áreas legalmente desmatadas
antes de 31 de dezembro de 2003. Já em longo
prazo, a partir da safra 2005/6, as medidas são
em relação à adoção
de boas práticas agrícolas.
Os critérios foram criados pelas Organizações
Não-Governamentais (ONGs) brasileiras que
atuam nas questões de meio ambiente e desenvolvimento
social. Resultaram de um debate feito pela Articulação
Soja -Brasil entre fevereiro e maio deste ano. A
discussão foi possível com a realização
de reuniões e de um fórum virtual
especialmente construído na Internet, com
a inscrição de 121 pessoas e participação
ativa de 82 membros de 61 ONGs do país.
A iniciativa da criação da Articulação
Soja -Brasil é da Coalizão Rios Vivos
em conjunto com o Fórum Brasileiro de ONGs
e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(FBOMS), do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
e Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar do Sul (FETRAF-SUL). O projeto está
sob a responsabilidade da Fundação
Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural
(Cebrac) e tem apoio financeiro da Fundação
DOEN, da Cordaid e de Solidaridad (organizações
da Holanda), entre outras.
Responsabilidade
Social
Conforme o moderador
do debate, Maurício Galinkin, da Coalizão
Rios Vivos/ Cebrac, a proposta de criar critérios
a serem negociados com as empresas compradoras,
para que elas os adotem como sua responsabilidade
social, surgiu de estudos realizados na Coalizão
Rios Vivos que indicaram que o mercado pode ser
mais eficaz que a legislação para
a redução dos impactos negativos na
agricultura. Na avaliação de Galinkin,
os governos pouco conseguiram interferir ou controlar
um processo relativo a commodities.
"Não dá para pensar em parar
o desmatamento via legislação, via
comando e controle. Esse e qualquer outro governo,
todos os outros anteriores e os próximos
dificilmente vão conseguir controlar de uma
forma efetiva uma área tão grande
quanto a brasileira", avalia.
Para Galinkin, a rápida destruição
da biodiversidade - do Cerrado e já começando
a penetrar na Amazônia - e de comunidades
tradicionais, os prejuízos causados a pequenos
produtores e a populações residentes
em suas imediações com a aspersão
de agrotóxicos no ar e poluição
das águas, entre outros, são desconsiderados
pelo agronegócio, governos e a maior parte
da mídia, ou no máximo debitados à
conta dos custos naturais que a população
tem que pagar para o país progredir.
Foi a partir desta preocupação que
as organizações chegaram aos parâmetros
de responsabilidade social, ou seja, ao caminho
onde o consumidor dita o que as empresas devem fazer.
"Nós estamos chamando essas empresas
a cumprirem suas responsabilidades com a sociedade
humana e com o planeta. Nós estamos propondo
que elas adotem critérios de compra social
e ambientalmente responsáveis", informa
Galinkin.
"Sabemos que conseguir a adoção
destes critérios pelas empresas é
muito difícil, mas já é um
primeiro passo", reconhece o secretário
executivo da Coalizão Rios Vivos, Alcides
Farias. Para ele, foi um passo importante que abre
uma nova etapa e permite chegar com uma proposta
concreta à mesa de discussões entre
Ongs, governos, consumidores, produtores e empresas.
Desmatamento
Na avaliação
de Farias um dos aspectos mais importantes dentro
da pauta de critérios é a aquisição
do grão originada somente de áreas
legalmente desmatadas antes de 31 de dezembro. Pois
esta proposta reduz o processo de avanço
desenfreado do desmatamento em áreas conservadas.
"Para mim a questão de não avançar
para outras áreas é a mais importante",
enfatiza.
Conforme Maurício Galinkin, hoje existem
mais de 10 milhões de hectares de áreas
abandonadas ou pastos degradados no Cerrado, que
podem ser transformados com relativa facilidade
em área produtora de grãos. "Isso
daria, no mínimo, 30 milhões de toneladas
de produção de soja e espaço
de tempo suficiente para promover estudos que possam
melhor balizar uma revisão de critérios
dentro de cinco anos", revela.
- A Articulação Soja -Brasil é
o resultado mais recente de um acúmulo de
conhecimento e de debates que vem ocorrendo entre
organizações e movimentos sociais
ambientais e sociais que se preocupam com os impactos
negativos da produção de soja.
- O Fórum
Brasileiro de ONGs (FBOMS) é a articulação
nacional das organizações ambientalistas
que visa promover a defesa do meio ambiente simultaneamente
a um processo de desenvolvimento efetivamente sustentável.
- A Coalizão
Rios Vivos, atualmente com mais de 400 ONGs, começou
a estudar o assunto em 1995/6 e no ano de 200 criou
um projeto chamado Triálogo Soja, que promoveu
estudos, troca de informações e debates
entre ONGs da América do Sul, do Norte e
Europa. Esse processo resultou em um documento de
diretrizes de Políticas, base dos critérios
ora propostos.
- A FETRAF-Sul congrega
mais de 200 mil trabalhadores familiares nos Estados
do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, e a agricultura familiar é responsável
por uma grande parcela da produção
de soja na Região Sul do país.
- O Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA) reúne mais de 500 ONGS
da Região Amazônica brasileira e vem
discutindo e acompanhando a penetração
do plantio de soja nessa região.
Fonte: ICV – Instituto Centro de
Vida (www.icv.org.br)
Assessoria de imprensa