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PROGRAMA
CRIADO PELAS NAÇÕES UNIDAS
É PIONEIRO NO APOIO ÀS COMUNIDADES
TRADICIONAIS DO CERRADO
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2004
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Nos últimos
dez anos, o cerrado brasileiro ganhou um novo sopro
de vida. Por meio de um projeto implementado pelo
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), comunidades tradicionais
da região passaram a retirar do bioma a própria
fonte de tenda e desenvolvimento sustentável.
O projeto prevê, por exemplo, o incentivo
à criação de animais silvestres,
produção de mel e aproveitamento de
frutas, castanhas, peixes e flores.
Por ano, o PNUD repassa cerca de US$ 500 mil para
capacitação e financiamento do trabalho
dessas comunidades do Cerrado. Até hoje,
127 projetos já receberam o recurso, arrecadado
a partir de doações para o Fundo Mundial
para o Meio Ambiente (GEF). “Ainda é um projeto
experimental, mas com excelentes resultados”, garante
o coordenador do Programa de Pequenos Projetos do
PNUD, Donald Sawyer.
Na vitrine do projeto, estão comunidades
como a da descendente de escravos Luceli Moraes
Pio, 41 anos. Com a avó, ela aprendeu o poder
de cura de plantas típicas do cerrado. Entre
elas, baru, jatobá e ipê roxo. Na comunidade
de Cedro, município de Minérios (MG),
as plantas medicinais fazem parte da tradição
há pelo menos 150 anos. “Mas, só com
o apoio do projeto do PNUD, nos últimos cinco
anos, conseguimos levar essa tradição
pra fora”, conta Luceli.
Hoje, a comunidade de Cedro chega a produzir 500
unidades de xarope, tintura e comprimido. As vendas
não rendem apenas salário, direto
ou indireto, para os 150 moradores. Com as plantas
medicinais, a comunidade já construiu uma
biblioteca e uma escola. A população
ainda passou a ter acesso a cursos de extensão
em centros universitários próximos.
Luceli já participou de vinte deles. “Minha
próxima meta é entrar na faculdade
de Biologia”, revela a extrativista.
Para a sul-matogrossense Rosana Sampaio, 33 anos,
entrar na universidade não chega a ser uma
meta individual. É um sonho que ela pretende
proporcionar aos filhos. Moradora do assentamento
de Andalucia, no município de Nioaque (MS),
ela trabalha com artesanato e tecelagem. A matéria-prima:
pequi, jatobá, baru, palha de arroz e banana.
Para transformar esse material em mantas, cachecóis
e tapetes, a comunidade recebeu R$ 30 mil do PNUD
em um ano. O dinheiro é usado para financiar
a produção e capacitar os moradores
a praticar um extrativismo sustentável.
“Para não degradar, nós passamos por
vários cursos. Aprendemos que não
podemos retirar tudo o que a natureza oferece. Dela
depende a fauna e a proliferação de
várias espécies”, ensina a tecelã,
que agora está envolvida em um novo desafio:
o turismo rural. “Hoje, muita gente aqui já
faz questão de manter o pé de baru,
por exemplo, no meio da pastagem das chácaras.
A comunidade agora entendeu que pode se beneficiar
muito da natureza preservada.”
Entre os benefícios, está o Centro
de Produção, Capacitação
e Pesquisa, construído na comunidade em uma
parceria com a organização não-governamental
Ecologia e Ação (Ecoa), responsável
pelo gerenciamento do projeto na região.
“Além de conhecimento, já tivemos
várias conquistas individuais com a tecelagem”,
comemora Rosana. “Muitas mulheres compraram máquina
de lavar roupa e vacas. Elas também puderam
melhor a aparência, pagando um dentista para
cuidar dos dentes.”
Fonte: Radiobras (www.radiobras.gov.br)
Juliana Cézar Nunes