|
SOCIEDADE
CIVIL REÚNE-SE COM MARINA SILVA PARA
DISCUTIR LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2004
|
|
Integrantes do Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS) solicitam audiência
com a ministra do Meio Ambiente para reivindicar
participação nas discussões
entre o Ministério do Meio Ambiente e a Associação
Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias
de Base (Abdib) sobre o tema, que é de interesse
de toda a sociedade e não apenas do setor
privado.
Em entrevista ao Instituto Socioambiental (ISA)
no início de abril para a reportagem que
denunciou o investimento de peso do setor privado
contra o licenciamento ambiental na imprensa, o
secretário-executivo do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), Cláudio Langone,
já anunciava a realização de
uma reunião com representantes da Associação
Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias
de Base (Abdib), na tentativa de superar o embate
e estabelecer um diálogo com o setor privado.
Desde então, o MMA e a Abdib definiram uma
pauta de discussões sobre os seguintes setores:
energia, transporte, saneamento e mineração,
como foi apontado a Temístocles Marcelo,
coordenador do FBOMS, Roberto Smeraldi, diretor
da Amigos da Terra–Amazônia Brasileira, Frank
Guggenheim, diretor executivo do Greenpeace Brasil,
Ricardo Verdum, assessor de Política Indígena
e Ambiental do Instituto de Estudos Socioeconômicos
(Inesc), Ludmila Caminha Barros, assessora de Políticas
Públicas do WWF-Brasil, Adriana Ramos, coordenadora
do Programa de Política e Direito Socioambiental
(PPDS) do Instituto Socioambiental (ISA), e Raul
Silva Telles do Valle, do PPDS do ISA, presentes
à reunião realizada na última
sexta-feira (28/5) com a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, o secretário-executivo do MMA,
Cláudio Langone, o presidente do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), Marcus Barros, o diretor
de Licenciamento e Qualidade Ambiental do Ibama,
Nilvo Luiz Alves da Silva, o secretário de
Recursos Hídricos, João Bosco Senra,
e assessores do MMA e da Agência Nacional
de Águas (ANA).
Energia é o setor considerado prioritário
pelos empresários que utilizam o fantasma
da recente crise do apagão para pressionar
maior agilidade na liberação de usinas
hidrelétricas, definidas como imprescindíveis
para sustentar um eventual “espetáculo” de
crescimento no país. De acordo com informações
concedidas pelo Diretor de Licenciamento e de Qualidade
Ambiental do Ibama ao ISA em abril, estão
sob análise 14 projetos de construção
de hidrelétricas, que correspondem a 3 mil
megawatts (MW), entre as quais a Usina Hidrelétrica
Estreito (TO), de 1 mil MW, casos considerados mais
delicados, concedidos pela Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel) na época
do apagão.
Nas reuniões com os empresários, os
representantes do MMA apontaram que há uma
série de conflitos herdados de gestões
anteriores, cujo modelo de planejamento do governo
federal e, conseqüentemente, as licitações
das obras, não consideravam as variáveis
socioambientais. Como resultado, todos esses impactos
incidiam sobre os licenciamentos ambientais, que,
muitas vezes, contavam e, ainda contam, com Estudos
de Impacto Ambiental/Relatórios de Impacto
Ambiental (EIA/RIMAs) de baixa qualidade. Não
apenas, mas por conta disso, a agilidade cobrada
na análise dos licenciamentos acaba sendo
comprometida.
Para alterar esse quadro, o MMA pretende estabelecer
agendas bilaterais com todos os ministérios
vinculados a infra-estrutura para o planejamento
integrado e estratégico do governo. A agenda
bilateral com o MME foi priorizada, com a assinatura
de um termo de cooperação técnica
pelas ministras Marina Silva (Meio Ambiente/MMA)
e Dilma Rousseff (Minas e Energia/MME) no fim de
março, devido à sanção
pelo presidente Lula no dia 16/3 do novo modelo
do setor elétrico, que prevê adoção
do licenciamento ambiental como pré-condição
para a licitação de empreendimentos.
Para a intensificação do estabelecimento
de ações de planejamento que considerem
a variável socioambiental, entre os quais
o Zoneamento Econômico Ecológico (ZEEs)
e avaliação ambiental estratégica,
também vem sendo defendido pelo MMA o fortalecimento
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) por
meio da formação de comissões
tripartites – formada por representantes de órgãos
ambientais dos níveis federal, estadual e
municipal.
Desde ontem até a próxima quarta-feira,
como parte das comemorações da Semana
do Meio Ambiente, o MMA instala Comissões
Tripartites Estaduais em Minas Gerais, Espírito
Santo, São Paulo, Acre, Roraima, Amazonas,
Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão,
Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
"Até o fim do ano teremos Comissões
Tripartites em todos os 27 estados", disse
Langone, durante o programa Câmara Agora Especial,
na TV Câmara, na sexta-feira (28/5).
Em recente seminário para discutir os rumos
do licenciamento ambiental no Brasil, com a participação
de integrantes da Associação Nacional
dos Municípios do Meio Ambiente (Anamma),
da Associação Brasileira dos Órgãos
Estaduais de Meio Ambiente (Abema), do Ibama e do
MMA, foi reconhecida a necessidade de investimentos
para a ampliação e qualificação
dos quadros técnicos dos órgãos
ambientais, garantia de acesso à informação
para a sociedade e aprimoramento de procedimentos
administrativos e capacitação de gestores
e estruturação dos sistemas municipais.
Também estão na lista discutida pelo
primeiro e segundo setor a regularização
da infra-estrutura instalada antes da exigência
da licença ambiental e a estruturação
da Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental
(Diliq) do Ibama, por meio da da já anunciada
ampliação da equipe técnica,
do lançamento do portal com a tramitação
on-line dos licenciamentos ambientais e da adoção
de instrumentos estratégicos, como a padronização
de procedimentos para análise de licenciamento.
A Diliq contava com 10 técnicos no início
do governo Lula, hoje são 71 e há
a perspectiva da contratação de mais
150 técnicos por meio do concurso a ser realizado
em julho, o segundo do Ibama em 15 anos de existência.
Durante audiência pública realizada
na semana passada, Nilvo Luiz Alves da Silva explicou
que anteriormente a análise de licenciamentos
ambientais era feita por técnicos com contratos
temporários, como noticiou a Agência
Carta Maior. “O desafio de estruturar definitivamente
o Ibama nunca foi assumido. Na área de licenciamento
são analisados empreendimentos estratégicos
que custam bilhões de reais, e não
se fez investimento no pessoal responsável
por essas deliberações”, afirmou aos
deputados.
Uma demanda dos empresários é de que
sejam estabelecidos critérios para o artigo
da Lei 9.985 - institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação (SNUC) -, que prevê
destinação de pelo menos 0,5% os custos
de empreendimentos com significativo impacto ambiental
para o apoio à implantação
e manutenção de Unidades de Conservação
(UCs) de Proteção Integral. Integrantes
do setor privado denunciam que órgãos
governamentais têm se aproveitado do fato
de não sido estabelecido um teto máximo
para barganhar recursos abusivos.
Os representantes do FBOMS reivindicaram participação
nesta discussão, uma vez que o tema é
de interesse de toda a sociedade e não apenas
do setor empresarial.
Foi anunciada a realização de mais
um seminário para debater o tema pelo Ministério
do Meio Ambiente, que será aberto a todos
os interessados. Ainda sem data definida, inclui
na pauta a definição de uma estratégia
de aperfeiçoamento da relação
com o Ministério Público voltada para
a diminuição da “judicialização”
de processos de licenciamento ambiental, o fortalecimento
do Sisnama, entre outros.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)