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EDUCAÇÃO
INDÍGENA NO BRASIL, VENEZUELA E COLÔMBIA
É TEMA DE SEMINÁRIO EM SÃO
GABRIEL DA CACHOEIRA (AM)
Panorama
Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2004
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A Foirn (Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro) e o ISA (Instituto Socioambiental)
foram anfitriões de um seminário de
cinco dias, na cidade de S. Gabriel da Cachoeira
(AM), para intercâmbio de experiências
inovadoras em educação indígena
implantadas numa vasta região do noroeste
amazônico que abrange Brasil, Colômbia
e Venezuela. O evento foi organizado pela Foirn,
ISA, Fundación Etnollano (Colômbia),
Fundación Gaia (Colômbia), Organización
de Pueblos Indígenas del Amazonas (Venezuela),
Zona Educativa estado Amazonas (Venezuela).
A oportunidade de troca de experiências faz
parte da agenda da Canoa – Cooperação
e Articulação do Noroeste Amazônico
- uma rede que integra Ongs e organizações
indígenas dos três países, com
a perspectiva de promover processos de discussão,
monitoramento e avaliação de projetos
em comunidades indígenas nas áreas
de saúde, educação e atividades
produtivas. “Temos direitos que são próprios
mas que também são universais”, explica
André Fernando, da etnia Baniwa do lado brasileiro.
“Este encontro da Canoa permite a gente ver como
nossos companheiros trabalham isso na comunidade
deles, na escola deles, com os governos deles”.
Iniciado no dia 1º de fevereiro, na maloca
da Foirn, com a presença de representantes
de instituições locais, como a prefeitura
de S. Gabriel, a Polícia Federal, o 5º
Batalhão de Infantaria da Selva, a Igreja
Católica e a Fundação Nacional
do Índio (Funai), o encontro colocou em debate
quatro temas tidos como estratégicos para
a organização de um sistema de educação
adequado aos interesses dos povos indígenas
– políticas lingüísticas, projetos
políticos pedagógicos (ou orientações
curriculares como denominam os países vizinhos),
o uso dos conhecimentos tradicionais no espaço
da escola e a implementação dessas
concepções pelas políticas
públicas.
No dia 5 de fevereiro, quando o evento foi encerrado,
cerca de 50 pessoas entre professores indígenas,
diretores de associações de escolas
indígenas, lideranças, falantes de
diversas línguas, puderam relatar e ouvir
experiências inovadoras das escolas Baniwa
e Coripaco (no Alto Rio Içana/Brasil), Tuyuka
(no Alto Rio Tiquié/Brasil), Tukano (no Médio
Rio Tiquié/Brasil), Wanano (no Alto Rio Uaupés/Brasil),
Tariano (no Alto Rio Uaupés); do povo Yekuana
da Venezuela, do setor de educação
da organização indígena ORPIA
(Organização
dos Povos Indígenas do Amazonas) da Venezuela,
dos Curripaco e Nheengatu/Baré da Colômbia
e Venezuela.
Valorização
da língua, da cultura e da identidade
Nos relatos e discussões,
as preocupações eram a valorização
da língua, da cultura tradicional e da identidade
de cada povo e, para esses fins, eram discutidas
a criação e experimentação
de instrumentos pedagógicos. A atenção
com os jovens e as crianças permeou todo
o encontro e era freqüente a referência
aos velhos e aos mestres como guardiães das
histórias e das “artes ligadas à vida”,
nas palavras do professor Irineu Rodrigues Baniwa.
Nos intervalos, alguns falavam do tempo em que eram
castigados nas escolas ou reprimidos por falarem
sua própria língua em público.
Outro ponto relevante foi a discussão sobre
as dificuldades face às leis e às
autoridades não-indígenas ligadas
às agências governamentais – distância
entre as leis e sua implementação;
entre as declarações das autoridades
e a efetividade das medidas por eles tomadas. Palavras
que são “letras mortas”, como define o professor
Higino Tenório Tuyuka, referindo-se ao descompasso
entre o que ouve dos representantes dos poderes
públicos e o que vê aplicado em sua
comunidade.
Finalmente, os participantes enfrentaram a questão
delicada das dificuldades encontradas nas próprias
comunidades – face ao conflito entre uma orientação
mais voltada para a absorção pura
e simples da cultura dos brancos e uma orientação
mais respeitosa com relação às
raízes de sua própria tradição.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Neide Esterci