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EMPOSSADA
NOVA SECRETÁRIA-GERAL DA ORGANIZAÇÃO
DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA
(OTCA)
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Maio de 2004
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Com mandato de três
anos, renovável, a equatoriana Rosalía
Arteaga, assume a partir da quarta-feira (5/5) o
desafio de fazer do Tratado de Cooperação
Amazônico, que em julho deste ano completa
26 anos, um instrumento efetivo para o desenvolvimento
sustentável e integrado dos oito países
membros, começando pela aprovação
do plano estratégico da organização
e abertura à participação da
sociedade civil.
Firmado em 3 de julho de 1978 pelo Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname
e Venezuela, o Tratado de Cooperação
Amazônica foi criado a partir de uma iniciativa
do governo Geisel, parte de uma estratégia
maior de descolar a região da dependência
norte-americana. Nele, os oito países membros
se comprometeram a realizar esforços e ações
conjuntas para promover o desenvolvimento harmônico
de seus territórios amazônicos, por
meio da conservação e utilização
racional dos recursos naturais e com resultados
eqüitativos e mutuamente proveitosos.
Apenas em novembro de 2002, durante a 7ª Reunião
dos Chanceleres na Bolívia, decidiu-se criar
a Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica (OTCA) e estabelecer uma sede-permanente,
em Brasília, consolidando o processo de institucionalização
do tratado após mais de uma década
de secretarias estabelecidas temporariamente (pro-tempore)
em diversas capitais dos países membros.
Durante a construção nesses anos da
solidez institucional, foram desenvolvidos projetos
de cooperação internacional que não
tiveram continuidade, diluídas nas secretarias
temporárias, como é o caso das experiências
piloto para a construção da rede de
áreas protegidas com o apoio da União
Européia na década de 90.
No artigo Sobre as Iniciativas de Cooperação
Amazônica: Quem Constrói a Região?
[versão resumida em espanhol abaixo], o sociólogo
Vincent Brackelaire, consultor em assuntos regionais
amazônicos, expõe que com o estabelecimento
da OTCA e da secretaria-permanente, o tratado dos
países da Bacia Amazônica, que foi
um instrumento político com impacto regional
muito tímido, sai de uma situação
de pouca estabilidade, o que permitirá o
estabelecimento de programas de cooperação
mais concretos e objetivos. Segundo ele, isso dependerá,
entretanto, de um certo grau de autonomia da secretaria-permanente
em relação aos Ministérios
de Relações Exteriores dos países
membros.
Desde ontem (5/5), a sede-permanente, instalada
temporariamente no Palácio do Itamaraty em
março de 2003, conta com uma nova secretária-geral,
a equatoriana Rosalía Arteaga, eleita por
unanimidade pelos oito países membros, substituindo
o embaixador boliviano Sergio Sánchez, que
assumiu o cargo interinamente.
Com formação em Ciências Políticas
e Sociais e Jornalismo, Rosalía, autora de
livros de contos, poesia e ensaios, foi ministra
de Educação e Cultura e vice-presidente
do Equador, assumindo por dois dias a Presidência
do país em fevereiro de 1997, após
a destituição de Abdala Bucaram, sendo
substituída pelo presidente do Congresso.
Sua trajetória profissional inclui ainda
direção de programas de televisão
e assinatura de colunas de jornais.
“Sinto que a região amazônica pode
se transformar, com vontade política dos
presidentes das oito Repúblicas, no melhor
e mais idôneo espaço para a integração
dos nossos países, para a integração
da América, com base nos ideais e sonhos
de visionários na unidade sul-americana,
mas também empenhados na busca por condições
de vida mais igualitárias”, afirmou Rosália
na cerimônia de posse realizada na sede do
Palácio do Itamaraty, da qual participaram
o ministro das Relações Exteriores,
Celso Amorim, diversos parlamentares, especialmente
da bancada da Amazônia, embaixadores, entre
outros.
Em seu discurso, anunciou o início da formulação
do Programa de Gestão Integrada e Sustentável
dos Recursos Hídricos da Bacia Amazônica,
que envolverá 30 milhões de dólares.
Proposto pela Agência Nacional de Águas
(ANA) e acolhido pela OTCA, o programa conta com
700 mil dólares do Global Environment Facility
(GEF - Fundo Global para o Meio Ambiente) para sua
elaboração pelas instituições
públicas responsáveis pela gestão
dos recursos hídricos dos países membros.
Envolve a construção de uma visão
comum da gestão de recursos hídricos,
uma rede hidrometereológica, mecanismos de
avaliação e monitoramento dos ciclos
hidrológicos e da proteção
dos ecossistemas aquáticos, assim como a
participação cidadã e social
na gestão das águas.
“A Amazônia é a principal fonte de
água doce, da qual, contudo, não depende
o curso da bolsa de valores, mas o da vida. Por
isso, é fundamental que um programa amazônico
comece por preservar suas fontes de geração,
por exemplo, as neves dos Andes, que estão
desaparecendo por causa do aquecimento do planeta.”
A secretária-geral apontou a necessidade
dos países da OTCA harmonizarem suas legislações
nas diversas áreas relacionadas ao desenvolvimento
sustentável amazônico, destacando a
proteção das populações
tradicionais e suas culturas. “Pretendemos, como
diriam os amazônicos brasileiros, ‘ amazonidar
o mundo’, universalizar o conceito de ‘florestania’,
o que nos dará a sustentabilidade da própria
humanidade”, citando motes adotados respectivamente
pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e pelo
governador do Acre, Jorge Viana.
Ainda como parte da agenda urgente da organização
incluiu a elaboração de um inventário
das potencialidades econômicas da região,
a utilização dos serviços ambientais
como permuta para a dívida externa, a adoção
de iniciativas para a melhoria das condições
de saúde das populações locais
e a construção de uma rede de áreas
protegidas, projeto que será reiniciado.
A secretária-geral assume a OTCA com uma
estrutura que envolve um diretor-executivo, o antropólogo
colombiano Francisco Ruiz, um diretor-administrativo,
o ex-deputado federal acreano Marcos Afonso, e um
coordenador de Meio Ambiente, o peruano Enríque
Elías. Ainda faltam ser preenchidas as coordenadorias
de Ciência e Tecnologia, Saúde, Educação,
Transporte e Comunicação. Em entrevista
ao ISA, o diretor-executivo da OTCA informou que
a intenção é compor o quadro
diretivo com profissionais dos oito países
do tratado.
Ruiz afirmou que no primeiro ano de funcionamento
da secretaria-permanente da OTCA foi priorizado
a formulação do plano estratégico
da organização para o período
de 2004 a 2010, definido como a “carta de navegação
política”, articulada em quatro eixos temáticos
– gestão de recursos hídricos da Bacia
Amazônica, estratégia regional de biodiversidade,
aliança científica e tecnológica
e promoção de iniciativas econômicas
locais e regionais.
De acordo com o diretor-executivo, o esboço
do plano estratégico, já pronto, será
revisado pelas Comissões Nacionais Permanentes
[instâncias dos países membros encarregadas
de aplicar nacionalmente as disposições
do tratado] durante uma reunião em Brasília
nos dias 24 e 25/6, devendo em seguida ser endossado
oficialmente pelos governos.
“Apesar de tudo o que foi realizado nos países
amazônicos para seu desenvolvimento sustentável,
apesar da quantidade de projetos implementados,
a Amazônia segue fragmentada como região
e não conta com um amplo espaço de
coordenação entre seus diversos atores.
Esse pode ser o maior desafio para a OTCA e para
a construção regional que ainda falta
à Amazônia, aponta Brackelaire.
Para ele, as organizações da sociedade
civil são as que mais têm se dedicado
a construir concretamente uma visão regional
da Amazônia, descrevendo, entre outras, as
experiências da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Bacia Amazônia (Coica) e da Rede Amazônica
de Informações Socioambientais Georreferenciadas
(RAISG), que podem ajudar a OTCA a acessar informações
regionais atualizadas, conhecer e integrar experiências
locais e regionais de desenvolvimento sustentável.
“Temos convicção de que temos de criar
espaços de diálogo com setores fundamentais
na vida amazônica, como por exemplo, comunidades
indígenas, mas ainda estamos começando
a discutir como fazê-lo”, afirmou Francisco
Ruiz sobre a participação da sociedade
civil na OTCA.
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa (Cristiane Fontes)