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EXPEDIÇÃO
IMAGEM DO JAVARI: POSSUELO LAMENTA INTERRUPÇÃO
DO ATENDIMENTO MÉDICO AOS ÍNDIOS
DA REGIÃO
Panorama
Ambiental
São Paulo (SP) - Brasil
Maio de 2004
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O chefe da Coordenação
de Índios Isolados da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Sydney Possuelo,
lamentou ontem, em entrevista por telefone, a interrupção
da Expedição Imagem do Javari. A expedição,
que pretendia levar atendimento médico e
diagnóstico aos índios do Vale do
Javari foi interrompida no último final de
semana por determinação da Justiça
Federal.
O Vale do Javari se localiza no sudoeste do Amazonas,
na fronteira com o Peru. Desde julho de 2001, a
Funai vem relatando à Funasa o surto de uma
doença infecto-contagiosa ainda não
identificada entre os índios da região.
A expedição, organizada por Possuelo
e pelo médico radiologista Sérgio
Brincas, pretendia examinar cerca de mil índios
não isolados das tribos Matis, Marubo, Kanamari
e Korubo.
Funasa
A juíza federal
Fabíola Bernardi argumenta que a Funasa já
desenvolve um programa de diagnóstico na
região, e que, portanto, não há
necessidade de que a expedição - sem
a coordenação do órgão
oficial de saúde - realize o mesmo trabalho.
Mas Possuelo e Brincas afirmam, justamente, ignorar
qualquer atendimento da Funasa durante todo o período
da expedição. "Não vi
nenhum atendimento médico, não vi
profissionais de saúde. Não existe
assisténcia médica no local",
disse Brincas. Segundo Possuelo: "Desde o dia
que nós subimos [o rio], até o dia
que nos descemos, não tem ninguém
da Funasa. Não tem um médico, não
tem um atendente. Eles vão dizer 'o médico
fica em Atalaia [do Norte]'. Bom, Atalaia não
é onde ficam as comunidades indígenas.
Não adianta dizer isso".
O Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja)
afirma em carta de janeiro deste ano que: "relatório
da FUNAI do ano de 1982 revela a existência
de hepatite na área indígena desde
aquela época, no entanto, até hoje
as autoridades competentes não tomaram as
providências necessárias. O que está
sendo esperado? Que morram mais índios? Quer-se
a extinção dos povos indígenas
do Vale do Javari?".
Procurada pela redação do site Amazonia.org.br,
a Funasa preferiu manifestar-se através de
nota técnica: "no que diz respeito à
situação epidemiológica do
Vale do Javari, a Fundação Nacional
de Saúde esclarece que realiza investigações
epidemiológicas sobre a incidência
de vários tipos de hepatite e outras doenças
virais na região desde 1993". A nota
afirma ainda que "o problema das hepatites
virais no Vale do Javari está sendo abordado
de modo interinstitucional, (...) estando em fase
de estruturação a rede de laboratório
com definição de fluxos e fornecimento
de kits diagnósticos". Segundo Possuelo,
a Funasa realizou há cerca de dez meses a
coleta de 260 amostras de sangue dos índios
da região. Entretanto, nenhum diagnóstico
foi ainda obtido pois a entidade aguarda até
hoje os kits diagnósticos mencionados. Em
contraposição, a expedição
realizou, em ritmo intenso de trabalho, cerca de
400 diagnósticos em cinco dias.
Índios
isolados
Uma das maiores preocupações
de Possuelo é que a epidemia da doença
ainda desconhecida atinja os índios isolados
do Vale do Javari - talvez uma das regiões
com a maior concentração de tribos
isoladas do planeta. "Se tal viesse a acontecer,
estaria configurada uma tragédia sobre a
qual sequer teríamos qualquer conhecimento",
afirma o sertanista.
Repercussão
A Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), entede que
"qualquer atividade que contribua a garantir
a continuidade histórica dos nossos povos,
a melhoria das suas condições de vida,
será sempre bem-vinda, desde que seja implementada
como o conhecimento prévio e consentimento
dos índios". A entidade acrescenta ainda
que "a demora, a falta de clareza e indecisão
do governo federal em mostrar qual é de fato
a política que, depois de 15 meses de mandato,
deve assumir para atender os problemas e as demandas
históricas dos povos indígenas em
todas as dimensões de sua vida (terra, saúde,
educação, cultura e sustentabilidade),
reflete-se em todos os âmbitos do poder público,
a nível teórico, político e
operacional".
Já o diretor-presidente da Fundação
Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas
(FEPI), Bonifácio José concorda com
a decisão da juíza e afirma que a
assistência deva partir da Funasa. "Acho
muito bem-vindo o apoio, o recurso. Mas no meu entendimento,
tem que operar via Funasa com a equipe responsável
do distrito [sanitário especial indígena]
para fazer este trabalho", afirma Bonifácio.
Jurisprudência
Para Possuelo "se
cumpriu a lei, mas não se fez Justiça.
A juíza mandou encerrar [a expedição],
nós imediatamente acatamos. Mas isso é
um perigo terrível, pois cria uma jurisprudência.
Só a Funasa pode entrar lá [na reserva
indígena] e 'fazer a saúde' - e se
ela não faz, os índios morrem lá
dentro! O que é isso? Nem o órgão
de representatividade dos povos indígenas,
que é o próprio Civaja, nem a Funai,
podem ir lá".
Fonte: Amazônia ORG (www.amazonia.org.br)
Assessoria de imprensa (Daniela Kawakami)