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AGRAVA-SE
A SITUAÇÃO NA TERRA INDÍGENA
RAPOSA SERRA DO SOL
Panorama
Ambiental
Boa Vista (RR) – Brasil
Janeiro de 2004
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Sede da Funai de
Boa Vista invadida, Conselho Indígena de
Roraima (CIR) ameaçado de invasão,
missão de Surumu destruída, três
padres feitos reféns, acessos à cidade
bloqueados. Esse é o resultado das ações
comandadas pelo agricultor e arrozeiro Paulo César
Quartieiro, desde a madrugada de hoje (06/01) em
Roraima.
Depois que o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, anunciou em 23 de dezembro que a
Terra Indígena (TI) Raposa-Serra do Sol seria
homologada em janeiro de 2004, os arrozeiros ali
instalados, acompanhados por índios que defendem
a homologação fracionada e não
contínua da TI, promoveram várias
ações intimidatórias sob o
comando do arrozeiro Paulo César Quartieiro.
Eles invadiram a sede da Funai na manhã de
hoje, expulsando os funcionários, destruíram
a missão Surumu que fica na terra indígena,
fizeram três padres de reféns e fecharam
pontes e estradas de acesso à Boa Vista.
De acordo com relatos feitos por rádio, os
padres foram espancados e estão amarrados
no centro da aldeia do Contão. Na sede da
Funai de Boa Vista, o telefone é atendido
pelos invasores que informam que o prédio
está ocupado e que os funcionários
da Funai não estão.
Na TI Raposa-Serra do Sol, com 1,6 milhão
de hectares, vivem cerca de 15 mil índios
das etnias macuxi, tauarepang, patamona, ingarikó
e wapichana, que aguardam há mais de 25 anos
a homologação da área. Leia
abaixo as notícias que o CIR divulgou no
início desta tarde.
Arrozeiros
fazem reféns três missionários
que atuam em Raposa Serra do Sol
Um grupo de arrozeiros,
fazendeiros e indígenas contrários
à homologação da área
Raposa Serra do Sol, invadiu e saqueou na madrugada
desta terça-feira, 6/1, a missão de
Surumu, que fica dentro da terra indígena
e fizeram reféns os padres Ronildo França
e César Avellaneda e o Ir. João Carlos
Martinez. Na missão funcionam escola e hospital
que atendem as aldeias da região.
A reação liderada pelos rizicultores
acontece em função da declaração
do Ministro da Justiça Márcio Thomaz
Bastos, que em 23 de dezembro de 2003, anunciou
a decisão do presidente Lula assinar o decreto
homologatório de Raposa Serra do Sol no mês
de janeiro deste ano.
Os três missionários feitos reféns
foram levados à aldeia Contão onde
os indígenas defendem as pretensões
dos rizicultores de homologação em
território fracionado da Raposa Serra do
Sol. As vias de acesso à aldeia estão
interditadas.
Indígenas da comunidade Canta Galo, localizada
a cerca de três quilômetros de Contão
informaram através de radiofonia que os missionários
foram espancados e estão amarrados no centro
na aldeia sofrendo humilhações.
Padre Antônio Fernandes, superior dos Missionários
da Consolata, congregação a qual pertence
os três religiosos, registrou ocorrência
na Polícia Federal por volta das 3h30mim
da madrugada. A delegada plantonista encaminhou
o caso para a Dra. Juliana Karleal, responsável
da PF em Roraima por assuntos fundiários
e indígenas.
A delegada comunicou os fatos e deixou de prontidão
oito agentes federais que estão na Vila de
Pacaraima, cerca de quarenta quilômetros da
Missão. Devido o pequeno efetivo da PF em
Roraima, a delegada aguarda reforço policial
de Brasília para resgatar os reféns.
Líder
dos rizicultores comanda invasão da Funai.
As 9h15mim da manhã
desta terça-feira, o líder dos arrozeiros,
Paulo César Quartieiro comandou pessoalmente
a invasão da administração
regional da Boa Vista. Quatro ônibus com aproximadamente
100 indígenas estacionaram em frente à
sede do órgão indigenista e o rizicultor
deu a ordem para invadirem o prédio.
Os servidores da Funai abandonaram a sede sem resistência.
Fora do prédio, a advogada do órgão,
Dra. Ana Paula Souto Maior, esteve cercada e vigiada
por indígenas durante uma hora a mando de
Quartieiro. Ela só liberada após a
intervenção da Polícia Militar.
O movimento dos arrozeiros bloqueou nas primeiras
horas da manhã todas as estradas de acesso
a Boa Vista. Cerca de 150 indígenas e populares
fechou a Ponte dos Macuxi que dá acesso a
três municípios e à República
da Guiana. Outro grupo tomou a Ponte do Cauamé,
na BR-174 que liga a capital do estado a vários
municípios e à Venezuela. Manifestantes
também fecharam a fronteira com a Venezuela
na cidade fronteiriça de Pacaraima.
Na cidade de Boa Vista circulam informações
de que os próximos alvos dos manifestantes
são a igreja Catedral e a sede do Conselho
Indígena de Roraima. Está anunciado
para as 17 horas o fechamento do aeroporto internacional
de Boa Vista. Cerca de 60 indígenas e funcionários
do CIR estão sob alerta na frente da sede
da organização para evitar que o prédio
seja invadido e saqueado.
O Conselho Indígena protesta contra a violência
e vandalismo praticado pelo movimento liderado pelos
rizicultores. Todos os atos praticados foram comunicados
ao presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes
e ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos.
Conselho Indígena Roraima – CIR
6 de janeiro de 2004
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
(www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa