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ENTENDA
O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA TERRA INDÍGENA
RAPOSA SERRA DO SOL, EM RORAIMA
Panorama
Ambiental
Boa Vista (RR) – Brasil
Janeiro de 2004
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Desde a madrugada
de 6 de janeiro, o conflito na Terra Indígena
Raposa-Serra do Sol recrudesceu. Rizicultores, apoiados
por uma parte dos índios que vivem na área,
desencadearam uma série de ações
intimidatórias que incluíram a invasão
da sede da Funai em Boa Vista, a destruição
da missão Surumu, três padres presos
e feitos reféns e o bloqueio das estradas
que dão acesso à capital do Estado.
As ações são uma resposta ao
ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, que em 23 de dezembro anunciou que o governo
federal homologaria aquela terra indígena
em janeiro de 2004.
Essa é uma pendência antiga. Há
mais de 20 anos, a maior parte dos índios
de Roraima luta pela homologação da
Raposa-Serra do Sol em área contínua
(1,67 milhão de hectares), e não em
ilhas, como querem os agricultores que invadiram
as terras na década de 90 e que atualmente
contam com o apoio de uma parte dos povos indígenas
que ali habitam. Além disso, a existência
do município de Uiramutã, criado em
1996, e cuja sede está na terra indígena
é outro entrave no caminho da homologação.
A homologação em área contínua,
determinada pela Portaria 820, de 1998, é
a última etapa – a da assinatura pelo presidente
da República – de um processo que começa
com estudos de identificação e delimitação
do território que será declarado,
demarcado, homologado e registrado. A Raposa- Serra
do Sol, última grande Terra Indígena
da Amazônia que aguarda reconhecimento, está
pronta para ser homologada desde a edição
da Portaria 820/98. Com a homologação
os invasores têm de ser retirados.
Por isso, eles querem a homologação
fracionada. Ou seja, que sejam excluídas
da Terra Indígena as áreas produtivas,
as estradas, as vilas, as sedes municipais (existe
um município no meio da Raposa-Serra do Sol)
e as áreas de expansão. Todo este
território, somado, representa uma extensão
de 600 mil hectares.
Onde fica
A Terra Indigena
Raposa-Serra do Sol fica a noroeste de Roraima,
na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Possui
1,67 milhão de hectares e é habitada
por aproximadamente 15 mil índios das etnias
Macuxi, Tauarepang, Patamona, Ingarikó e
Wapixana, que ocupam 152 aldeias.
O Estado de Roraima tem 32 terras indígenas,
o que corresponde a 46% do território estadual
e uma população estimada de 40 mil
índios, uma das maiores populações
indígenas do Brasil.
Veja abaixo a cronologia dessa história,
com todas as idas e vindas da demarcação
da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol.
Processo
de reconhecimento oficial da TI Raposa-Serra do
Sol
1917
- Governo do Amazonas edita a Lei Estadual nº
941, destinando as terras compreendidas entre os
rios Surumu e Cotingo para a ocupação
e usufrutos dos índios Macuxi e Jaricuna.
1919 - Serviço de Proteção
ao Índio (SPI) inicia a demarcação
física da área, que estava sendo invadida
por fazendeiros. O trabalho, entretanto, não
é finalizado.
1977 - Presidência da Fundação
Nacional do Índio (Funai) institui um Grupo
de Trabalho (GT) Interministerial para identificar
os limites da Terra Indígena, que não
apresenta relatório conclusivo de seus trabalhos.
1979 - Novo GT é formado.
Sem estudos antropológicos e historiográficos,
propõe uma demarcação provisória
de 1,34 milhão de hectares.
1984 - Mais um Grupo de Trabalho
é instituído para identificação
e levantamento fundiário da área.
Cinco áreas contíguas, Xununuetamu,
Surumu, Raposa, Maturuca e Serra do Sol, são
identificadas, totalizando 1,57 milhão de
hectares.
1988 - Outro GT Interministerial
realiza levantamento fundiário e cartorial
sem chegar a qualquer conclusão sobre o conjunto
da área.
1992/1993 - Funai decide reestudar
a área, formando pela última vez novos
Grupos de Trabalho.
1993 - Parecer dos GTs, em caráter
conclusivo, é publicado no Diário
Oficial da União no dia 21 de maio, propondo
ao Ministério da Justiça o reconhecimento
da extensão contínua de 1,67 milhão
de hectares.
1996 - O presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, assina em janeiro o Decreto
1.775, que introduz o princípio do contraditório
no processo de reconhecimento de Tis, permitindo
a contestação por parte dos atingidos.
1996 - São apresentadas
46 contestações administrativas contra
a TI Raposa Serra do Sol por ocupantes não-índios
e pelo governo de Roraima.
1996 – O então ministro
da Justiça, Nelson Jobim, assina o Despacho
80, rejeitando os pedidos de contestação
apresentados à Funai, mas propondo uma redução
de cerca de 300 mil hectares da área, com
a exclusão de vilarejos que serviram como
antigas bases de apoio à garimpagem, estradas
e fazendas tituladas pelo Incra, que representa
a divisão da área em cinco partes.
1998 - O ministro da Justiça,
Renan Calheiros, assina o Despacho 050/98, que revogou
o Despacho 080/96, e a Portaria 820/98, que declara
a TI Raposa Serra do Sol posse permanente dos povos
indígenas.
1999 - Governo de Roraima impetra
mandado de segurança no Superior Tribunal
de Justiça (STJ), com pedido de anulação
da Portaria 820/98.
1999 - Concedida liminar parcial
ao mandado de segurança do governo de Roraima.
2002 - STJ nega pedido do Mandado
de Segurança 6210/99, impetrado pelo governador
de Roraima e que solicitava a anulação
da Portaria 820/98.
Os invasores
A agricultura não
é uma atividade expressiva para a economia
roraimense, mas o plantio de arroz é um grande
entrave à homologação em áreas
contínuas. A rizicultura ganhou escala em
meados da década de 90 e representa hoje
40% da produção agrícola do
Estado (ou 84,3 mil toneladas).
Sete rizicultores ocupam uma área de 18 mil
hectares e não se mostram dispostos a negociar
sua saída. Segundo dados da Funai, são
67 ocupantes ilegais nas áreas rurais e 700
nas quatro vilas de Uiramutã, Água
Fria, Socó e Mutum, antigas bases de garimpos.
Fonte: ISA – Instituto
Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa