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MANIFESTAÇÕES
CONTRA A HOMOLOGAÇÃO TERRA
INDÍGENA RAPOSA SERRA DO SOL
Panorama
Ambiental
Boa Vista (RR) – Brasil
Janeiro de 2004
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Roraima,
de novo
Os jornais publicaram com destaque, ao longo da
semana, as manifestações que ocorrem
em Boa Vista contra a homologação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. De
tempos em tempos, quando o governo federal sinaliza
a adoção de alguma providência
quanto à homologação desta
área, os mesmos grupos locais se mobilizam.
No tratamento episódico e superficial que
a mídia dá a estes conflitos – na
verdade, Raposa-Serra do Sol é um caso crônico
– pode-se ter a impressão de que algo de
novo está acontecendo.
De novo, mesmo, é
o recente episódio das prisões ocorridas
às dezenas em Roraima em conseqüência
da operação “Praga do Egito”, que
levou o estado às primeiras páginas
dos jornais em dezembro. O escândalo dos gafanhotos,
como ficou conhecido, consistia em usar funcionários
fantasmas para desviar recursos da folha de pagamento
do estado.
O conflito atual aparece como uma espécie
de “resgate” da visibilidade alcançada. E
traz, sim, uma novidade. Desta vez, o governo mais
do que sinalizou. Em novembro passado, durante a
abertura da Conferência Nacional do Meio Ambiente,
o Presidente Lula afirmou, que a Raposa-Serra do
Sol seria homologada na sua extensão integral,
e que seriam adotadas providências concomitantes
para indenizar ou reassentar os ocupantes não-índios
que permanecem na área. Nesse rumo, o ministro
da Justiça, Márcio Thomas Bastos,
anunciou em dezembro que o decreto homologatório
seria assinado em janeiro.
No mais, a história se repete: alguns fazendeiros
que plantam arroz ilegalmente nas várzeas
dos rios Cotingo e Tacutu na Terra Indígena,
e que sequer vivem nela, mobilizam a mídia
local, aliados ao comércio e até a
representantes indígenas, para promoverem
manifestações em contrário.
Estes representantes indígenas, que ora aparecem
na mídia como sendo a vanguarda das manifestações,
são os que há anos vêm acumulando
relações de dependência com
grupos políticos e econômicos locais
e vivem de salários em Boa Vista.
Organizações indígenas como
a Coiab e indigenistas como a CCPY lançaram
manifestos e notas ressaltando às autoridades
sua preocupação com o agravamento
da situação na Raposa-Serra do Sol.
Também se repetem na mídia números
absurdos que parecem indicar que a homologação
implicaria em enormes alterações em
relação à situação
de fato. Fala-se, por exemplo, em “cidades dentro
da área”. Ora, a identificação
das terras concluída em 1993 excluiu a sede
do município de Normandia que já existia.
O município de Uiramutã, que não
representa mais do que um punhado de casas, parte
das quais habitada por famílias indígenas,
só tem a sua sede na área porque foi
criado em 1996, após a identificação
da terra indígena, com o deliberado objetivo
de obstaculizar a própria demarcação.
Os levantamentos atuais indicam que há pouco
mais de uma centena de famílias não-indígenas
a serem indenizadas ou reassentadas em função
da homologação.
Outra balela que vem sendo repetida à exaustão
é que a demarcação inviabiliza
o estado de Roraima. Não é verdade
por vários motivos. Primeiro, porque a quase
totalidade do rebanho bovino e da produção
agrícola existente na área, deprimida
pela situação de conflito, está
hoje nas mãos dos próprios índios.
Segundo, porque a área dinâmica do
agronegócio em Roraima está no sul
do estado, no eixo da rodovia Perimentral Norte,
e não na parte do lavrado abrangida por Raposa-Serra
do Sol. Terceiro, porque resolvido este caso, 46%
do estado estará nas mãos da população
indígena, que representa cerca de metade
da população rural de Roraima. A metade
restante, mesmo subtraindo-se dela as áreas
de proteção ambiental, equivale à
extensão total do estado de Pernambuco, que
abriga população muitas vezes maior
que a de Roraima. Quarto, porque o que tem retardado
o desenvolvimento local é o uso corrupto
dos recursos públicos que deveriam fomentá-lo,
como bem o comprova o recente episódio dos
“gafanhotos”, que se soma a muitos outros casos
de desvio de finalidade, inclusive envolvendo o
repasse de recursos federais. Como se vê,
“gafanhoto”, além do orçamento público,
também come Terra Indígena.
Finalmente, a obrigação constitucional
da União em demarcar as Terras Indígenas
não deve mais ser protelada. É a indefinição,
que se arrasta há dez anos, que acaba dando
espaço para a proliferação
– e repetição - dos conflitos. O Presidente
Lula deve homologar imediatamente a Terra Indígena
Raposa- Serra do Sol, fazendo acompanhar esta providência
dos atos de governo que contemplem os interesses
legítimos de não-índios que
estejam nela desde antes da sua identificação,
por força de políticas anteriores
de estado, e que, portanto, sejam considerados ocupantes
de boa fé. Já os que se instalaram
depois da identificação, em 1993,
são considerados ocupantes de má-fé.
Fonte: ISA – Instituto
Socioambiental (www.socioambiental.org.br)
Assessoria de imprensa